Mensuração: de 2010 a 2015, o principal entrave para as marcas nas mídias sociais

O gráfico abaixo, da histórica pesquisa “Mídias Sociais nas Empresas”, da Deloitte em 2010, esteve presente nas primeiras aulas e palestras que realizei. Cinco anos atrás, quando se falava bem menos sobre digital social analytics e mensuração de resultados em mídias sociais, era um gráfico necessário para se mostrar a importância destas capacidades para o profissional:
pesquisa deloitte
Ontem, no #FORRForum, da Forrester Research, o gráfico abaixo foi compartilhado. Trata-se da quantificação dos problemas e entraves mais frequentes para o marketing nas mídias sociais, em plataformas orgânicas. “Medir a performance destes perfis” lidera com muita folga frente a “Achar ou criar conteúdo para publicar” e “Decidir que tipo de conteúdo publicar”.

The Biggest Problem - Measurement

É particularmente alarmante esta percepção, pois os canais orgânicos são justamente os que oferecem mais dados para os gestores de marca e conteúdo. A importância de se divulgar análise rigorosa e procedimentos científicos, além de fomentar o debate na área, parece continuar tão relevante quanto cinco anos atrás.

O que sua agência, consultoria ou associação está fazendo para mudar esta situação?

Por que ainda não existem padronizações das métricas em mídias sociais?

A ideia pela busca da “padronização” de métricas para a comunicação realizada nas mídias sociais é constante e discutida intensamente já há quase 10 anos. Porém, até hoje não existem consensos relevante sobre como reportar resultados obtidos nas mídias sociais. As perguntas são várias: Seguir métricas tradicionais como GRP e AVE? Abraçar as métricas fornecidas por cada plataforma? Utilizar índices propostos por ferramentas?  Focar apenas em resultados financeiros? E como?

mercado da audiencia

Mais do que dar uma resposta aqui, quero mostrar como as mídias sociais trouxeram mais questões através da disrupção das relações entre os atores tradicionais do mercado da audiência. As relações entre Clientes, Organizações de Mídia, Agências, Institutos de Mensuração e Consumidores muda de forma talvez irreversível desde a disseminação dos recursos da web 2.0.

Estes atores do mercado da audiência são descritos de forma excelente por Philip Napoli em seu livro “Audience Economics – Media Institutions and the Marketplace”. A relação construída entre estas instituições permitiu à comunicação de massa tornar-se um dos principais pilares da maioria das sociedades contemporâneas.

De modo geral, sua relação tradicional é bem simples, quase intuitiva para profissionais de comunicação. Em primeiro lugar temos Organizações de Mídia que vendem a audiência, ou atenção, de consumidores. Jornais impressos, revistas, canais de televisão oferecem produtos de informação e entretenimento que captam a atenção de consumidores. E  o produto de informação/entretenimento é oferecido de graça ou vendido a preço módico para estes Consumidores, que serão a moeda de troca entre as Organizações de Mídia, Agências e Anunciantes. Estes precisam da atenção dos Consumidores. Para chegar a eles, se relacionam com Agências para produzir conteúdo publicitário com potencial de chamar atenção na mesma medida do entretenimento e informação do restante dos produtos das Organizações de Mídia. Por fim, as Empresas de Mensuração auditam quais canais, programas e seções dos produtos das Organizações de Mídia mais são vistos, circulam, têm tiragens impressas ou são ouvidos.

Nunca foi tão simples quanto o parágrafo anterior leva a crer. Mas alguns consensos sobre referenciais de mensuração foram construídos ao longo das décadas do século XX. Não é à toa que “ibope” virou metonímia. Mas a internet, comunicação digital e mídias sociais implodiram todas as certezas. Especialmente, realizaram a disrupção das relações entre as instituições do mercado da audiência. Os papéis de cada um deles foram postos em cheque, graças à oportunidades e desafios que foram construídos nos últimos 20 anos.

1. Organizações de Mídia. Em primeiro lugar, as organizações de mídia receberam mais concorrência e complexidade. A maioria dos conglomerados de comunicação fortes em cada país ou região menosprezaram a internet durante bom tempo, dando abertura à players que trabalharam com a lógica “tradicional” da audiência (como Portais) e/ou criaram novos modelos de negócio baseados em melhorias da identificação de comportamento (Google e suas buscas) ou segmentação (como Facebook). Através de recursos de web analytics ou a possibilidade de estabelecer regras (mutáveis) em novos ambientes sem padronizações, estas organizações de mídia prescindem em grande parte de empresas de mensuração. Algumas lançam seus recursos de self-service ads pra contornar as práticas das agências que diminuem suas receitas (como BV). Por outro lado, na relação com consumidores, estes últimos passam a exigir também seus shares, como os chamados probloggersvloggers.

2. Anunciantes. No caso das empresas, a complexidade da escolha e gerenciamento das mídias demandou uma maior especialização dos fornecedores e, especialmente, uma necessidade por atenção mais relevante aos consumidores e tendências do mercado. De um lado, passaram a exigir mais. De outro, algumas passaram a internalizar alguns tipos de serviços para responder com rapidez ao mercado não só em termos de produto, mas também de marcas. Laboratórios internos de comunicação são frequentes hoje em grandes organizações. A mensuração de resultados entre praças diferentes passa a ser o padrão, levando os gerentes de marketing a se aproximarem cada vez mais da inteligência e mensuração da comunicação.

3. Agências. A disrupção das relações entre os atores do mercado da audiência foi analisada a fundo sobretudo pelas agências. De modo real (ou canastrão), os conceitos de “inovação” passaram a ser o tom de grande parte dos grupos de agência. Para tanto, precisaram responder à demandas das empresas oferecendo tanto mensuração  (e os vários cargos de business intelligence por aí comprovam) quanto pesquisa de forma interna. Não é à toa que o mercado de monitoramento de mídias sociais, nas agências de publicidade e R&P, evoluiu em grande parte à revelia do mercado de pesquisa, no qual faria mais sentido inicialmente. Desse modo, as agências passaram a abarcar papéis de outros atores do mercado da audiência.

4 – Empresas de Mensuração. Especialmente no que tange à mensuração, a revolução da comunicação digital – bits, números por definição – democratizou diversos tipos de atividades e possibilidades de coleta de informação. Até os perfis pessoais, nas mídias sociais, possuem seus índices de popularidade – recurso psicossocial para motivar uso -, levando os consumidores comuns a terem maior consciência de seus impactos. Neste contexto, as empresas e agências passaram a realizar as aferições por si mesmas em ambientes que ganham mais e mais espaço e receita publicitária. As empresas de mensuração trataram de lançar novas tecnologias, incluindo softwares de web analytics e monitoramento de mídias sociais, para atender a esta demanda e manter mercado.

5 – Consumidores. Por fim, os consumidores tornaram-se não só os provedores do dinheiro através de seu consumo, mas também de grande parte dos próprios materiais convergentes de atenção. As mídias sociais são espaços de produção colaborativa, de conteúdo amador, conteúdo fortuito ou até involuntário de alguns usuários. O tal prosumer do Alvin Toffler percebeu que gera receita e passou a exigir através de blogs profissionais, canais de vídeo amador etc. E até o consumidor “comum” sabe do impacto de seus comentários negativos nas páginas Facebook e o faz conscientemente para atingir os números das empresas.

Resumindo, tudo isto converge para a resposta da pergunta do título. Por que ainda não existem padronizações das métricas em mídias sociais? Porque não só as plataformas são complexas e diferentes entre si, com sobreposições de estilos e interfaces, mas também os papéis de cada ator do modelo clássico do mercado da audiência não são mais os mesmos. Os consensos do mercado de audiência tradicional, azeitados durante décadas, não serão desenvolvidos em todos os níveis do novo mercado da audiência. Levar em conta todos estes fatores (e muitos outros) é essencial para se pensar a avaliação e mensuração da comunicação hoje.

As padronizações não devem ser buscadas, portanto, em métricas ou índices específicos. Pelo simples motivo de que os consensos de um ambiente midiático do passado não são mais possíveis devido à complexidade da comunicação digital. As padronizações devem, na verdade, ser buscadas em termos de procedimentos da avaliação e mensuração da comunicação, se aproximando do rigor científico da pesquisa e contextualizados caso a caso.

Confira o histórico do blog e assine o feed para conferir alguns destes procedimentos possíveis.

Sensores Humanos: 250 milhões de motivos para promover o Twitter

Durante esta Copa do Mundo, o Twitter voltou a protagonizar a mensuração de sentimentos e opinião pública sobre um tema de interesse popular. Como noticiam diversos portais do segmento de mídias sociais, como o Mashable, ou noticiosos como o New York Times, o Twitter está ganhando a Copa do Mundo pelo seu caráter de tempo real e sensação de comunidade e pertencimento nas conversações.

Estou feliz de ver que, neste ano, também o mercado brasileiro de comunicação em mídias sociais está corrigindo o erro de focar somente em uma mídia social (Facebook). Como mencionei no projeto de 50 tendências para 2014 do Scup:

Falando de plataformas, já estamos vendo internacionalmente um ressurgimento forte da atenção ao Twitter. Espero que as agências brasileiras corrijam já o erro de terem abandonado parcialmente as ações de conteúdo e engajamento no Twitter. A abertura do IPO, o investimento do Twitter na parceria de dados com desenvolvedores brasileiros, o fenômeno das segundas (e terceiras) telas e a (espero) crescente maturidade do mercado podem ajudar a corrigir esse equívoco. Espero também a criação e manutenção inteligente de plataformas proprietárias de conteúdo (como blogs) para diminuir a dependência em plataformas totalizadoras como o Facebook.

A comparação de engajamento do mesmo conteúdo no Facebook e Twitter circulou no mercado de mídias sociais.

A comparação de engajamento do mesmo conteúdo no Facebook e Twitter circulou no mercado de mídias sociais.

No livro Social Media Mining with R, os autores repetem diversas vezes a noção de “sensor humano” para descrever usuários no Twitter e sua produção. A ideia de “sensor” está muito vinculada a fenômenos naturais, por isto é um tanto rechaçada, nas ciências sociais, ao se falar de seres humanos. Porém, estou a cada dia menos contrário a este termo, pois temos inúmeros exemplos de análise de dados e fluxo informacional no Twitter não só para analisar os seres humanos e a sociedade, mas também para enfrentar intempéries naturais.

A Copa do Mundo pode ser o divisor de águas na maturidade deste segmento do mercado brasileiro de comunicação. Mas para além do futebol e grandes eventos, eu acredito que o Twitter é uma mídia social necessária para a nossa sociedade contemporânea. Vamos lembrar alguns casos exemplares da aplicação do Twitter enquanto medição do mundo?

Detectando terremotos através do Twitter

eartquakeDesde 2010, a USGS (U.S. Geological Survey) utiliza o Twitter como ferramenta de comunicação e até detecção de terremotos em todo o mundo. Medir rapidamente o uso de palavras relacionadas a terremoto no Twitter e cruzar com a geolocalização das mensagens permite reagir de forma rápida, algo útil tanto para a imprensa quanto para as organizações de apoio. Em algumas regiões pode levar até 20 minutos para um sensor tradicional detectar e reportar o abalo sísmico, mas apenas 20 segundos para perceber o impacto no Twitter.

Enchentes e Apoio Humano

retweeting crisisNa Austrália, o Twitter é utilizado por diversas organizações, como a Polícia de Queensland e a prefeitura de Brisbane, para encontrar e circular informações durante momentos de crise.

O caráter público das mensagens no Twitter também é importante neste caso por outro motivo: boatos e informações incorretas podem ser descobertas de forma imediata, para pronta correção e orientação por parte das autoridades oficiais. Um dos meus pesquisadores preferidos de lá, o Axl Bruns, desenvolve pesquisa sobre o tema. Nos últimos anos, Bruns analisou as redes de diversos países em momentos de crise.

 

Medindo a Felicidade no Mundo

Os projetos de medição de sentimentos, humor e felicidade humana mundial, através do Twitter, são inúmeros. Visualizações como  a We Feel, Emography, Emotive, Aleph of Emotions, Psycho-social Map e Emotimeter mostram as aplicações de analisar o fluxo emocional mundial a partir da estrutura stream-based das expressões de humores e afetos no Twitter.

GoodMorning! Full Render #2 from blprnt on Vimeo.

Twitter como ferramenta de revolução 

arab spring social mediaA Primavera Árabe foi um marco no uso de mídias sociais para articulação e divulgação de protestos populares. Em dois países com um elevado grau de censura a diversos meios, as mídias sociais foram vistas pelos governos como ferramentas da revolução, entrando na mira da batalha da informação. Os acontecimentos mais importantes podem ser visualizados em um gráfico de volume como o demonstrado ao lado.

O impacto da Primavera Árabe no ecossistema midiático mundial também pode ser analisado pela fatia de tweets em árabe relativos ao total dos tweets nas várias línguas do mundo. Próximo a 0% antes de 2011, em 2013 cerca de 3,17% dos tweets foram publicados nesta língua, segundo pesquisa do Gnip.

 

Junho de 2013 no Brasil

Em terras brasileiras, a popularização das metodologias de análise de redes sociais no último ano pôde ser percebida como resultado do impacto que as visualizações dos protestos de junho de 2013 obtiveram. Pesquisadores como Fábio Malini (Labic/UFES) e Raquel Recuero trouxeram os métodos de análise de redes ao agendamento de imprensa. Apesar do conteúdo no Facebook também possuir estrutura de rede, a visibilidade das menções e a possibilidade de processamento são muito superiores no Twitter.

Circulação Acadêmica

plosaltmetrics-arxiv_html_67d62b0cAssim como acontece com Política, o setor Acadêmico é um que nunca se afastou desta mídia social. Os benefícios das mídias sociais, especialmente blogs e Twitter, para os pesquisadores acadêmicos são inúmeros (veja textos sobre o tema no blog do David Beer e da LSE Impact). Um atual ramo da ciência da informação está preocupado em analisar o impacto de publicações científicas através de métricas alternativas, incluindo a circulação em mídias sociais.

Sobre este tema também vale citar a iniciativa Open Access Button. Para medir o impacto negativo que as “paywalls” possuem na construção de conhecimento, o botão Open Access permite ao pesquisador gritar para outros, através das mídias sociais, sempre que não conseguir acesso a um artigo. Além de medir e explicitar as barreiras do conhecimento em publicações fechadas, ajuda a fazer conexões entre pesquisadores interessados.

 

Quantificando a Si Mesmo

Os ideais do movimento quantified self  ganham mais e mais adeptos no mundo todo. Com o apoio das tecnologias contemporâneas, entender melhor a si mesmo – e a seus entornos -, é facilitado. Meu mestrado tocou neste tema (focando em análise de informações sociais) e, durante o processo de mapeamento de aplicativos, fiquei impressionado com a quantidade de usos do Twitter para tal fim. Um dos mais simples (de 2009), que pode ser usado por qualquer pessoa, se baseia em hashtags e deixa clara a simplicidade da plataforma.

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Segunda Tela

quem matou o maxVoltando ao que deu origem ao post, a noção de Segunda Tela e segmento de TV e imprensa são, indiscutivelmente, territórios do Twitter. Comentar sobre programas e acontecimentos acompanhados pela televisão (premiações, campanha política, eventos esportivos, seriados etc) no Twitter, hoje, faz parte da experiência de consumo audiovisual de centenas de milhões de pessoas pelo mundo.

No Brasil um grande caso foi a novela Avenida Brasil, que engajou milhões de brasileiros (e ainda engaja!) a comentar sobre a trama e seus personagens, que foram imortalizados nas mídias sociais.

 

Estes são apenas alguns casos muito interessantes sobre o uso do Twitter enquanto uma ferramenta para olhar para o mundo, seja ele físico ou social. Em uma próxima postagem sobre o Twitter, revisarei quais são suas características socio-técnicas que o fazem único.

Entrevista com Stephen Rappaport, autor de Listen First! e Digital Metrics Field Guide

Autor de Listen First, bom livro sobre monitoramento de mídias sociais, Stephen Rappaport acaba de lançar Digital Metrics Field Guide. Com o apoio da Advertising Research Foundation (ARF), o livro é um verdadeiro tomo de 322 páginas, com a definição de mais de 100 métricas. Além de autor e consultor, Rappaport é o Head of Knowledge Center da ARF. Conversei com ele sobre este novo lançamento e sobre métricas digitais e de mídias sociais. Algumas recomendações vão contra o lugar-comum do que se fala sobre métricas hoje. Confira:

 

stephen rappaport

Tarcízio Silva: você pode falar um pouco sobre a motivação para o livro?
Stephen Rappaport: todas as pessoas engajadas em marketing, mídia e publicidade sabem o quão importante a mensuração é. Entretanto, a abundância de métricas digitais cria incerteza sobre quais medidas usar e porquê, desafiando até mesmo as marcas mais sofisticadas a avaliar os impactos de suas iniciativas digitais com confiança. Substituir esta incerteza com conhecimento e clareza parece ser urgente, especialmente para aqueles de nós que usam métricas, mas não são analistas de dados ou especialistas em estatística.


TS: Como o Field Guide ajuda as pessoas a encontrar as métricas corretas?
SR: Como os melhores guias para pássaros ou árvores, The Digital Metrics Field Guide contribui ao organizar uma vasta quantidade de conhecimento em categorias e características que ajudam a identificar e aprender sobre métricas, do jeito que aprendemos sobre um beija-flor-de-pescoço-vermelho ou uma árvore de pau brasil. O Field Guide oferece a informação essencial: nome da métrica, autoridade consultada, definição, cálculo e notas técnicas, como quando contar redirecionamentos. Mas o contexto em torno de cada métrica a traz à vida. Primeiro, enunciamos a questão que cada métrica responde e provemos “notas de campo” numa seção chamada ARF Comments. Estes comentários são mini-ensaios que revisam o que é conhecido sobre uma métrica, a partir de 2 a 5 estudos ou opiniões reconhecidas, e provê orientação valiosa para uso e aplicação daquela métrica.

Veja o exemplo do “Like”. A maioria dos estrategistas de mídias sociais recomenda às marcas aumentar seus Likes. Mas este conselho se aplica em todas circunstâncias? Pesquisa mostra que pessoas que dão Like são consumidores leais ou em procura de uma oferta ou cupom. Se a Marca X quer investir em crescimento de clientes, uma estratégia de “likes” faz sentido? De acordo com pesquisas, a resposta é “não”. Se a Marca X persegue esta estratégica, provavelmente vai ganhar volume, mas não o crescimento em novos clientes que estão buscando.

the digital metrics field guide - arf

Metadados sobre as métricas oferecem contexto adicional para todos os tipos de leitores. Aqueles em busca de aprender quais métricas servem para efetividade de anúncios, engajamento ou e-comerce, por exemplo, vão encontrá-las organizadas deste modo. Profissionais de marketing interessados em mapear métricas para processos de marketing podem localizar as métricas em um ou mais estágios: capturar, conectar, aproximar ou manter. Esta progressão de estágios reflete uma abordagem uma abordagem construtiva apropriada para o digital, para além do funil clássico. Para pesquisadores de mídia, métricas são categorizadas por canal – web, social, mobile, email e por tipo de mídia: paga, própria e espontânea. Asssim como encontrar um pássaro por sua cor, bico, formato da asa ou padrão de voo, o desenho do Field Guide procura ajudar todos os leitores a identificar as métricas corretas, seja qual for seu interesse.

 

E a relação entre análise estratégica e métricas?
SR:  Parte da pesquisa para o livro envolveu analisar cases vencedores de prêmios com um componente digital forte. A maioria das métricas reportadas são táticas, não estratégicas. Campanhas usando Youtube computaram os números de visualizações, plays ou visualização completa, por exemplo. Para campanhas com downloads, se mediu o número de downloads. Com formulários, o número de submissões, e assim por diante. Estas métricas “de vaidade” (vanity metrics) são bonitas, mas elas não medem o progresso ou realização dos objetivos estratégicos.

Isto me intrigou. Perguntei-me porque tantas marcas “top de linha” otimizaram suas campanhas para as métricas que as plataformas oferecem. Depois de coçar bastante a cabeça, percebi que as métricas digitais reportadas por plataformas servem para medir a plataforma, não os objetivos da marca. Então, quando uma plataforma diz que funciona por promover compartilhamento e engajamento, ela oferece medidas em torno de atividades de compartilhamento e engajamento. A mensagem implícita é que, para ter sucesso em uma plataforma específica, a Marca X precisa otimizar para suas métricas.

Mas isto não funciona do jeito que as plataformas propõem. O estudo sobre o Facebook que expôs usuários a anúncios no Facebook e cruzou com dados de compra mostrou que 99% dos anúncios não foram clicados. O Facebook ainda promove interação e engajamento, mas modificou seu modelo de negócio para enfatizar vender à publicitários a ideia de que a publicidade no Facebook funciona como publicidade tradicicional: que o foco deveria ser alcance e frequência.

 

TS: Como os analistas podem implementar métricas efetivas, consistentes e confiáveis em mídias sociais? Quais são as etapas básicas?
SR: Marcas podem adotar uma abordagem que traga disciplina e estabilidade para a mensuração digital enquanto garante que marcas otimizem suas metas e utilizem métricas de plataforma sabiamente.  É bem direto. Primeiro, estabelecer seu objetivo. Segundo, desenvolver uma hipótese ou teoria de como a iniciativa digital deve trabalhar para sua marca. Terceiro, desenvolver um framework de mensuração. Por fim, selecionar métricas que se relacionem à teoria e encaixá-las em seu framework.

Veja o exemplo de uma marca de produtos embalados que procurava vender através de social. A teoria era: advocacia leva à vendas. Maiores níveis de advocacia levaria a maiores volumes de venda. Advocacia resulta de envolvimento do consumidor. O framework de mensuração era composto de quatro estágios progressivos de envolvimento do consumidor: consciência, participação, engajamento e advocacia. Para cada nível eles definiram o termo operacionalmente. Para ilustrar, Advocacia era definido como o meio pelo qual o consumidor é comprometido com a marca e fala (de forma não solicitada) pela marca para outros consumidores. A partir daí eles consideraram uma grande quantidade de medidas, eventualmente selecionando três: o número de recomendações sociais aos amigos; o net promoter score; e o conteúdo positivo gerado pelos usuários sobre a marca.

Você pode concordar ou discordar da teoria, framework e escolhas de métricas deles, mas o ponto importante é que a abordagem funcionou para eles. Ofereceu um modelo consistente de mensuração, permitindo-os interpretar as métricas ao longo do tempo, compartilhar suas descobertas com colegas e tomar ações para melhorar a performance da estratégia.

TS: Stephen, nesta perspectiva, qual o papel das associações de mercado, como a ARF, na padronização das métricas?
SR: É um papel muito importante. Muitas associações procuram padronizar métricas para promover definições comuns, para trazer consistência a práticas de negócios e para encorajar o desenvolvimento do mercado. O Field Guide não procurou criar definições padrões para todas associações adotarem, mas reportar definições que existem e identificar pontos em comum e diferenças. A ARF contribui nos esforços de padronização, com este livro representando o atual estado de conhecimento e ponto de partida.

Você escreveu sobre a mudança Technology-centric metrics para as Human-centric metrics. Isto significa uma relação mais forte entre mensuração de performance e métodos qualitativos como pesquisa e monitoramento?
SR: Sim. Não faz muito tempo que a audiência da televisão americana era medida ao nível das residências através de 5.000 aparelhos da Nielsen. O rating da época, então, era “Residências vendo TV” ou HUT (households using television). A mensuração hoje é muito, muito diferente. Hoje medimos o que as pessoas fazem, dizem e sentem. Isto significa que estamos mudando de entender o “quê” as pessoas estão fazendo para o “porquê” estão fazendo. Monitoramento (listening) e outros modos de pesquisa qualitativa podem ser muito úteis aqui, uma vez que “estamos ouvindo com o terceiro ouvido”, o que significa ouvir para as pessoas como pessoas e não impor nossa realidade à elas. Isto não é fácil para muitas marcas porque alguns de nós interessados em marketing, mídia e publicidade ainda acreditamos que nosso objetivo é persuadir consumidores a fazer as coisas que queremos que façam, quando queremos que façam. Mas quando pensamos sobre isto, a nossa próxima fronteira não é tecnológica, mas sim ajudar a marcas compreender as pessoas e servi-las através do marketing, mídia e publicidade. Nossa próxima fronteira é o humanismo.

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Social Analytics Summit – últimos dias para inscrição

Até o dia 22/11 ainda é possível realizar a inscrição no Social Analytics Summit, conferência sobre métricas e monitoramento de mídias sociais. Com curadoria minha e de Marcelo Coutinho, o evento trará relevantes palestras e debates com alguns dos profissionais mais experientes do país. Para apresentar a área, a mesa Inteligência nas Agências trará Daniele Dias, da Riot, Natália Traldi, da AgênciaClick, e Armando Neto, da DM9DDB, contanto como os setores de inteligência surgiram em suas agências.

Em Definições e Padrões de Métricas de Mídias Sociais no Brasil Luana Baio (dp6 e IAB) dividirá o palco com Flavio Ferrari (ex-Ibope e atual Qual Canal) para discutir se e como, afinal, serão definidas padronizações de métricas em mídias sociais no país. Em âmbito internacional temos grandes iniciativas do tipo, mas qual o estado disto no Brasil?

social analytics summit - palestrantesMensuração e Inteligência em Mídias Sociais: os clientes contam o que querem promete agitar o evento. Douglas Costa (Netshoes), Chiara Martini (Heineken) e Fabricio Guimarães (Philips) trarão a visão dos clientes sobre mensuração e inteligência em mídias sociais. O que estas três empresas realmente precisam na área? Como estão demandando serviços? Estas e outras perguntas recorrentes prometem ser respondidas no evento.

social analytics summit - palestrantes 2

 

Somarão-se a estas três discussões estratégias sobre o mercado palestras sobre tendências tecnológicas fortíssimas. Big Data: Veracidade e Valor, Dashboards de Mídias SociaisAtribuição Multicanal apontarão caminhos que podem ser seguidos para a ligação entre a comunicação e resultados, através das tecnologias.

Por fim, análises inovadoras na área com o apoio de métodos como social network analysisfocus groupetnografia digital fecharão o evento. Em palestra com o tema Social Network Analysis – Análise das Redes Sociais (de verdade!), Marcelo Coutinho demonstrará um tipo de análise que não é nada nova (remonta ao início do século XX), mas é pouco usada ainda em mídias sociais. E a mesa Pós-Demografia: entendendo e perfilizando o público nas mídias sociais trará cases de estudos de comportamento e perfis de consumidores, apresentados por Matheus Machado (Gauge) e Tatiana Tosi (Plugged Research), mediados por Juliana Ohashi (Ogilvy).

social analytics summit - palestrantes 3

O Social Analytics Summit será um interessante espaço de interlocução de profissionais ávidos por aproveitar cada dado, rastro e traço nas mídias sociais. Se você ainda não se inscreveu, uma mãozinha: usando o código de desconto sam2013tarcizio é possível economizar um pouco.

Acontecerá na Faculdade Casper Líbero (Av. Paulista), no dia 23 de novembro a partir das 08:00hrs. É isto. Te vejo lá?