O Design Gráfico Brasileiro: Anos 60

o-design-grafico-brasileiro-anos-60-chico-homem-de-meloChico Homem de Melo é o organizador deste livro da Cosac Naify, que segue O Design Brasileiro Antes do Design, organizado por Rafael Cardoso. Desta vez são seis ensaios, contando com a introdução, que é extensa e repleta de exemplos e análises de designs.

Os dois ensaios seguintes são também de Chico Homem de Melo. O primeiro é  Design de Livros: Muitas Capas, Muitas Caras. Ao longo do texto o autor passa por vários designers, tipógrafos e ilustradores de capas de livros, como Moysés Baumstein, sobre o qual já escrevi neste singelo blog.

O outro é Design de Revistas: Senhor está para a ilustração assim como Realidade está para a fotografia. De título grandioso, é realmente um ótimo ensaio sobre duas revistas brasileiras antológicas, que puseram o melhor da ilustração e da fotografia a serviço do que existia de melhor em literário e jornalístico no país. No final do post, um trecho deste ensaio.

Rogério Duarte, designer baiano, é o tema do quarto texto, de Jorge Caê Rodrigues. Responsável por parte do discurso gráfico do tropicalismo, produziu as capas dos disco homônimos de Gilberto Gil e de Caetano Veloso de 1968. Também foi autor do clássico cartaz de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Jorge Caê Rodrigues também aborda um pouco – o suficiente -, da vida controvertida de Duarte, com informações necessárias para entender este artista polêmico.

André Stolarski escreveu o texto A Identidade Visual Toma Corpo, mostrando o estabelecimento de padrões de identidade visual em algumas empresas e produtos brasileiros, a partir da atuação de designers do porte de Alexandre Wollner, Cauduro Martino, Aloísio Magalhães e Ruben Martins.

Fechando o livro, De Costas Para o Brasil, O Ensino de Um Design Internacionalista é uma crítica contudente feita por João de Souza Leite sobre a replicação de modelos de ensino de escolas européias, como a Ulm, sem levar em conta as especificidades do Brasil.

É deste livro um trecho com o qual pretendo abrir a introdução do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Mesmo que eu frequentemente eu não concorde com algumas das idéias de Chico Homem de Melo (como a comparação com o cinema, como se a revista e a arte sequencial fossem posteriores à sétima arte), o texto abaixo toca em várias das muitas matérias significantes com as quais o designer de revistas tem de lidar:

A matéria sobre Arrelia é primorosa. Lembremos ser ele um palhaço terlevisivo, à frente de um programa dominical que permanceu décadas no ar. À inversão presente nos textos corresponde uma inversão análoga nas imagens: a postura sisuda e distante estampada no sóbrio preto-e-branco da primeira foto – quase uma pintura – é substituída pelo retrato colorido e acolhedor do palhaço. No canto, o passo-a-passo da transformação, na forma de um curto storyboard. A virada da página corresponde exatamente ao corte da cena.”

Já publiquei esta matéria em outro post, no qual escrevo sobre esta diagramação sequencial.

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O Design Brasileiro Antes do Design – Aspectos da História Gráfica, 1870-1960

o-design-brasileiro-antes-do-designMuitos consideram a criação da ESDI, em 1963, como o marco inicial do design brasileiro. Mas, apesar de que o termo “design” só foi utilizado no país a partir dessa época, algumas práticas anteriores evidenciam que a história gráfica do Brasil entre 1870 e 1960 apresentou inúmeras manifestações do que pode ser chamado hoje de design. É isso que Rafael Cardoso, organizador do livro O Design Brasileiro Antes do Design prova através dos ensaios selecionados.

O primeiro texto é A circulação de imagens no Brasil oitocentista: uma história com marca registrada, no qual Lívia Lazzaro Rezende escreve sobre desenho de marcas e embalagens no final do século XIX.

Em seguida, Do gráfico ao foto-gráfico: a presença da fotografia nos impressos, trata do início da utilização de fotografia em periódicos, revistas ilustradas e álbuns. Texto de Joaquim Marçal Ferreira de Andrade.

A Maçã e a renovação do design editorial na década de 1920, no qual Aline Haluch escreve sobre esta e outras publicações lançadas no início do século, abre um miolo com cinco textos sobre design editorial.

O texto seguinte, de Julieta Costa Sobral, dedicado a J. Carlos, sobre o qual já escrevi neste blog. Do organizador Rafael Cardoso, O início do design de livros no Brasil. De Edna Lúcia Cunha Lina & Márcia Christina Ferreira, o texto Santa Rosa: um designer a serviço da literatura. Também em torno de um artista é o texto Ernst Zeuner e a Livraria Globo, sobre o artista alemão radicado no Brasil.

Em Os baralhos da Copag entre 1920 e 1960 Priscila Farias fala dessa indústria, que pede um design “invisível”:

“[…] o apego às tradições e o respeito a convenções estabelecidas historicamente são fundamentais para garantir a identidade e permanência dos jogos tradicionais. Some-se a isso a resistência de jogadores e fabricantes a aceitar novidades, justificada pelo fato de que certas mudanças poderiam incentivar ou favorecer a fraude, e o resultado é que podemos encontrar nas cartas de jogar, assim como na tipografia tradicional, registros visuais bastante precisos dos gostos e costumes de eras remotas.”

E, para fechar o livro, Capas de discos: os primeiros anos, de Egeu Laus. Neste blog já foi publicado um texto sobre César G. Villela.

O livro, publicado pela Cosac Naify, foi editado com várias sobrecapas diferentes. Por baixo destas, uma capa vermelha (acho que 75% dos livros sobre design tem capa vermelha) com fio tipográfico delimitando o espaço do título e nome do autor.

É um livro fascinante da primeira à última página. São 360 recheadas de ilustrações, com um projeto gráfico excelente. No ano seguinte a editora lançou O Design Gráfico Brasileiro: Anos 60, organizado por Chico Homem de Melo, que será resenhado em breve. Por enquanto, leia o post sobre um dos ensaios.

Rafael Cardoso é um dos maiores historiadores do design, brasileiro ou não. Também é autor, entre outros livros, de Uma Introdução à História do Design.

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Eliseu Visconti – Caixa Cultural de Salvador

eliseu-visconti-bibliotheca-nacional-do-rio-de-janeiroDe nascença, Eliseu Visconti é italiano. Nasceu em Giffoni Valle Piana em 1866. Muito cedo, entretanto, veio para o Brasil com os pais. Depois de estudar  no Liceu de Artes e Ofícios e na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, conseguiu uma bolsa e foi estudar na França, passando pela École Nationale et Spéciale des Beaux-Arts e pela École Guérin. Lá foi aluno de Eugène Grasset e conheceu a Art Nouveau. De volta ao Brasil, foi um dos introdutores deste estilo em ilustração, decoração, design gráfico e pintura.

Sua obra mais conhecida é a decoração do Theatro Municial do Rio de Janeiro. Até 8 de março a reprodução destes paineis mais trabalhos de Eliseu Visconti em pinturas, cartazes, ex-libris, selos, capas de revista, cartões, cerâmica e decoração estarão expostos na Caixa Cultural de Salvador , na exposição Eliseu Visconti – Arte e Design. A curadoria é de Rafael Cardoso, historiador do desgin brasileiro e organizador do livro O Design Brasileiro Antes do Design.

A exposição já passou pelo Rio de Janeiro e por São Paulo, em 2008. Neste ano, depois de Salvador, tomará lugar em Brasília.

A entrada é franca. O espaço está aberto de terça a domingo, das 9h às 18h e fica na Carlos Gomes, n°57.

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The Vignelli Canon – livro sobre design gráfico

the-vignelli-canonMassimo Vignelli acaba de lançar em pdf e gratuito o The Vignelli Canon (pdf). É um livro com os fundamentos do design, divido em duas partes. A primeira é sobre os valores “intangíveis”, enquanto a segunda traz considerações sobre as técnicas do design gráfico.

Vignelli é um dos grandes nomes do design gráfico desde a década de 1960. Atualmente é um grande detrator do “design pós-moderno”. No documentário Helvetica, por exemplo, declarou polemicamente que “nos anos 70, a geração jovem estava atrás de fontes psicodélicas, e qualquer coisa junkie que poderiam encontrar. Nos anos 80, com suas mentes completamente confusas por essa doença que foi chamada de Pós-Modernismo, as pessoas estavam desnorteadas como galinhas sem cabeça, usando todo tipo de fontes que poderiam dizer “não modernas”.

Neste livro continua com as palavras ácidas, como em:

The advent of the computer generated the phenomena called desktop publishing. This enabled anyone who could type the freedom of using any available typeface and do any kind of distortion. It was a disaster of mega proportions. A cultural pollution of incomparable dimension. As I said, at the time, if all people doing desktop publishing were doctors we would all be dead!

Na Parte 1 Vignelli escreve sobre is valores “intangíveis que acredita: semântica, sintaxe, pragmática, disciplina, propriedade, ambiguidade, unicidade, poder visual, elegância intelectual, atemporalidade, responsabilidade e equidade.

A segunda parte é sobre o tangível: tamanhos de papel; grelha, margem, colunas e módulos; carta corporativa; grelhas para livros; família de fontes, as básicas; alinhamento à esquerda, centro ou justificado; relação entre tamanhos de fontes; fios tipográficos; contratando tamanho de fontes; escala; textura; cor; layouts; sequência; acabamento; identidade e diversidade; espaço em branco; uma coleção de experiência; e conclusão.

Destaco o trecho sobre sequência. É uma dimensão do design de brochuras (revistas, livros, guias…) que é comumente ignorada e que eu penso ser de importância crucial para a maioria das publicações desse tipo. Segue um trecho e a imagem de uma dupla:

A publication, whether a magazine, a book, a brochure, or even a tabloid is a cinematic object where turning of the pages is an integral part of the reading experience. A publication is simultaneously the static experience of a spread and the cinematic experience of a sequence of pages.

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Bauhaus, de Magdalena Droste

bauhausNo epílogo de Bauhaus, Magdalena Droste reitera no leitor a impressão de um trabalho bem feito. Com o subtítulo “Lenda da Bauhaus”, o epílogo formula, com todas as palavras, o que já estava por baixo das palavras em cada uma das noventa e quatro páginas anteriores do livro. O “Estilo Bauhaus” e a lenda sobre seu sistema de ensino são em parte construção do trabalho de relações públicas que Walter Gropius manteve, mesmo depois do fechamento da escola.

Porém, essa constatação não significa que a Bauhaus deixa de  ser um marco fundamental na história do design.  Neste livro da Taschen, são mais de trinta pequenos capítulos sobre a história da escola da sua fundação em 1919 ao fechamento em 1933.

O texto crítico de Droste aborda, é claro, os diretores Walter Gropius, Hannes Meyer e Mies van der Rohe, de seus diferentes sistemas de ensino, das proposições políticas de cada fase, das brigas de poder e dos mestres que passaram pela escola como Wassily Kandisnky, Paul Klee, László Moholy-Nagy entre outros. Mas não se resume a isso.

Como já disse, o texto sobre todos esses tópicos indispensáveis é crítico e bem escrito. Mas algumas questões, que poderiam ser facilmente deixadas de lado por outro historiador, marcam presença. É o caso do capítulo “Mulheres, Homens, Casais”, no qual critica os critérios de seleção que favoreciam homens, e escreve sobre o papel desempenhado por Ise Gropius, Lilly Reich e outras mulheres na Bauhaus.

Há duas edições deste livro. A que resenhei e que tem a capa que serve de imagem do post, é  a versão menor e mais barata. Mas também há uma versão maior, daquelas de “pôr na mesinha de centro”.

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– Vejam os preços de ambas as versões de Bauhaus
– Artigo do Wikipédia sobre a Bauhaus