Revista TAM Nas Nuvens #02 x Revista Realidade #11 – Plágio, Inspiração ou Coincidência?

Fevereiro de 2008:


Outubro de 1966:

A revista TAM Nas Nuvens de fevereiro de 2008 utilizou um recurso interessante nas duas primeiras duplas da matéria sobre Marcos Casuo, palhaço brasileiro do Cirque du Soleil. A primeira ímpar mostra um homem musculoso com pose série, de braços cruzados. Na par, a frase: “Você chamaria este cara de palhaço?”. A dupla seguinte traz a par mostrando o tal cara vestido de palhaço e a ímpar com texto remetendo a pergunta da par anterior: “Podem chamar, sem nenhum problema: ele é um palhaço mesmo”.

Quarenta e dois anos atrás, a Revista Realidade utilizou um recurso parecidíssimo em seu número 11, de outubro de 1966. Escrevi sobre esta revista, ao tratar de diagramação sequencial. A principal diferença é que, enquanto na matéria sobre Arrelia a primeira imagem tem um peso “respeitoso” do homem de meia-idade com óculos, a matéria sobre Marcos Casuo remete ao respeito de seu porte.

O que você acha? Plágio, inspiração ou coincidência?

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Diagramação Sequencial na Revista Realidade #7

O sétimo número da Revista Realidade, lançado em outubro de 1966, trouxe uma matéria sobre o palhaço Arrelia. A equipe de arte da revista, sempre primorosa, criou uma das diagramações mais fabulosas que já vi.

Com texto de Roberto Freire e fotos de Lew Parrella, as duas primeiras duplas da matéria são as seguintes. Na primeira dupla o título “Este Homem É Um Palhaço” em fonte grande e pesada é quase uma “afronta” ao homem de meia-idade, austero e numa imagem preto-e-branca com toda a formalidade de um retrato convencional.

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Ao passar a página: “Este Palhaço É Um Homem”. Dessa vez a fotografia sangrando vai para a página esquerda e mostra um palhaço em cores vivas.

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É a atenção a um recurso que, por falta de conceituação prévia, venho chamando de diagramação sequencial. É a utilização significativa e intencional de uma característica da revista impressa – a organização em brochura com papel de qualidade – no que se refere ao poder de criar sentidos na sequencialidade obtida pelo passar das páginas.

Nesse caso o contraste entre as duas fotografias sangrantes foi primorosa. Ao passar a página, o leitor encontra outro elemento de grande destaque com o mesmo tamanho no plano das duas páginas. Os contornos são parecidos, e o conteúdo básico é o mesmo, um homem. Isto mais o fato de que a materialidade o leitor move – a página que de direita vira esquerda, de frente vira verso -, faz o reconhecimento ser instantâneo. O contraste plástico (textura e cor) e o contraste de objeto (vestimenta e gesto) são potencializados.

E o que aconteceu entre esses dois momentos? A quarta página também usa a sequência, dessa vez dentro de um mesmo plano, para mostrar como aquele homem sério se transmuta em palhaço.

As imagens foram retiradas do livro “O Design Brasileiro: Anos 60”, organizado por Chico Homem de Melo. Já escrevi sobre um dos ensaios deste livro aqui neste blog: Coleção Debates e o Design Moderno no Brasil.

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