A revista Comunicando é produção dos alunos da disciplina Projeto Experimental IV – Produção Gráfica, do curso de Relações Públicas da Universidade de Caxias do Sul. O número que tenho em mãos, o 49, que foi produzido no primeiro semestre desse ano tem uma capa bonitinha, apesar de parecer ser feita toda de dingbats.
Dentro, as editorias são divididas e nomeadas de um jeito convencional demais, por ser temática “As Sete Artes na Serra Gaúcha”: Arquitetura, Artes Plásticas, Música, Dança, Literatura, Teatro e Cinema. Além da tipografia insossa sem personalidade, as páginas repetem a mesma diagramação fast food. Mas nem chega a McDonalds, é no máximo um Habib’s. Toda dupla que abre as matérias é uma página com título e texto, e outra uma imagem sangrando. Mas nem posso criticar as matérias e falar de alguma aluna mais espertinha. Os textos não são assinados! O nome dos envolvidos só aparece na editorial, sem discriminação de que repórter é responsável por qual texto.
Estranho, bem estranho. Sequer sei se essa anonimidade foi intencional. Talvez sumiu quando a diagramadora fechou o arquivo? O único texto assinado é da escritora Heloisa Carla Coin Bacichette, sobre poesia. É do tipo prescritivo. Com o título “porque ler poesia”, incentiva o leitor da revista. Cada editoria é aberta com um pequeno texto sobre a arte em questão, ora ensaístico, ora quase jornalístico, como o de Literatura. O índice só indica as editorias, sem listar os textos internos.
A falta de expressão gráfica nas matérias confunde. Depois de um pequeno texto sobre a Oficina Literária do Presídio Industrial de Caxias do Sul, a página seguinto é uma entrevista (essa mais longa, ao menos) com o professor José Clemente Pozenato. Como a matéria anterior foi diagramada sem expressão e sem nenhum signo de fechamento do texto, parece que é uma única grande reportagem de início.
Além dos problemas no texto e na diagramação, a grande maioria das fotografias são de divulgação. Aparentemente falta integração com os outros cursos. O departamento também conta com Fotografia, Jornalismo e Publicidade. Esperava mais de uma publicação no seu nono ano.
A Dmag é uma revista criada pela agência interativa baiana Digiartes e distruibuída em .pdf. O diferencial é o tipo de conteúdo: além de fotografia, temos blogs e artes digitais como webdesign. Teve dois números, lançados em novembro de 2007 e janeiro de 2008. Dentre os artistas expostos, gostei particularmente de Israel Rivera.
O uso de infográficos nos vinte primeiros números da revista Muito foi disperso. Dez infográficos foram encontrados. Em uma divisão arcaica, organizei-os em: mapas e trajetórias; quantidade e dimensões; processos e procedimentos.
Quantidade e dimensões
É o tipo mais “simples” de infográfico, o que tenta mostrar visualmente relações quantitativas, tornando-as mais interessantes. As duas imagens em seguida são do 6° e do 13° números. Gráficos de bola não são dos mais exatos porque a relação espacial não é tão fácil de ser apreendida. A terceira imagem, do 4° número, é o melhor desse tipo. Bonito e claro, mostra o total de quilômetros que várias cidades latino-americanas possuem de ciclovias.
Mapas e trajetórias No primeiro número, um mapinha bem simpleszinho, bobo, quase dispensável. Foi feito na matéria sobre o Sto. Antônio Além do Carmo e seus imóveis de luxo. As duas imagens em seguida também são do quarto número da revista, uma aberração entre seus pares, de tão bem realizado visualmente (exceto o ensaio fotográfico, o pior de todos). O infográfico sobre o deslocamento pela cidade em bicileta, carro ou ônibus é criativo, informativo e bem realizado. A outra imagem é da matéria seguinte, sobre um baiano que pedalou de Salvador até Nova York. Como a viagem aconteceu de 1927 a 1929, o mapa é estilizado com aspeco quase oitocentista. As duas matérias preparam o leitor para a dupla de “consumo” (se é que a revista toda já não é) com materiais esportivos.
A quarta imagem é do 9° número da revista. O texto sobre o navegador Aleixo Belov tinha de mostrar sua volta ao mundo, é claro. O desenho do barco vem logo abaixo. Simples mas interessante.
Processos e procedimentos As diversas etapas de um acontecimento, no caso da Muito todos ligados às ciências naturais de certa forma. Na Muito 11, a entrevista com um pesquisador mostra a utilização de células troncas com fins terapêuticos. No Muito 15, também em entrevista com um pesquisador, um pneumologista, o infográfico representa a duração das diversas etapas do sono, mas as etapas em si são totalmente explicadas por texto.
No oitavo número a Muito publicou a dupla abaixo, ensinando com texto, fotografias e gráficos com ocultivar ervas e montar uma floreira. Deve muito na integração dos materiais informativos, mas não deixa de ser interessante.
Lançado em novembro de 2007, o quinto número da revista Fraude renovou praticamente todo o seu quadro de repórteres e designers. E, desta vez, podem ser chamados de repórteres de fato. Os textos deixaram de ser ensaísticos para serem jornalísticos e bem apurados. Também ao evoluindo em relação aos dois últimos números, a revista volta a ter muitas páginas dedicadas a Salvador.
“Cada caso é um caso” trata do abre-e-fecha das casas de show em Salvador. “Quem crer e for batizado será salvo” é um passeio pelo bairro do Bonfim. “Memórias em Série”, de Valéria Vilas Bôas, é um perfil do colecionador Humberto Miranda. O jornalista e ator Gabriel Camões escreve sobre as comédias e tragédias de quem quer ser ator em “Fábrica de Sonhos”. “Espera a chuva passar” é uma pequena crônica da repórter e moradora da residência universitária da UFBA.
Saindo do perímetro estrito da capital baiana, “O Preço da Cultura” discute a dinâmica do fomento cultura no Brasil. “Pouco se cria, muito se copia”, de Nina Santos, discorre sobre pirataria de moda. “Blogs, gays e capital político”, de João Barreto e Tanara Régis, mapeam o ciberativismo glbtt. A minha matéria trata do tardio reconhecimento dos videogames como forma de arte. A entrevista da edição é com ninguém menos que Armand Mattelart.
Esse número promoveu mais uma repaginada no projeto editorial e gráfico. Quanto ao primeiro, a divisão em editorias de reportagem se deu em: Cotidiano, Economia da Cultura e Ciber, com nomes auto-explicativos. Ainda traz mais duas seções. Preliminares são pequenos textos. E Imaginando é a seção de artes visuais. Neste número convidamos os fotógrafos do LabfotoFabíola Freire, Mayla Pita e Wendell Wagner para repensar a fábula Chapeuzinho Vermelho. E pra fechar a revista, charge de Rodrigo Minêu.
Tive a oportunidade de dirigir a equipe de arte nesse número. Na capa tentamos manter o conceito Fraude mixando o cartaz do filme de Jonathan Dayton e Valerie Faris, Little Miss Sunshine, com personagens e objetos relacionados às matérias. No miolo, demos atenção à diagramação sequencial de algumas matérias. Na matéria sobre TV Pública e na matéria sobre ciberativismo fizemos uma transição de página direita para a página par seguinte, como se a folha se dobrasse sobre si mesma.
Na matéria “Pouco se cria, muito se copia” fiz algo mais sutil (ou imperceptível quando falho), uma transição do tipo transformação. Na página 13 pus anotações como “post-its” sobre a imagem recortada de uma modelo desfilando. Na páginas 15, pus a mesma imagem, mesmo tamanho e posição, mas com edição e aplicação de filtros para parecer uma fotocópia. E no lugar das inscrições dos “post-its” as palavras “ok” ou “mudar cor”. Pretendia-se que: 1) o estilo da imagem dá a sensação de cópia; 2) estar exatamente na mesma posição remetesse a papel carbono; 3) os post-its e a troca do texto dentro deles representassem a intencionalidade de alguém que copia.
Os textos do sexto número da revista estão prontos. Atualmente as equipes de arte (atualmente dou uma ajudinha eventual), assessoria e produção estão finalizando a revista e começando a divulgação. O lançamento está previsto para novembro, e o blog está sendo atualizado periodicamente.
O sétimo número da Revista Realidade, lançado em outubro de 1966, trouxe uma matéria sobre o palhaço Arrelia. A equipe de arte da revista, sempre primorosa, criou uma das diagramações mais fabulosas que já vi.
Com texto de Roberto Freire e fotos de Lew Parrella, as duas primeiras duplas da matéria são as seguintes. Na primeira dupla o título “Este Homem É Um Palhaço” em fonte grande e pesada é quase uma “afronta” ao homem de meia-idade, austero e numa imagem preto-e-branca com toda a formalidade de um retrato convencional.
Ao passar a página: “Este Palhaço É Um Homem”. Dessa vez a fotografia sangrando vai para a página esquerda e mostra um palhaço em cores vivas.
É a atenção a um recurso que, por falta de conceituação prévia, venho chamando de diagramação sequencial. É a utilização significativa e intencional de uma característica da revista impressa – a organização em brochura com papel de qualidade – no que se refere ao poder de criar sentidos na sequencialidade obtida pelo passar das páginas.
Nesse caso o contraste entre as duas fotografias sangrantes foi primorosa. Ao passar a página, o leitor encontra outro elemento de grande destaque com o mesmo tamanho no plano das duas páginas. Os contornos são parecidos, e o conteúdo básico é o mesmo, um homem. Isto mais o fato de que a materialidade o leitor move – a página que de direita vira esquerda, de frente vira verso -, faz o reconhecimento ser instantâneo. O contraste plástico (textura e cor) e o contraste de objeto (vestimenta e gesto) são potencializados.
E o que aconteceu entre esses dois momentos? A quarta página também usa a sequência, dessa vez dentro de um mesmo plano, para mostrar como aquele homem sério se transmuta em palhaço.
As imagens foram retiradas do livro “O Design Brasileiro: Anos 60”, organizado por Chico Homem de Melo. Já escrevi sobre um dos ensaios deste livro aqui neste blog: Coleção Debates e o Design Moderno no Brasil.