Emicida, tecnologias africanas, redes sociais e tambores

Como sabemos, Emicida é rapper, compositor, cantor, empresário e inovador de sucesso. Recentemente lançou também a antologia inspirada na mixtape “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe…” reunindo textos e ilustrações de dezenas de pensadores e artistas brasileiros. Não seria surpresa, então, todo seu conhecimento sobre tecnologia e sociedade presente em suas músicas.

É o que vemos aqui também em formato de ensaio. Emicida gentilmente topou o desafio de escrever o prefácio do livro Comunidades, Algoritmos e Ativismos Digitais: olhares afrodiaspóricos que acabamos de lançar. Leia a seguir:

Há alguns anos, enquanto viajávamos por países do continente africano, fui surpreendido por uma pessoa que trabalhava em nosso projeto que após dividir algumas ideias, me questionou com a seguinte sentença: “Mas o que é que África tem a ver com tecnologia?”.

Me recordei naquele momento, das primeiras páginas de “Entre o Mundo e Eu” onde Ta-nehisi Coates discorre sobre a distância entre as realidades dele e da jornalista branca com quem dialogava na TV: ela parecia estar mais longe do que o satélite que os transmitiam ao vivo para o mundo todo.

Oras, se a essência das redes sociais é a conectividade, está para nascer uma que cumpra seu papel com mais eficácia do que um tambor. Sentar-se em círculos, ouvir histórias (principalmente) dos que vieram antes e extrair os melhores sentimentos dos participantes, ressaltando como a escuta é valiosa, me parece estar anos-luz à frente do mais promissor sonho de funcionalidades facebookianas de Mark Zuckerberg.

É importante admirar o admirável e para tal, é fundamental que nossas lentes estejam limpas e não sabotem essa característica tão poderosa da capacidade humana. Culturas são lentes, é por elas que percebemos o mundo.

Tecnologia, storytelling, minimalismo e ideias que visam ampliar a percepção do que significa ser humano, não podem ser vendidas no século XXI como “invenções do vale do silício”. Ainda mais para quem criou a Tábua de Ifá, a Ayurveda, as 5 orientações de gênero de alguns povos ameríndios ou a força das Mulheres Macuas. Como diria Paulina Chiziane, “às vezes sinto que nos oferecem algo que já era nosso antes deles chegarem”. Nootrópicos vieram milênios depois do Ginseng.

Tudo o que sabemos (ou o que o hemisfério norte e  seu confiante eurocentrismo julga saber), equivale só a 4% do universo, o resto é matéria e energia escura e, falando em Energia e Matéria Escura, esse livro compartilha muito a respeito do que tem a ver a África e a tecnologia.

Leia, baixe e/ou compre o livro em http://www.literarua.com.br/livro/olhares-afrodiasporicos

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