Escritas e re-escritas de biografias digitais: projeções de Aza Raskin

O vídeo abaixo é uma palestra de Aza Raskin, um dos desenvolvedores do Firefox. Raskin fala sobre memória humana em ambientes digitais. Discute como o registro e o resgate  de experiências pessoais já é algo mais consolidado e fácil, devido ao suporte tecnológico. Mas, ao pensar o revisionismo destas experiências, fala como a memória de experiências passadas é sempre reconfigurada a cada lembrança e teme uma possível prática existente em um futuro próximo: product placement em fotos pessoais.

É, no mínimo, muito interessante pensar as implicações disso, ainda que apenas 25% dos usuários – do Facebook, por exemplo -, aceitassem esse tipo de prática. Raskin projeta alguns possíveis modelos de negócio que podem surgir neste mercado de “falsas memórias”. Vale a pena assistir.

Keynote for the John Seely Brown Symposium at University of Michigan from Aza Raskin on Vimeo.

E-mails, relacionamentos e memória digital

Em um contexto no qual boa parte das interações cotidianas são realizadas através de dispositivos de comunicação digital, a intensidade dos relacionamentos pode ser, até certo ponto, avaliada em termos quantitativos através de aplicativos de mensuração.

Um deles é o Etacts, que coleta e permite gerenciar dados a partir do Gmail. Com a proposta de ser um gerenciador de contatos, o Etacts apresenta-se da seguinte forma:

É impossível lembrar de manter contato com todas as pessoas que importam. Etacts permite que você mantenha seus relacionamentos através de três coisas:
1) Mostrar a você com quem você perdeu contato
2) Permitir que você configure lembretes de manter contato com as pessoas
3) Ajudar você a retomar o contatos significativemente lhe oferecendo contexto relevante sobre seus relacionametnos com as pessoas, como os últimos emails que vocês trocaram, ou suas atualizações recentes

Mais interessante, na verdade, é a quantidade de interpretações que podem ser realizadas por alguém a partir dos dados que um aplicativo do tipo oferece. Veja, por exemplo, o seguinte gráfico:

A imagem acima foi retirada da lista “Lost Connections” que o Etacts cria com os endereços que não entram em contato ou são contatados a muitos dias. Mostra a quantidade de dias, a data exata do primeiro, a quantidade de emails trocados total e a distribuição (enviados/recebidos). A imagem que posto aqui está, evidentemente, com os nomes borrados, mas qualquer usuário do aplicativo poderá perceber alguns padrões e interpretar seus próprios dados. Alguns contatos “perdidos” podem ser facilmente percebidos: uma amizade rompida, troca de emprego etc. Outros podem ser uma surpresa pra quem utiliza: “mandei tão poucos emails para fulano?” ou “nossa, três meses que não falo com sicrano”.

O Etacts também apresenta os dados em gráfico de linha comparando os totais mês a mês durante o último ano. Abaixo, dois exemplos: um contato criado e encerrado em pouco tempo e outro retomado:

Utilizamos softwares sociais como Gmail, blogs e sites de redes sociais durante anos e são armazenadas muitas informações. Com a tendência de criação de aplicativos extras através da Twitter API, Facebook Connect, Gmail Labs, OpenSocial e iniciativas semelhantes, desenvolvedores externos podem criar novos esquemas de processamento dessas informações. Muitas vezes, tais informações consolidas podem ser interpretadas pelos usuários e influenciar linhas de ação em relação às interações sociais e apresentação de si aos pares.

Memória Digital: duas perspectivas contrastantes

Digite um nome de um amigo próximo na busca interna do seu email. Ou navegue pelas fotos digitalizadas de sua vida. Busque seu nome no Google. Tente lembrar seu histórico de doenças. E o histórico financeiro?  E você sabe quantas vezes foi registrado por uma câmera de vigilância? Entre informações que você tem à sua disposição e outras que você nem tem ideia que existam, o registro das atividades humanas – seja em uma ótica pessoal ou institucional – estão cada vez mais intensos, presentes e pervasivos. Quais os impactos da memória digital?

Trago nesse post dois vídeos que são gravações de palestras de apresentações de livros, respectivamente Total Recall: How the E-Memory Revolution Will Change Everything e Delete: the Virtue of Forgetting in the Digital Age.

Jim Gemmel e Gordon Bell se perguntaram “e se pudéssemos lembrar de tudo”? A partir de uma perspectiva otimista, desenvolveram pesquisa, dispositivos e experimentos para analisar os benefícios da memória digital. Financiados pela Microsoft Research, um dos principais resultados da pesquisa é o projeto experimental MyLifeBits que tem como objetivo fornecer um sistema organizado de anotação e registro dos mais diversos materiais, em várias mídias e formatos.

Viktor Mayer-Schonberger, por sua vez, tem uma opinião totalmente contrária. Em seu livro, apresenta diversos casos em que a ausência do esquecimento prejudicou – injustamente – pessoas reais. Apresenta a questão da memória digital como um problema a ser enfrentado. Fala sobre as relações entre memória, tempo e poder. O esquecimento seria, para Mayer-Schonberger, algo natural e benéfico à existência humana.

As questões apresentadas são apenas algumas das muitas envolvendo a memória digital. E você, o que acha?