Racismo e desinformação: apontamentos sob a perspectiva antirracista

De que modo a desinformação fortalece e é implicada por lógicas racistas? Como as fake news se articulam com outros fenômenos, como o discurso de ódio, e, deste modo, aprofundam violências contra grupos racializados? O que os diversos conteúdos enganosos sobre Marielle Franco, que circularam rapidamente na internet após o seu assassinato, nos dizem sobre desinformação como expressão do ódio racial? As diferentes narrativas que surgem sobre jovens negros logo após serem assassinados, como se fossem criminosos, e como se isso fosse justificativa para suas mortes, não materializam uma simbiose entre desinformação e racismo?

Buscando refletir sobre essas questões, o texto representa uma contribuição no sentido de pluralizar o debate sobre desinformação no Brasil, tendo como base o entendimento de que não é possível falar em desinformação ou fake news desconsiderando o racismo e as desigualdades raciais que nos caracterizam. Foi redigido pelas coordenadoras e membros do Grupo de Pesquisa em Comunicação Antirracista e Afrodiaspórica e publicado como capítulo do livro “Comunicação e ciência: reflexões sobre a desinformação” editado pela INTERCOM.

Relatório Internet, Desinformação e Democracia

Como resultado das discussões estabelecidas no Seminário e na Oficina Internet, Desinformação e Democracia realizadas pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br, foi disponibilizado o Relatório Internet, Desinformação e Democracia. Cerca de 40 especialistas do CGI e representantes multissetoriais discutiram propostas agrupadas nas categorias de Ambiente Legal e Regulatório; Construção de Redes de Combate à Desinformação; Monitoramento, Controle e Prevenção; e Pesquisa e Formação. Clique abaixo para acessar:

Esclarecendo o #massivefail da IDGNOW (e dos milhares que retuitaram ou repostaram)

Update: a matéria foi atualizada alguns dias depois. Fica aqui o post como um incentivo ao rigor.

Quem me segue no Twitter provavelmente já leu alguns resmungos meus sobre o chamado “jornalismo de tecnologia” que tem sido feito por portais como Info Online, IDGNOW e semelhantes. Como já reclamei em outro post, o “oba-oba” generalizado, a busca por números chamativos e a corrida por postar primeiro tem levado jornalistas a fazer barbaridades.

Uma das mais graves foi cometida pelo jornalista do IDGNOW, o William Marchiori, no dia 22 de abril. Comentando um relatório e dados do Statcounter (lançados no mesmo dia), publicou o texto “Twitter lidera tráfego em mídias sociais no Brasil, segundo a StatCounter. O próprio texto carece de coerência interna. No primeiro parágrafo: “No Brasil, o Twitter hoje é responsável por 56% do tráfego de dados em sites de mídia social” e  no quinto: “Os resultados nacionais diferem dos registrados no mundo. Segundo a StatCounter, o Twitter está longe de liderar”.

Se isso já não fosse #fail o suficiente, o título ambíguo e o termo “tráfego de dados” dá a entender que o jornalista fala de acesso total a estas mídias sociais. Por isso, o Portal Exame e o Comunique-se, por exemplo, que são dois sites com reputação, publicaram: “Twitter é a mídia social mais acessada no Brasil” e “Twitter lidera como mídia social mais acessada no Brasil“. Lamentável.

O Statcounter falava das mídias sociais como fontes de visitantes para os sites. O Statcounter é uma ferramenta de analytics utilizada por milhões de sites pelo mundo e, por isso, pôde analisar qual mídia social gera mais cliques que resultam em visitação aos sites que monitora.

Isso é muito diferente de dizer que tal mídia social é mais acessada que outra. O Twitter e o StumbleUpon se destacaram nesses dados por causa de suas características, que envolvem em grande parte recomendação de conteúdo e links. O que aconteceu nesse caso lamentável foi que um jornalista falhou na leitura, tradução e interpretação dos dados e, a partir daí, outros jornalistas (com tão pouca ou menos vontade de apurar) replicaram o erro, assim como centenas ou milhares de tuiteiros.

E a partir daí, o que acontece? Desinformação que prejudica profissionais que trabalham nessas mídias sociais, outros jornalistas, publicitários, gestores de empresas, RPs e cidadãos que não trabalham com comunicação, mas que podem erroneamente gastar tempo mudando seus padrões de consumo e produção de mídia por causa das informações erradas.

É por isso que repito o que eu disse em um tweet. Se algum dia eu bloquear, na rede de minha empresa (coisa que não vai acontecer), o acesso a um site, este será o IDGNOW.

Twitter lidera tráfego em mídias sociais no Brasil, segundo a StatCounter