Dengue Ville – aplicativo social para o combate ao mosquito da dengue

Discutimos nessa semana no GITS-UFBA o meu projeto de mestrado. Uma das críticas à redação do projeto foi que a perspectiva era muito mercadológica, como se as possibilidades do formato só possibilissem usos para a comunicação comercial. Mas no Facebook, entre os aplicativos mais famosos, o Causes já é um exemplo de utilização do formato para mobilização social. Apesar das apropriações (interessantes apropriações) do aplicativo social para questões relacionadas à cultura pop, jogos e outros aplicativos, as causas mais populares se referem a insituições de amparo social.

No Orkut não havia encontrado nenhum aplicativo dessa temática de sucesso, apesar do “semelhante” Apóio essa Causa da Mentez.  Entretanto, fFinalmente conheci um aplicativo para Orkut desenvolvido para um governo estadual. O Dengue Ville foi produzido pela Lápis Raro + Dito Internet para o Governo de Minas Gerais. O título faz referência ao aplicativo social mais famoso do mundo, o Farmville, mas com um objetivo mais “nobre”: gerar consciência sobre o combate a dengue.

É possível jogar em uma interface que simula uma cidade, aonde o jogador deve procurar por focos de dengue. O aplicativo possui uma estrutura bem típica do formato. Pode-se convidar amigos, ver e participar do ranking geral, assim como ver o ranking na rede de conexões do usuário.  Cada ação realizada ou feito alcançado, é claro, pode ser publicado nas “Atualizações de Amigos”. No topo um banner com o alerta e telefone para contato (curiosamente, não traz linkagem para um site institucional). Algumas telas:

dengue ville casa

Dengue Ville - troca de água

O gerenciador da comunidade é um personagem chamado El Matador da Dengue mas que, infelizmente, não está participando ativamente do fórum.

Esforço como indicador de valor do laço social

A discussão de quais valores devem ser medidos em perfis, ações e estratégias em mídias sociais continua forte. Métricas de alcance pra lá, métricas de qualidade pra cá, uso de métricas de meios analógicos pra acolá e o debate continua. Em discussão fomentada pela @missmoura através do Google Wave, disse aos interlocutores que acho que as métricas devem ser avançadas, delimitadas e, sobretudo, com terminologias mais específicas e aceitas por todos os profissionais em consenso. Mas não acho que todas campanhas, sites, perfis devem utilizar os mesmos indicadores. Acredito que o melhor é que, para cada grupo de objetivos, sejam definidos previamente quais indicadores serão utilizados para avaliar os resultados. Ou seja, usar de inteligência analítica caso a caso.

Em se tratando especificamente de mídias sociais, é preciso levar em conta que tudo está envolvendo, de uma forma ou de outra, relações sociais. Perfis de empresas nas redes também são tomados como atores, nós, nas redes sociais. Especialmente porque, na maioria dos casos, possuem à sua disposição o mesmo potencial das ferramentas dadas.

Relações sociais, esforço e reciprocidade – Pensemos em uma relação social “simples”, em um ambiente de trabalho. Além das atividades cotidianas entre os colegas, as dinâmicas sociais que representam intimidade, reciprocidade e admiração entre os atores podem ser percebidas através de alguns indicadores sutis. Por exemplo, se o tal colega pede ajuda a outro, o esforço que este vai despender nesta ajuda é sinal do grau de força do laço social. Se é um colega pelo qual se tem consideração ou apreço, o esforço dedicado será maior.

Para citar uma situação mais informal, imagine o clichê “amigo secreto”. A customização do presente, a sofisticação do texto do cartão que o acompanha e a personalização do discurso indicam um esforço de tempo ou de cognição. Se o esforço é considerável, provavelmente o laço social é mais estreito. Os seres humanos, em geral, tendem a lei do mínimo esforço. Pensar ações sociais e sua mensuração a partir desta premissa pode ajudar.

Esforço, mídias sociais e conexões em rede – Uma das características das mídias sociais é a exibição das redes de conexões entre os perfis das pessoas e instituições. Na maioria dos casos, o estabelecimento destas conexões significa que alguém é “Amigo”, “Friend” destas outras pessoas. Porém, criar uma conexão simples em uma mídia social é algo tão fácil quanto o apertar do botão do mouse.

Vejamos a comparação, por exemplo, entre um perfil corporativo no Orkut e no Twitter. Em ambos os casos, a simples coleção de conexões (quantidade de amigos ou seguidores) é o indicador mais utilizado para avaliar se a gestão do perfil está sendo efetiva. Mas aceitar uma solicitação de amigo ou retribuir um Follow pode significar apenas o apertar de um botão. Por outro lado, pense para o Orkut: a adição espontânea do perfil;  a participação em um tópico da comunidade. Para o Twitter, a adição do perfil em uma lista pode significar, além da ação de adição, um valor específico ligado ao título e descrição da lista.

Em resumo, é possível utilizar o indicador “esforço” em diversas tarefas relacionadas à mídias sociais. Seja pra entender melhor as métricas ou para avaliar que hubs e atores devem ser privilegiados no dia-a-dia da comunicação de uma empresa.

Seis motivos para fazer monitoramento de marcas na internet

[Texto meu, originalmente publicado na Casa do Galo]

6 motivos para monitorar marcas na internet

Dois pontos são chave para entender a importância do monitoramento. O primeiro tem a ver com a visibilidade e permanência das informações postadas em sites, blogs e mídias sociais em geral. O conteúdo postado pode ser facilmente encontrado e tende a ficar disponível por tempo indeterminado. O segundo ponto-chave, especialmente no caso de mídias sociais, é a naturalidade e tranqüilidade com que as pessoas falam de seu cotidiano, incluindo dos produtos e marcas com que interage. Dessa forma, o monitoramento de marcas pode ser muito mais efetivo do que a maioria dos métodos de pesquisa de mercado, que coloca o entrevistado em uma situação anormal e, por vezes, constrangedora.

Entretanto, quando ouço sobre monitoramento invariavelmente se fala apenas de “responder”, permitir “respostas rápidas”. Entendo que monitoramento é muito mais que isso, então fiz um exercício de listar e descrever seis benefícios de seu uso.

1) Responder

Responder, e rapidamente, é o ponto mais estabelecido no que se refere a monitoramento. Falaram do seu cliente nas mídias sociais? A resposta pode vir no mesmo momento, se o serviço de monitoramento estiver entrelaçado a relacionamento e produção de conteúdo digital. No caso de empresas com grandes problemas operacionais, como empresas do ramo telefônico, que são muito criticadas, isso seria algo muito positivo se utilizado efetivamente. Mas o que acontece na maioria dos casos, infelizmente, ainda é o uso dos perfis em mídias sociais como broadcasting. É só ver os perfis da Claro ou TIM no Twitter. Nada de replies. Zero.

2) Aprender

Aprender sobre o público-alvo é interessantíssimo. Digamos que você represente, sei lá, um café em um bairro de São Paulo. Além de citações à marca do café, de seus símbolos e de seus produtos, é possível monitorar clientes e possíveis clientes que nunca falaram sobre sua marca? Como? Se você é um café que está na Rua Boa Vista, por exemplo, porque não aprender sobre o bairro? Afinal, todo mundo que mora, trabalha ou passa por lá é um possível cliente.

Com o monitoramento de termos relacionados àquela rua, por exemplo, é possível aprender sobre os comportamentos dessas pessoas no que tange à área em que o estabelecimento está situado. Um morador reclama que não tem um lugar bom pra tomar café da manhã? Outro diz que a estação de metrô mais próxima é a pior da cidade? Aí estão oportunidades e ameaças para os negócios.

3) Inovar

Utilizar monitoramento é, por si só, inovação para algumas mentalidades. Mas ter um monitoramento bom pode servir de insumos para diversos tipos de inovações. O mais palpável é inovação em produtos e serviços. Quando os usuários apontam falhas no que você ou seu cliente oferece, exaltam características do concorrente ou, ainda, sonham com algo que não existe, o espaço para inovar está aberto.

Desenvolver e apresentar um novo produto, serviço ou posicionamento de marca pode ser mais eficaz e seguro quando você conhece muito bem o que os consumidores querem. Sabe aquela frase que qualquer marca quer ouvir (“A marca fulana fez isso pensando em mim!”)? Torna-se cada vez mais verdade.

4) Localizar

Localizar os chamados “advogados de marca” (não gosto desse termo, mas é muito utilizado), hubs e influenciadores de opinião é algo facilitadíssimo pelo monitoramento. No atual estágio (e nos futuros também) da internet, cada pessoa tem um potencial único de produção e comunicação muito importante que, em alguns casos, superam o de grandes empresas. O monitoramento permite localizar pessoas que possam “trabalhar para a marca” em troca de algo. Reputação, status, popularidade, dinheiro ou, simplesmente, pelo prazer de interagir com algo importante em sua vida. A partir disso, as equipes de comunicação da empresa ou as agências de propaganda podem ver qual a melhor estratégia para manter, melhorar ou mudar o que estas pessoas falam sobre suas marcas.

5) Otimizar

O quinto motivo é o que permite aperfeiçoar custos e retornos de campanhas. Monitorar conversações entre as pessoas permite saber onde elas vão na web, com quem elas falam, quem elas lêem, o que elas ouvem, como elas falam etc etc etc. Isso permite que custos de mídia otimizados, mais precisos, quando associados a dados de web analytics. Tanto para a internet quanto para outras mídias, monitorar significa também conhecer os tipos de estilo, discursos e referências que o público-alvo quer consumir. Dessa forma, relatórios analíticos a partir de monitoramento pode até dar insumos de estratégia criativa para redatores de TV, por exemplo.

6) Avaliar

Campanhas digitais podem ser avaliadas em relação ao aumento ou diminuição do engajamento dos públicos. Se uma empresa tem uma política de monitoramento constante, a cada nova campanha, conteúdo e produto lançado os fluxos, valores e sentimentos podem ser avaliados novamente. Dessa forma, cada passo que a empresa ou agência der (passos esses que já devem ser embasados pelo monitoramento), podem ser melhor avaliados também.

Mercado de aplicativos sociais no Orkut é influenciado pelo Facebook

Na verdade, o próprio OpenSocial foi uma iniciativa do Google, MySpace e outras detentoras de sites de redes sociais para concorrer com o Facebook. No Brasil, os aplicativos sociais obtiveram bastante sucesso desde seu lançamento em julho de 2008 através de aplicativos como BuddyPoke, Vou Não Vou, Minha Música, Mosaico de Amigos e as (literalmente) centenas de aplicativos sobre times de futebol.

Atualmente, com o crescimento do Facebook no Brasil, que se deve em boa parte aos jogos sociais (lembrem: uma categoria de aplicativos sociais), os aplicativos e as demandas e ofertas por aplicativos sociais no Orkut estão sendo influenciadas. Nos últimos dois meses surgiram e se popularizaram diversos jogos sociais dos mesmos gêneros e estilos dos jogos sociais do Facebook, especialmente os da Zynga (empresa que produz Farmville e Mafia Wars, por exemplo).

orkut - Colheita Feliz

FarmVille no Facebook

A Zynga é conhecida também por já ter recebido diversos processos por plágio. Os principais e famosos jogos que ela detêm são, de fato, fortemente inspirados em outros já existentes. Mas o diferencial do apuro técnico e investimento em mídia fez os jogos da Zynga conseguirem mais sucesso do que seus “inspiradores”.

No Orkut, o jogo Colheita Feliz, por exemplo, já ultrapassou 12 milhões de instalações. Isso significa que, aproximadamente, mais de 5 milhões de brasileiros utilizam este jogo social, bem mais que os cerca de 700 mil usuários brasileiros de Farmville. Essa replicação de modelos prontos chega a ser escancarada. Vejam os prints do Joga Craque, da brasileira Vostu e do Mafia Wars:

Mafia Wars no Facebook

orkut - Joga Craque

Neste caso específico, é interessante observar como uma simples e, eu diria, não-sofisticada adaptação de uma estrutura de jogo ganhou um sucesso enorme (atualmente são 3,2 milhões de usuários) devido a uma particularidade cultural do principal público do Orkut. Resta saber se essa influência dos jogos sociais do Facebook vai gerar uma homogeinização entre a oferta de aplicativos sociais dos dois sites de redes sociais.

12 livros para o profissional de mídias sociais ler em 2010 – parte 1

Nos últimos anos, o que não faltou foram livros caça-níquel, aproveitando a disseminação das mídias sociais. Autores que transbordam de pretensão e carecem de senso do ridículo, lançaram publicações com palavras como “bíblia”, “guia definitivo”, “tudo” nos títulos. Infelizmente, muitos desses viraram best-sellers, sendo mais um desserviço para o mercado do que qualquer coisa.

Mídias sociais são tecnologias que permitem que usuários comuns produzam, publiquem, armazenem, disseminem, editem e categorizem conteúdos expressivos, pessoais, culturais etc. Estes usuários comuns são ligados entre si através destas tecnologias em redes sociais, nas quais as  dinâmicas das conexões e fluxos são decisivas para a comunicação.

Ser um bom profissional em mídias sociais, então, requer conhecimentos em informática, psicologia, matemática e, sobretudo, comunicação social. Pensando nisso, e pra evitar que você compre alguma dessas “bíblias”, fiz uma listinha de 12 livros para o profissional de mídias sociais. A ideia é que você possa ler um em cada mês do ano vindouro. Alguns são tomos, outros são menores, mas o número de 12 é um bom modo de organizar. Serão 4 posts, cada um com 3 indicações de livros.

Neste primeiro post, 3 livros disponíveis completos para download:

planeta web 2.0Planeta WEB 2.0. Lançado em 2007 por Cristobal Cobo Romaní e Hugo Pardo Kuklinski, o livro discute o conceito de web 2.0.

Trata de sites de redes sociais, inteligência coletiva, ensino e aprendizagem colaborativa etc. Um dos capítulos se propões a ser um mapa de aplicações 2.0 e trata de definir e trazer exemplos dos 4 pilares da web 2.0: sites de redes sociais; conteúdo gerado pelo usuário; organização social e inteligente da informação; aplicações, serviços e mashups. O livro pode ser baixado em www.planetaweb2.net

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redes sociais na internet - raquel recueroRedes Sociais na Internet (Raquel Recuero) – O livro foi lançado em 2009 pela pesquisadora Raquel Recuero, referência na área. Publicado com o apoio da Cubo.CC, está disponível para download gratuito em www.redessociais.net.

Na primeira metade do livro, Recuero investiga e define elementos, topologias e dinâmicas das redes sociais. Na segunda parte, os sites de redes sociais são tomados para a investigação dos tipos de sites de redes sociais, como se dá a difusão de informações nestes sites e a criação de comunidades. A autora fecha o livro com considerações sobre os principais sites de redes sociais, como Orkut, Fotolog, Flickr, Facebook etc.

Cultura de RedeOlhares da Rede, organizado por Claudia Castelo Branco e Luciano Matsuzaki. É produzido pelo Grupo de Pesquisa: Comunicação, Tecnologia e Cultura da Rede, da Faculdade Casper Líbero.

Com apresentação escrita por Sérgio Amadeu, um dos coordenadores do grupo, o livro discute a  obra, investigações e conceitos de Yochai Benkler, Manuel Castells, Henry Jenkins, Lawrence Lessig e Douglas Rushkof, que estão entre os pensadores mais importantes da  pesquisa contemporânea sobre cibercultura e redes digitais. Pode ser baixado em www.culturaderede.com.br