Coleção Debates e o design moderno no Brasil

E quais são as invariantes então? A primeira é o formato, uma informação básica que já particulariza a Debates ao primeiro contato: o volume é mais estreito do que a proporção convencional 2:3 (como no caso 14cm x 21cm, por exemplo). Sua dimensão é 11,5 x 20,5, aproximando-se da proporção de 1:2. Além de marcar uma diferença perceptível em relação ao restante do mercado, essa proporção altera a visualidade geral do livro, deixando-o mais esbelto. O maior impacto, porém, se dá na informação tátil. A relação da mão com o volume altera-se. Ele é manipulável com mais facilidade, sem perder a escala que a altura convencional garante. Nesse aspecto, lembra os guias de viagem, sempre mais estreitos para facilitar o manuseio e o transporte.

A segunda invariante é o diagrama, rigorosamente igual em todos os volumes. A capa é dividida em setores, cada um deles correspondendo a um tipo de informação. O tratamento gráfico dado a cada uma delas é sempre o mesmo. A terceira invariante é a cor do fundo, branco em todos os volumes. A quarta é o logotipo, a palavra “debates” repetida três vezes, formando um bloco visual, localizado sempre no alto, à esquerda.

As variantes, além do nome do autor e do título, são o nome da área, a cor dos dois fios grossos do alto e o número na lombada. A cor dos fios é um código que indica a área de conhecimento à qual o volume pertence.

O resultado é que, ao entrarmos numa livraria, ou na biblioteca da casa de alguém, os livros da Debate eram – e ainda são – reconhecidos num relance, mesmo se for um único volume guardado numa prateleira cheia de outros livros. Dado o seu caráter de coleção, o mais frequente era eles serem guardados agrupados, o que torna sua presença visual ainda mais marcante. Limpeza, precisão, legibilidade, clareza, código. Sistema. O ideário modernista brasileira chega aos livros em 1968 e dá uma das melhores respostas ao desafio de projetar uma coleção na história do design brasileiro.”

O excerto acima foi retirado do ensaio “Design de livros: muitas capas, muitas caras”. Faz parte do livro “O Design Gráfico Brasileiro: Anos 60“, organizado por Chico Homem de Melo. É ele quem assina esse ensaio, no qual está surpreendentemente inspirado ao falar do design editorial de Moysés Baumstein. Também constam no livro mais dois ensaios de Melo: “Um Panorama dos vertiginosos anos 60” e “Design de revistas: Senhor está para a ilustração assim como Realidade está para a fotografia”. O designer baiano Rogério Duarte é tema de “O design tropicalista de Rogério Duarte”, de Jorge Caê Rodrigues. E, na outra ponta da prática do design, dois ensaios se debruçam sobre práticas modernistas: “A identidade visual toma corpo”, de André Stolarski” e “De costas para o Brasil, o ensino de um design internacionalista”, de João de Souza Leite.

O livro continua a história do design brasileiro pela editora Cosaca Naify, que já publicou “O Design brasileiro antes do design”, organizado por Rafael Cardoso Denis. Já mencionamos o ensaio sobre J. Carlos e a Paratodos… Sobre Stolarski também já falamos. Ele foi o produtor, e entrevistador, do documentário Alexandre Wollner e a formação do design moderno no Brasil. O livro é bastante suculento, renderá outras postagens com certeza. Enquanto isso, alguns links:

+ Mais sobre Moysés Baumstein
+ Compre o livro aqui
+ Signofobia, O Design Como Ele É e Os Desafios do Designer, livros de Chico Homem de Melo
+ Baixe “Alexandre Wollner e a formação do design moderno no Brasil
+ Leia sobre “J. Carlos, Para Todos e o Pierrô

Vektorika

A Vektorika é uma revista dedicada à ilustração vetorial. Temática desde o segunda número, já reuniu trabalhos sobre: Helvetica, Superstar, Erotika, Toys+Games, Beauty, Rock n’ Roll, Love, Asiana, Character Design. Apesar de ter algumas páginas realmente inspiradas, em alguns números a redundância é muito marcada. Sobre o tema Beleza, por exemplo, somente uma ilustração representa um garoto. A imagem ao lado é de Amalia Kartika, artista da Indonésia, sobre Amor.

Innovations in Newspaper

Os jornais ao lado são exemplos de uma nova proposta de formato, chamado 3030. Foi criado pela Innovation Media Consulting, um grupo de consultoria em mídia. Um dos seus fundadores, Juan Antonio Gider, mantém o blog Innovations in Newspaper, de onde tirei a imagem.

Os exemplares seguem a tendência de “revistização” dos jornais: diminuição do formato, papel de melhor qualidade, cores em todas as páginas, apuro tipográfico e apenas uma ou duas grandes fotografias na capa.

Jornalismo de Revista, de Marília Scalzo

Uma revista tem três características definidoras. A primeira é a especialização. Cada uma possui um tipo público bem definido e deve ser feita visando falar com essas pessoas, trazer projeto editorial e gráfico condizente com suas expectativas e repertório.

A segunda é o próprio formato físico. Maior apuro gráfico, papel e impressão melhores, portanto maior cuidado com a imagem. O design de revistas é algo mais refinado que o de outros produtos comunicacionais impressos. A terceira, finalmente, é a periodicidade. As revistas jornalísticas semanais, por exemplo, se diferenciam dos jornais impressos por aprofundar mais o assunto e por dar mais espaço para o estilo individual do escritor etc.

É a jornalista Marília Scalzo quem cita essas três características, altamente correlacionadas, em um capítulo breve e suculento de seu livro Jornalismo de Revista. Em nove capítulos, o livro trata de aspectos econômicos do mercado de revistas, história e evolução das revistas no Brasil, características do bom jornalista de revista, o que faz uma boa revista, e questões éticas.

Marília Scalzo dirige o famoso e concorrido Curso Abril de Jornalismo. Já trabalhou na Folha de São Paulo e nas revistas Playboy, Capricho, Veja SãoPaulo, Casa Claudia e A&D, além de ter criado o projeto editorial de Claudia Cozinha. O livro faz parte da coleção Comunicação, da Editora Contexto. Assim como os outros livros lançados (Jornalismo Digital, Assessoria de Imprensa, Jornalismo Cultural etc), foca-se em questões práticas da profissão, não tem peso teórico. Porém, são leituras muito interessantes, mesmo os trechos mais próximos ao relato.

Outro capítulo que destaco no livro é o VII: “O que é uma boa revista”. Além de falar da importância da pauta e do texto propriamente dito, a autora fala de quatro aspectos de maior relevância para os leitores aqui do blog. Capa, fotografia, infografia e design, com o bom subtítulo que, talvez justamente pela sua obviedade didática, é chamativo: “design de revista não é arte”.

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