Formas Contemporâneas de Racismo e Intolerância nas Redes Sociais

O documento Formas Contemporâneas de Racismo e Intolerância nas Redes Sociais foi publicado pelo Dr. Luiz Valério P. Trindade, como um dos resultados de seu doutorado na University of Southampton (Reino Unido). O documento traz informações sobre o racismo nas mídias sociais e recomendações de políticas públicas direcionadas a juventude, autoridades governamentais, legisladores e as próprias empresas de mídias sociais.

Merece destaque o mapeamento de quais os “gatillhos” para movimentos articulados de ódio racista. Os itens impressionam pela crueldade:
a. expressar discordância com algum post ou comentário anterior de cunho negativo contra Negros;
b. evidência de engajamento com profissões consideradas mais ‘nobres’ e de prestígio (por exemplo: medicina, jornalismo, direito, engenharia, etc.);
c. relacionamento interacial;
d. exercer posição de liderança ou bem-sucedida em programa de televisão ou até mesmo como convidada de honra;
e. desfrutar de viagens de férias no exterior (sobretudo em países localizados no Hemisfério Norte);
f. utilizar e/ou enaltecer a adoção de cabelo cacheado natural estilo Afro;
g. vencer concurso de beleza; e
h. rejeitar proposta de relacionamento afetivo.
Trindade também fala, entre outros itens, do Efeito Eco Infinito, no qual posts antigos, de até mais de 03 anos, continuam a reverberar por negligência das plataformas.
Saiba mais sobre o trabalho de Trindade em https://soton.academia.edu/LuizValerioTrindade

Por que empresas de mídia insistem que não são empresas de mídia, por que estão erradas e por que isso importa?

Mais um caso de racismo em plataformas de mídias sociais. Desta vez, o criador de “conteúdo” ou “influenciador” Cocielo, que já trabalhou pra marcas como Coca Cola, Asus, Submarino e outras publicou um tweet racista contra o jogador Mbappé e deletou em seguida, preocupado com os impactos comerciais que teriam. Quando o print do tweet começou a circular, tanto o youtuber quanto amigos e fãs argumentaram que “quem conhecece o Cocielo sabe que ele não é assim” e variantes. Foi o estopim para mostrar que sempre foi assim, na verdade: publicações racistas, misóginas, homofóbias, transfóbicas e violências de todo o tipo foram descobertas por outros tuiteiros e a reincidência em crimes de ódio ficou mais que evidente.

O absurdo de marcas e agências contratarem gente como o Cocielo, permitindo que suas vozes sejam replicadas e fortalecidas (uma vez que os remuneram aumentando seu público) foi coberto por várias analistas, como  Stephanie Ribeiro que comentou que “marcas patrocinam qualquer um, menos os negros com discurso engajado“. Em reportagem no Alma Preta, Thalyta Martins cita fala da historiadora Suzane Martins sobre as “desculpas” do YouTube – “Isso seria trabalhar a política racial em um âmbito individual mediado por conceitos como ‘culpa’ ou ‘perdão’, que dizem mais sobre uma visão cristã e maniqueísta do mundo do que sobre política e projeto de sociedade”. Anderson França em postagem relembra que “eleger pessoas negras engajadas nessa pauta, mudar leis, agir, de cima pra baixo, na educação, no judiciário, nas polícias, nas estruturas fundamentais do estado e da sociedade, para que possamos evitar os novos atos de racismo e mais: eliminar a cultura do racismo.”

Mas este caso está longe de ser novo. Como ocorreu em vários momentos nos últimos anos, criadores de conteúdo, atores e apresentadores de TV cometem repetidamente crimes de ódio nas mídias sociais. Então este caso é um ótimo momento para refletir: por que as plataformas de mídias sociais protegem criminosos? E por que não estamos falando disto?

Plataformas como Twitter, YouTube e Facebook devem ser vistas como mídia, não só como tecnologia. Algoritmos, recursos como Moments, termos de uso e aplicação restrita ou alargada dos Termos de Uso (como encobrir e até remunerar racistas com recursos como Conta Verificada) são, efetivamente, decisões editoriais. Elas não possuem o formato de decisão editorial como em jornais tradicionais, mas o são. E precisamos falar sobre isso.

Um ótimo ponto de partida é o artigo Por que empresas de mídia insistem que não são empresas de mídia, por que estão erradas e por que isso importa?, escrito por Philip Napoli e Robyn Caplan e publicado ano passado na First Monday. Acabou de ser publicado em versão em português, com tradução feita por mim e Willian Araújo na revista Parágrafo. Esta edição da revista Parágrafo inclui um dossiê completo sobre mediações algorítmicas, editado por Willian Araújo e Carlos D’Andrea, com artigos, traduções e entrevista.

No caso do artigo em questão de Napoli e Caplan, resumo pode ser visto a seguir:

Uma posição comum entre plataformas de mídia social e agregadores de conteúdo é sua resistência em ser caracterizados como empresas de mídia. Ao contrário, empresas como Google, Facebook e Twitter tem constantemente insistido que deveriam ser pensadas como puramente empresas de tecnologia. Este artigo critica a opinião que estas plataformas são empresas de tecnologias ao invés de empresas de mídia, explora seus argumentos subjacentes e considera as implicações políticas, legais e regulatórias associadas com o aceite ou recusa desta opinião. Como o artigo ilustra, não é apenas uma distinção semântica, dado que o histórico de classificação precisa de tecnologias e serviços da comunicação possui profundas implicações em como estas tecnologias e serviços da comunicação são avaliadas por decisores políticos e tribunais.

Os autores cobrem os vários argumentos usados por estas plataformas para se posicionarem no campo da “tecnologia”, contra-argumenta mostrando suas fragilidades e, por fim, apresentam a importância desta crítica e os papéis que a academia e sociedade civil podem exercer para uma internet mais justa.

Acesse o artigo diretamente e confira todo o dossiê em http://revistaseletronicas.fiamfaam.br/index.php/recicofi/issue/view/59/showToc

 

Pesquisa acadêmica: o caminho para a evolução da análise de dados no mercado

A fatia da população brasileira com ensino superior ainda é absurdamente pequena. O gráfico abaixo compara dados de 2014 da OECD, mostrando a fatia da população entre 25-64 anos com ensino superior. Apesar da relativa evolução na última decada, o Brasil conseguiu formar apenas 14%, nesta lista à frente apenas de Indonésia e China (que, devido a sua população gigantesca, acaba por ter várias vezes o número de formados que o Brasil). Japão, Rússia, Canadá e EUA superam 50%.

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Apesar desta triste realidade, são comuns os discursos que menosprezam o papel das universidades e da formação e pesquisa acadêmicas no país, sobretudo entre parte do mercado ligado à publicidade. Lembro como, no ano passado, uma matéria sobre o papel da graduação na formação de bilionarios viralizou no meio. Seu título era “Você vai se surpreender quando descobrir qual graduação mais forma bilionários” e supostamente surpreendia o leitor ao mostrar que, na verdade, na frente de cursos de Business e Engenharia, estava simplesmente a opção “Nenhuma”. O estudo mostrou que 32% dos bilionários americanos levantados não se formaram, contra 68% que se formaram em alguma graduação. Este dado foi visto como indicador, no discurso neoliberal, de que graduação não é sinônimo de “sucesso”.

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Uma das versões da reportagem.

A ironia é que cruzar dados é justamente algo que pode ser aprendido em graduações. Os dados da OECD também mostram que 45% da população americana, onde está a maioria dos bilionários, se formou. Ou seja, 55% não se formaram contra 32% dos bilionários. Bastaria ter um pouco de repertório crítico-analítico para ver que os dados da matéria mostram que os ricaços são mais educados formalmente que a média da população. E isto sem falar de todas as variáveis sistêmicas que explicam sua riqueza.

Em novembro foi publicada a pesquisa Perfil dos Profissional de Inteligência em Mídias Sociais, desenvolvida por Ana Claudia Zandavalle.  Como comentei nos resultados do ano passado, a pesquisa mostra importante fatia de pós-graduandos neste mercado, com salário muito maior que a média.

Também curioso é que grande parte destes profissionais estão alocados em agências de publicidade, que em peso “ignoram” a formação acadêmica. Mas, nas áreas de monitoramento, business intelligence e métricas, profissionais com formação acadêmica densa se destacam. Estes profissionais se destacam nas agências por capacidades adquiridas na universidade ou através de procedimentos de investigação aprendidos em grupos de pesquisa – mas as agências subestimam a formação. Ou, pior: as desmotivam publicamente.

Já no recorte do “mercado de mídias sociais”, que cerca de 8 anos atrás ainda era uma grande novidade, um fenômeno curioso aconteceu. De um lado, predominava o discurso de que as mídias sociais eram algo “novo” e por isto as formações existentes não dariam conta de suas especificidades. Balela, claro, pois decisiva mesmo é a formação em comunicação, psicologia social, linguística e disciplinas ligadas a interação humana, e não aprender a apertar botão ou onde ficam as funcionalidades na interface do Facebook. E ao mesmo tempo, por ser um mercado percebido como novo e que não requer inicialmente muito mais que um computador, as barreiras de entrada eram mínimas. Então centenas de agências surgiram neste período, diversas delas criadas por graduandos.

Foi o meu caso. Criei com amigos uma agência em 2008, quando ainda estava acabando a graduação. O ambiente propício foi a excelência acadêmica da UFBA em um laboratório com apoio externo, do mercado. Desde então, além desta agência, ao menos quatro agências/institutos nasceram das mãos daqueles ex-bolsistas. E a maior parte continua desenvolvendo, também, pesquisa acadêmica.

Entretanto, estas parceiras público-privadas em pesquisa & desenvolvimento são raras em comunicação no Brasil. Sobretudo devido ao desinteresse das empresas em retornar o que recebem direta e indiretamente das universidades e do Estado. A desvalorização da formação acadêmica em alguns meios da comunicação se intensificou ainda mais com as narrativas em torno de figuras como Steve Jobs e Mark Zuckerberg.

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Porém, a maior parte deste discurso deixa de lado a relevância do papel das universidades no início da criação de empresas como Microsoft, Apple e Facebook; deixam de lado o quanto estas empresas contratam cientistas; e como elas próprias desenvolvem estruturas que copiam as universidades. Este discurso comumente vem casado com a velha demonização do papel do estado. Mas como mostra a consultora italiana Mariana Mazzucato no excelente livro O Estado Empreendedor, mesmo a Apple deve seu sucesso ao investimento em pesquisa de base que o liberal Estados Unidos faz:

Em suma, “descobrir o que você gosta” enquanto continua sendo “louco” é muito mais fácil em um país em que o Estado desempenha um papel fundamental, assumindo o desenvolvimento das tecnologias de alto risco, fazendo os investimentos iniciais, maiores, mais arriscados e depois sustentando-os até que os atores do setor privado, em um estágio muito mais adiantado, apareçam “para brincar e se divertir”. Assim, enquanto os especialistas do “livre mercado” continuam a alertar para o perigo de o governo “escolher vencedores”, pode-se dizer que várias políticas governamentais americanas lançaram as bases que deram à Apple os instrumentos para se tornar um dos principais integrantes de uma das indústrias mais dinâmicas do século XXI.

Mas, para além desta discussão, chegamos a um momento crucial na relação da comunicação com práticas científicas. A “era do big data” e a metrificação de (quase) tudo requerem mais ciência, mais análise, mais dados, mais rigor, mais ferramentas, mais P&D. Tanto o desenvolvimento do mercado como um todo quanto dos indivíduos interessados em atuar nesta área passa por mais especialização e ciência, não menos. É hora do mercado se atualizar e ver que os cientistas acadêmicos pesquisam e aplicam há décadas inovações que a maioria das empresas nem sonham.

Promover e defender a ciência brasileira é muito importante, sobretudo no atual momento. Se você que lê este texto atua e/ou possui algum tipo de impacto no mercado da comunicação, espero que este texto possa te tocar para fazer parte desta compreensão. Não consigo entender como um brasileiro não se choque com aquele gráfico lá no topo do post. Precisamos atuar para expandir o acesso a universidades no país e sua efetiva democratização. Do ponto de vista do “mercado”, mesmo sem pensar em motivos mais nobres, este perde em muito em não consumir e disseminar a pesquisa acadêmica.

Se você é estudante e está lendo o blog para aprender algo novo, saiba que o caminho pode passar pela junção rigorosa dos diversos mundos de conhecimentos e práticas. Leia, procure, atue, pesquise, se aproprie, transforme, ensine e leve suas experiências para a universidade e para outras pessoas.

Mas por mais válida que seja esta minha crítica em si, podemos ir além e tentar afetar o mercado de forma positiva. Recentemente lançamos mais um livro gratuito (é meu quinto) e hoje trago outra novidade relacionada ao tema que discuto aqui. Fizemos a curadoria de uma lista de 100 pessoas do Brasil e do mundo que publicam conhecimento sobre Pesquisa e Monitoramento de Mídias Sociais. Isto resultou em mais de 1 mil links de artigos, vídeos, entrevistas, ferramentas e tutoriais:

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Com uma listagem destas, é impossível dizer que há pouco conhecimento acadêmico sobre o assunto ou alegar que não o encontra.

Vamos estudar e aplicar juntos?

Coleta de Dados em Mídias Sociais para Pesquisa Acadêmica

No mês passado pude participar da Jornada Internacional Geminis 2016 em duas atividades bem interessantes: debate com o mote “A Revolução Será Monitorada?” e workshop sobre Coleta de Dados para Pesquisa Acadêmica. Seguem as apresentações:

Quatro Aspectos dos Sites de Redes Sociais

Em publicação recente, Danah Boyd revisita a definição de “site de rede social” proposta por ela e Nicole Ellison no Journal of Computer-Mediated Communication em 2007. Nesta revista, um marco na pesquisa acadêmica sobre o tema, as autoras definiram sites de redes sociais (SRS) como:

“serviços de web que permitem aos usuários (1) construir um perfil público ou semipúblico dentro de um sistema conectado, (2) articular uma lista de outros usuários com os quais eles compartilham uma conexão e (3) ver e mover-se pela sua lista de conexões e pela dos outros usuários”

É uma definição que acho bem interessante – apesar de não concordar totalmente – e me chamou a atenção quando foi publicada, justamente quando direcionei totalmente meu foco de pesquisa e trabalho para comunicação digital e mídias sociais. Foi criticada por autores como David Beer (que também publicou o ótimo New Media: The Key Concepts com Nicholas Gane) e utilizo, com algumas ressalvas, em artigos e aulas. Leia o artigo de Boyd e Ellioson em “Social Network Sites: Definition, History and Scholarship” e o de Beer em “Social Network(ing) sites: revisiting the story so far: A response to danah boyd & Nicole Ellison

No livro A Networked Self: Identity, Community, and Culture on Social Network Sites, organizado pela Zizi Papacharissi e recém-publicado, a Danah Boyd publicou um artigo sobre “públicos em rede” e revisita este conceito em uma seção do texto, focando em quatro aspectos: perfis, lista de amigos, ferramentas de comentário e stream based updates. Como são aspectos chave a serem observados por qualquer interessado nesses ambientes, apresento aqui algumas citações, comentários e links para que o leitor possa ler mais sobre o assunto.

Perfis
A possibilidade de se criar um perfil público ou semi-público é uma das principais características dos sites de redes sociais. Um perfil nesses ambientes representa uma pessoa, organização ou personagem através de fotos (avatar, álbuns e outras), mini biografias, dados demográficos, preferências culturais, aplicativos, subscrição a comunidades e grupos etc. Os usuários de SRSs customizam seus perfis de acordo com seus desejos de representação identitária.

Relacionado a este aspecto, os aplicativos “Grader” da Hubspot são um bom exemplo de análise de perfis a partir do agregado de dados. A partir da análise de determinadas informações, em referência a possíveis ideais, assim como da comparação dessas informações com a base de dados compostas pelos dados de outros usuários que já utilizaram seus sistemas.

Diversos pesquisadores se dedicaram a observar os processos de construção e edição dos perfis em sites de redes sociais. Scott Counts e Kristin Stecher, por exemplo, exploram os modos pelos quais as pessoas se apresentam nos sites de redes sociais durante a criação dos perfis pessoais no artigo Self-Presentation of Personality During Online Profile Creation. Esta perspectiva, de pensar os aspectos de gerenciamento de impressões nas interações sociais é abordada também pelos pesquisadores do GITS-UFBA, do qual faço parte.

Lista de Amigos
As listas de amigos é onde o usuário do SRS pode observar e editar suas conexões, podendo utilizar este recurso para navegar de perfil em perfil através das redes. Teoricamente, de perfil a perfil o usuário pode chegar a qualquer ponto da rede, acessando qualquer perfil que esteja relativamente conectado.

O artigo Public Display of Connections, publicado por Judith Donath e Danah Boyd em 2004 trata da importância do papel das conexões públicas na formação de impressões sobre determinado ator social. Para as autoras, “social status, political beliefs, musical taste, etc, may be inferred from the company one keeps”. A pesquisadora Raquel Recuero já publicou trabalhos e postagens que analisam as redes de conversações online como as fans wars no Twitter.

Além disso, a análise das estruturas fluídas e mutáveis das redes sociais em torno de determinados atores pode ser esclarecedora. Os aplicativos Touchgraph (para diversos fins, incluindo versões gratuitas pra buscador e Facebook) e o LinkedIn Maps são dois aplicativos que permitem observar – a partir de uma rede ego – as conexões e centralidade de seus contatos nestas mídias sociais. Escrevi um post sobre o uso desses aplicativos para a análise de redes profissionais, no blog Dica 1.

Muitas vezes, também, a quantidade de conexões (amigos, seguidores ou inscritos) estabelecem um ponto de partida para as dinâmicas competitivas mais simples nestes ambientes. Pode-se falar de uma “mensuração reflectiva“, através da qual as pessoas observam dados e métricas dos ambientes para comparar a si e a outros atores sociais.

Ferramentas de Comunicação e Publicação
Termos utilizados no mercado como “conteúdo gerado pelo usuário” para dar conta de algumas novas práticas, que ganham ainda mais destaque nos sites de redes sociais (especialmente os focados na publicação e disseminação de conteúdo), de publicação, circulação e edição de conteúdo. O que André Lemos chama de “liberação do pólo da emissão” reúne “inúmeros fenômenos sociais em que o antigo “receptor” passa a produzir e emitir sua própria informação, de forma livre, multimodal (vários formatos midiáticos) e planetária”.

Dessa forma, o ecossistema midiático digital é muito mais fragmentado, algo que é positivo pois permite a expressão comunicacional e afetiva pelas mais diferentes pessoas e grupos. Nesse sentido, o fenômeno da cauda longa é intensificado pelo que os prosumers publicam no dia a dia, os mais diversos comentários sobre política, consumo, entretenimento ou mesmo o cotidiano.

Nas mídias sociais, estas ferramentas de comunicação e publicação resultam em uma enormidade de conteúdo em constante criação, circulação e remix nas redes. Diversos softwares como aplicativos e buscadores buscam realizar uma organização desse conteúdo a partir de fatores como visibilidade, tópicos e interesse do usuário. Alguns exemplos são o Topsy, Migre.me e Appinions. Um interessante artigo de Allison Hearn chamado Structuring Feeling: Web 2.0, online ranking and rating and the digital ‘reputation’ economy discute como a circulação de conteúdo e a retórica da influência vista em aplicativos como Klout e Empire Avenue reforçam modos de free labour na atual economia.

E, na medida em que os usuários de internet publicam mais e mais tipos de conteúdo como fotos, atualizações textuais, comentários, postagens e afins, a possibilidade de resgatar esta memória digital recebe mais atenção por pesquisadores, desenvolvedores e publicitários. A Danah Boyd, junto a alguns colaboradores, falou recentemente de “data portraits“, o Memolane faz considerável sucesso ao oferecer uma linha do tempo da vida dos usuários e iniciativas da Intel, Itautec e Coca Cola, por exemplo, se aproveitam desse interesse:


Stream Based Updates

Talvez o aspecto mais fugidio e contestável é a “stream based update”: em uma tradução grosseira, “atualizações baseadas em fluxo”. Os exemplos mais comuns hoje são a timeline do Twitter e o news feed do Facebook. Diversos outros SRS adotaram mecanismos semelhantes, como o Orkut e, recentemente, até o SlideShare. Mas este recurso ganha mais importância na medida em que o consumo de conteúdo e as interações são realizadas nestes espaços. Um estudo recente analisou a “vida média” de um link no Twitter.

No caso desta mídia social, dois modos básicos e mensuráveis pelos quais o público pode interagir com o conteúdo é o RT e o favoritamento. O aplicativo Favstar.fm permite medir os tweets mais retuitados e favoritados. É possível observar como os dois modos são bem delimitados: o RT é utilizado de forma mais intensa para circulação rápida de comentários, piadas, notícias etc, enquanto o favoritamento está mais ligado a aspectos informacionais.

Todos estes aspectos, em determinado grau, hoje podem ser analisados pelo profissional de comunicação com o apoio de softwares e aplicativos. Sejam ferramentas de monitoramento, de análise de rede social ou de processamento de informações sociais, o conteúdo, design, conexões e interações realizadas podem ser resgatados em determinado grau para falar algo sobre as pessoas, o fluxo de informações e as redes.

Os sites de redes sociais podem ser observados de diversos modos, mas uma coisa é certa: a pesquisa acadêmica pode ajudar muito o profissional de comunicação. Muito mais pode ser encontrado na web. Veja, por exemplo: os buscadores de trabalhos Periódicos Capes e Google Acadêmico; os blogs do Grupo de Pesquisa em Interações, Tecnologias Digitais e Sociedade, das pesquisadoras Raquel RecueroDanah Boyd; revistas como Journal of Computer Mediated Communication, Media Culture & Society; e uma lista de repositórios de eventos acadêmicos.