Mensuração: de 2010 a 2015, o principal entrave para as marcas nas mídias sociais

O gráfico abaixo, da histórica pesquisa “Mídias Sociais nas Empresas”, da Deloitte em 2010, esteve presente nas primeiras aulas e palestras que realizei. Cinco anos atrás, quando se falava bem menos sobre digital social analytics e mensuração de resultados em mídias sociais, era um gráfico necessário para se mostrar a importância destas capacidades para o profissional:
pesquisa deloitte
Ontem, no #FORRForum, da Forrester Research, o gráfico abaixo foi compartilhado. Trata-se da quantificação dos problemas e entraves mais frequentes para o marketing nas mídias sociais, em plataformas orgânicas. “Medir a performance destes perfis” lidera com muita folga frente a “Achar ou criar conteúdo para publicar” e “Decidir que tipo de conteúdo publicar”.

The Biggest Problem - Measurement

É particularmente alarmante esta percepção, pois os canais orgânicos são justamente os que oferecem mais dados para os gestores de marca e conteúdo. A importância de se divulgar análise rigorosa e procedimentos científicos, além de fomentar o debate na área, parece continuar tão relevante quanto cinco anos atrás.

O que sua agência, consultoria ou associação está fazendo para mudar esta situação?

Por que ainda não existem padronizações das métricas em mídias sociais?

A ideia pela busca da “padronização” de métricas para a comunicação realizada nas mídias sociais é constante e discutida intensamente já há quase 10 anos. Porém, até hoje não existem consensos relevante sobre como reportar resultados obtidos nas mídias sociais. As perguntas são várias: Seguir métricas tradicionais como GRP e AVE? Abraçar as métricas fornecidas por cada plataforma? Utilizar índices propostos por ferramentas?  Focar apenas em resultados financeiros? E como?

mercado da audiencia

Mais do que dar uma resposta aqui, quero mostrar como as mídias sociais trouxeram mais questões através da disrupção das relações entre os atores tradicionais do mercado da audiência. As relações entre Clientes, Organizações de Mídia, Agências, Institutos de Mensuração e Consumidores muda de forma talvez irreversível desde a disseminação dos recursos da web 2.0.

Estes atores do mercado da audiência são descritos de forma excelente por Philip Napoli em seu livro “Audience Economics – Media Institutions and the Marketplace”. A relação construída entre estas instituições permitiu à comunicação de massa tornar-se um dos principais pilares da maioria das sociedades contemporâneas.

De modo geral, sua relação tradicional é bem simples, quase intuitiva para profissionais de comunicação. Em primeiro lugar temos Organizações de Mídia que vendem a audiência, ou atenção, de consumidores. Jornais impressos, revistas, canais de televisão oferecem produtos de informação e entretenimento que captam a atenção de consumidores. E  o produto de informação/entretenimento é oferecido de graça ou vendido a preço módico para estes Consumidores, que serão a moeda de troca entre as Organizações de Mídia, Agências e Anunciantes. Estes precisam da atenção dos Consumidores. Para chegar a eles, se relacionam com Agências para produzir conteúdo publicitário com potencial de chamar atenção na mesma medida do entretenimento e informação do restante dos produtos das Organizações de Mídia. Por fim, as Empresas de Mensuração auditam quais canais, programas e seções dos produtos das Organizações de Mídia mais são vistos, circulam, têm tiragens impressas ou são ouvidos.

Nunca foi tão simples quanto o parágrafo anterior leva a crer. Mas alguns consensos sobre referenciais de mensuração foram construídos ao longo das décadas do século XX. Não é à toa que “ibope” virou metonímia. Mas a internet, comunicação digital e mídias sociais implodiram todas as certezas. Especialmente, realizaram a disrupção das relações entre as instituições do mercado da audiência. Os papéis de cada um deles foram postos em cheque, graças à oportunidades e desafios que foram construídos nos últimos 20 anos.

1. Organizações de Mídia. Em primeiro lugar, as organizações de mídia receberam mais concorrência e complexidade. A maioria dos conglomerados de comunicação fortes em cada país ou região menosprezaram a internet durante bom tempo, dando abertura à players que trabalharam com a lógica “tradicional” da audiência (como Portais) e/ou criaram novos modelos de negócio baseados em melhorias da identificação de comportamento (Google e suas buscas) ou segmentação (como Facebook). Através de recursos de web analytics ou a possibilidade de estabelecer regras (mutáveis) em novos ambientes sem padronizações, estas organizações de mídia prescindem em grande parte de empresas de mensuração. Algumas lançam seus recursos de self-service ads pra contornar as práticas das agências que diminuem suas receitas (como BV). Por outro lado, na relação com consumidores, estes últimos passam a exigir também seus shares, como os chamados probloggersvloggers.

2. Anunciantes. No caso das empresas, a complexidade da escolha e gerenciamento das mídias demandou uma maior especialização dos fornecedores e, especialmente, uma necessidade por atenção mais relevante aos consumidores e tendências do mercado. De um lado, passaram a exigir mais. De outro, algumas passaram a internalizar alguns tipos de serviços para responder com rapidez ao mercado não só em termos de produto, mas também de marcas. Laboratórios internos de comunicação são frequentes hoje em grandes organizações. A mensuração de resultados entre praças diferentes passa a ser o padrão, levando os gerentes de marketing a se aproximarem cada vez mais da inteligência e mensuração da comunicação.

3. Agências. A disrupção das relações entre os atores do mercado da audiência foi analisada a fundo sobretudo pelas agências. De modo real (ou canastrão), os conceitos de “inovação” passaram a ser o tom de grande parte dos grupos de agência. Para tanto, precisaram responder à demandas das empresas oferecendo tanto mensuração  (e os vários cargos de business intelligence por aí comprovam) quanto pesquisa de forma interna. Não é à toa que o mercado de monitoramento de mídias sociais, nas agências de publicidade e R&P, evoluiu em grande parte à revelia do mercado de pesquisa, no qual faria mais sentido inicialmente. Desse modo, as agências passaram a abarcar papéis de outros atores do mercado da audiência.

4 – Empresas de Mensuração. Especialmente no que tange à mensuração, a revolução da comunicação digital – bits, números por definição – democratizou diversos tipos de atividades e possibilidades de coleta de informação. Até os perfis pessoais, nas mídias sociais, possuem seus índices de popularidade – recurso psicossocial para motivar uso -, levando os consumidores comuns a terem maior consciência de seus impactos. Neste contexto, as empresas e agências passaram a realizar as aferições por si mesmas em ambientes que ganham mais e mais espaço e receita publicitária. As empresas de mensuração trataram de lançar novas tecnologias, incluindo softwares de web analytics e monitoramento de mídias sociais, para atender a esta demanda e manter mercado.

5 – Consumidores. Por fim, os consumidores tornaram-se não só os provedores do dinheiro através de seu consumo, mas também de grande parte dos próprios materiais convergentes de atenção. As mídias sociais são espaços de produção colaborativa, de conteúdo amador, conteúdo fortuito ou até involuntário de alguns usuários. O tal prosumer do Alvin Toffler percebeu que gera receita e passou a exigir através de blogs profissionais, canais de vídeo amador etc. E até o consumidor “comum” sabe do impacto de seus comentários negativos nas páginas Facebook e o faz conscientemente para atingir os números das empresas.

Resumindo, tudo isto converge para a resposta da pergunta do título. Por que ainda não existem padronizações das métricas em mídias sociais? Porque não só as plataformas são complexas e diferentes entre si, com sobreposições de estilos e interfaces, mas também os papéis de cada ator do modelo clássico do mercado da audiência não são mais os mesmos. Os consensos do mercado de audiência tradicional, azeitados durante décadas, não serão desenvolvidos em todos os níveis do novo mercado da audiência. Levar em conta todos estes fatores (e muitos outros) é essencial para se pensar a avaliação e mensuração da comunicação hoje.

As padronizações não devem ser buscadas, portanto, em métricas ou índices específicos. Pelo simples motivo de que os consensos de um ambiente midiático do passado não são mais possíveis devido à complexidade da comunicação digital. As padronizações devem, na verdade, ser buscadas em termos de procedimentos da avaliação e mensuração da comunicação, se aproximando do rigor científico da pesquisa e contextualizados caso a caso.

Confira o histórico do blog e assine o feed para conferir alguns destes procedimentos possíveis.

Comentários sobre a pesquisa “Profissional de Métricas, Monitoramento e Social Analytics no Brasil”

Idealizar e realizar as edições anteriores da pesquisa “Profissional de Métricas, Monitoramento e Social Analytics no Brasil” em 2011, 2012 e 2013 foi algo extremamente produtivo para minha carreira em monitoramento de mídias sociais. Junto a outras produções como este blog, palestras, aulas e os ebooks, permitiu conhecer melhor o mercado, ferramentas, práticas e demandas, conhecimento muito útil ao  atual trabalho como Gerente de Produto da Social Figures / BrandCare.

Isto dito, fica claro que não foi uma decisão fácil passar o comando da pesquisa para outra pessoa (devido a conflito de interesses). Mas foi uma ótima ideia convidar o Júnior Siri a adotar o projeto. Publicitário pela UNIT e atualmente supervisor de Business Intelligence na SapientNitro, Siri melhorou o projeto em praticamente todos os aspectos possíveis. Diversos blogs já fizeram resumos e highlights da pesquisa, como Brainstorm9, Midializado, Camisa Nova, Caio Cidrini e Social Figures. Então vou me abster de resumir os pontos gerais e, logo depois do slideshow incorporado abaixo, vou dar ênfase a algumas questões particularmente interessantes.

Mestres e Doutores ganham mais por causa do título?
Volta e meia, alguns profissionais irresponsáveis dizem que a “academia” estaria atrasada em relação ao “mercado”. Curiosamente, no mercado de mídias sociais, isto é frequentemente dito por alguns profissionais empreendedores que, por um motivo ou outro, não finalizaram sequer a graduação. Apesar de sequer conhecerem minimamente a produção da “academia” (como os excelentes GITS, Labic, Lab404, MediaLab, entre outros), utilizam o discurso do distanciamento como algo legitimador de si mesmos. Na área de social analytics (aqui uso o termo de forma abrangente pra pesquisa e monitoramento), este discurso, finalmente, está caindo por terra. Comparando o dado desta pesquisa com a do Raio-X do Trampos, por exemplo, vemos que a taxa de formação em mestrado e doutorado no mercado de mídias sociais já chega  a 2,61% dos profissionais. Mas entre os respondentes da pesquisa de social analytics, esta taxa chega a 8% dos profissionais.

escolaridade profissionais de monitoramento de mídias sociais

Para além disto, os profissionais com mestrado ou doutorado ganham muito mais do quê os graduados ou especialistas stricto sensu:

remuneração profissionais de monitoramento de mídias sociais por escolaridade

Porém, não acredito que se trate da valorização do título acadêmico em si. Em agências de publicidade que trabalhei, nunca perguntaram meus títulos. Mas valorizaram imensamente minhas habilidades analíticas, aprendidas na universidade. Como exemplifica de jeito formidável o discurso na pesquisa do Trampos:

ainda que matérias sobre Mídias Sociais sejam novidade nas escolas e faculdades, o preparo acadêmico mostra-se fundamental para alcançar maiores salários.

Ou seja, existe uma noção errônea de que as práticas da comunicação em mídias sociais sejam algo totalmente disruptivo. Mas a realidade é que as disciplinas, teorias e técnicas comuns nas grades de comunicação, como Psicologia Social, Marketing, Comportamento do Consumidor, Estatística e afins são base sólida para profissionais que conseguem ligar os pontos e usar as lógicas e análises subjacentes a estas disciplinas para entender as affordances e práticas particulares das novas plataformas.  Então o ponto é: estes profissionais com mestrado e doutorado estão em crescimento e conseguem melhores salários e cargos por terem aprendido habilidades que fazem a diferença, mas os contratantes em si ainda não despertaram para esta realidade.

Abismo entre Gêneros, Poder de Voz e Síndrome da Impostora
Um dado particularmente preocupante foi a diferença salarial entre homens e mulheres. Um curioso gráfico que o Júnior Siri pôs na pesquisa comparou a predominância destes dois gêneros em cada faixa salaria. O resultado, alarmante, pode ser visto abaixo:

faixa salarial por gênero - monitoramento de mídias sociais

Isto é totalmente relacionado com a discrepância absurda entre número de homens e mulheres palestrantes na área de comunicação digital, como mostrei em outra postagem. Temos um triste ciclo vicioso: mulheres recebem menos pro desigualdade social; conseguem menos cargos relevantes e de gerência; por causa disto têm ainda menos probabilidade de palestrarem em eventos de mercado; jovens profissionais mulheres tem contato com quantidade menor de referências para se identificar completamente. Urge quebrar este ciclo.

Invisibilidade dos Cases de Inteligência e Pesquisa
Um traço componente do valor de informações e análises é a restrição a seu acesso. Transformar dados em informações acionáveis gera valor para as empresas especialmente quando há um diferencial competitivo. Por este e outros motivos, poucos cases de social analytics e inteligência em mídias sociais são conhecidos do público. As referências deste mercado, então, acabam por ser os profissionais que possuem os cases mas também realizam algum esforço de mostrar seus conhecimentos, ainda que apenas de forma instrucional:

referencias social analytics

Migração de Profissionais
Em relação ao slide anterior, outro ponto relevante é que 8 das 10 referências estão alocadas em São Paulo. Mas apenas 4 são do próprio estado. O restante migrou para o estado em algum momento do início de suas carreiras. As exceções são a professora universitária Raquel Recuero e a Daniele Rodrigues, que está no Rio, mas anteriormente fez sua carreira em São Paulo, depois de migrar do Paraná. Um dos principais motivos (e, também, causador) para tal concentração pode ser visto abaixo:

faixa salarial por regioes - monitoramento de midias sociais

Ferramentas de Métricas x Disponibilidade de Dados
Quem trabalhou com monitoramento de mídias sociais nos dois últimos anos percebeu um curioso movimento na relação das agências especializadas com as mídias sociais. Ao mesmo tempo em que a atividade dos usuários no Twitter continuou intensa, especialmente em alguns segmentos, ao ponto de entregar mais menções que o Facebook (também por causa das restrições de privacidade), as agências passaram a usar menos e menos o microblog para ações e campanhas. Em 2014, os grandes eventos (Copa e eleições) trouxeram os holofotes de volta ao Twitter. O lançamento do Twitter Analytics, agora com dados de impressões e engajamento mais detalhados, foi logo abraçado pelos analistas:

 

ferramentas de metricas mais utilizadas

Parece que o Twitter, finalmente, aprendeu a importância em oferecer métricas relevantes e imediatas para os profissionais de comunicação. Mesmo que as métricas específicas de cada mídia social estejam longe de serem KPIs relevantes por si só para as empresas, são utilizadas como tal ou transformadas em outras informações. Por isto, é importante para as plataformas fomentar a apresentação de resultados pelos profissionais de comunicação, para quê o investimento das marcas e direcionamento de usuários ajude a manter a base.

Entrevista com Gabriel Ishida

eu profissional 2013 paulistaContinuando com a série de entrevistas com palestrantes/professores do Social Analytics Summit 2014, hoje temos um papo com o Gabriel Ishida, que é Cordenador de Social Intelligence na dp6, além de produtor de muito conteúdo sobre a área em seu blog Midializado, SlideShare ou na escola Atlas Media Lab.

Com este atual domínio do Facebook, como o profissional pode descobrir em quais outras plataformas e mídias sociais vale a pena investir?
Acredito que o monitoramento em mídias sociais pode fornecer bons indícios para se investir em outras plataformas. Configurar a ferramenta para buscar menções em outras redes e verificar o comportamento que o público mostra em cada uma é uma forma inicial de se entender até qual abordagem e estratégia fazer em cada canal.

O que você acha que é essencial para um profissional que deseje se especializar em mensuração de resultados?
Acho que a melhor forma de se aprender é tendo contato com alguém do mercado e, junto com isso, trabalhando na área. Muitas pessoas acreditam que lendo, pesquisando e acompanhando o trabalho de outras pessoas é o suficiente, mas hoje vejo que é muito importante para o aprendizado a pessoa trabalhar na área e ter um bom tutor. Se por acaso não tem oportunidades de trabalho, busque fazer relatórios para seus projetos ou de amigos e busque saber a opinião de profissionais. Assim, você vai construindo portfólio e bagagem para concorrer a uma vaga.

Tem algum caso que você poderia citar no qual alguma métrica ou dado menos comum foi decisivo para alguma estratégia, ação ou decisão?
Certa vez, criamos a métrica “Usuários convertidos” para mensurar quantas pessoas mudaram de ideia positivamente sobre a marca. Era necessário saber se os esforços realizados estava mudando a imagem da marca ou se mantinham negativas no buzz. Com isso, a comunicação da marca se acertou e começou a mudar as opiniões das pessoas.

Qual a sua expectativa com relação ao Social Analytics Summit 2014? Pra deixar o pessoal do SAS mais curioso, pode falar um pouco sobre o que você vai apresentar no workshop?
Tenho certeza que manterá a qualidade das edições anteriores e continuará a ser referência para nós, profissionais de métricas e monitoramento. No meu módulo do workshop, trabalharei o que chamo de “raciocínio horizontal em métricas”, ou seja, a pessoa olhar uma métrica e pensar o que ela impacta, como ela é influenciada e como ela trabalha com outras métricas. Além disso, buscarei mostrar outras formas de análise e outras possíveis visões dentro de métricas no Facebook, Twitter, etc que podem ser úteis para o profissional.

Para acompanhar todas as entrevistas do #SAS2014, fique de olho aqui e no blog da Priscila Marcenes.

Papo sobre analytics e ciência de dados

Final do mês passado tive um papo rápido com o Vinícius Ghise, que tá reforçando a escassa blogosfera sobre social analytics com não apenas um, mas dois blogs: o seu próprio e o 2Read Analytics (sigam!). A mini-entrevista foi feita para um texto sobre o #SAS2014 e, como o estilo jornalístico pede brevidade, reproduzo as respostas inteiras aqui:

O Social Analytics Summit está na terceira edição. Como você avalia a evolução do mercado desde a primeira edição do evento?
Ao longo destes três anos, os setores de monitoramento, pesquisa e mensuração em mídias sociais deixaram as posições secundárias, tornando-se muitas vezes centro das estratégias. O nível de exigência do mercado cresceu muito junto à experiência dos profissionais. Falando de monitoramento de mídias sociais, o número de especialistas com perfil de liderança aumentou bastante, graças ao que foi realizado nestes últimos anos. Então temos dois movimentos fortes: valorização dos profissionais com experiência, que “desbravaram” o mercado e a busca por profissionais de outras áreas com capacidades que são escassas no mercado, como pensamento científico, conhecimento estatístico ou compreensão de metodologias de ciências sociais. O Social Analytics Summit 2014 traz então dois pilares que representam o atual mercado brasileiro de dados sociais: maturidade e ciência.

Apesar da insistência dos especialistas (de social analytics), muitas vezes a inteligência de dados fica um pouco de lado na concepção de novos projetos, em detrimento do conceito criativo, principalmente em agências que surgiram e se consolidaram no mercado trabalhando com propaganda, até então offline, e em determinado momento foram praticamente forçadas a conectar com o digital. Como você avalia este cenário?
Gosto de citar um caso real bem curioso em outro evento que assisti. Numa mesa com um cliente, um planejador e um atendimento, foi justamente o planejador que criticou o uso de métricas na comunicação. Para ele, “métricas tiram a poesia da publicidade”. De bate-pronto, um espectador tuita algo como “não sabe ele que métricas ajudam os poetas desde sempre”. A ojeriza de alguns criativos em relação a matemática e mensuração de modo geral não faz sentido, na minha opinião. É possível analisar tendências, padrões e estilos – inclusive o que “foge” deles – mesmo sem usar uma única fórmula matemática. O pensamento científico pode ser aplicado em todas áreas humanas, inclusive nas criativas, para expandir o domínio até da experimentação.

Como debate de encerramento pusemos dois profissionais que vieram do “mundo acadêmico” para agências de publicidade justamente para mostrar o quanto isto funciona bem. Não por acaso, os dois vieram de outras áreas, administração e ciência política, devido a esta lacuna atual no mundo publicitário. Acredito que, em breve, o mercado publicitário vai voltar a investir ainda mais no entendimento sólido de ciências sociais e metodologia, forçada pelos meios digitais. Esta falsa dicotomia entre criatividade e mensuração vai ser demolida nos próximos anos.

Para quem já trabalha com mídias sociais e deseja se especializar em métricas, qual conselho (ou conselhos) você daria?
O conselho vale para profissionais que desejem trabalhar com mensuração, monitoramento e pesquisa: estudem metodologia. Ao contrário do que se fala por aí em relação a marketing – e em relação a qualquer ciência, no final das contas – o que é considerado ser um bom indicador ou resultado é socialmente estabelecido. Então, os profissionais que conseguem compreender muito bem o mercado, suas demandas e ferramentas para atendê-las, devem compreender como transformar estas necessidades em produtos informacionais. E isto pode ser feito de forma rentável e eficiente apenas por quem compreende como transformar tantos dados de atributos, relações, interações, fluxos, conversas e opiniões, disponíveis nas mídias sociais, em informações acionáveis.