Aconteceu no dia 5 de novembro a palestra “Moda: perspectivas teóricas e artísticas“, reunindo o estilista Tarcisio Almeida e a pesquisadora Renata Pitombo. O evento teve lugar no auditório da Faculdade de Comunicação da UFBa.
Tarcisio Almeida – se é feito para o outro, não é arte?
O estilista, que cursa Direção Teatral, começou a sua exposição demonstrando que tem pensado sua arte também sob uma ótica teórica. Foi até a etimologia de design para deixar claro que o designer de moda é um profissional que trabalha com projeto, com um sistema que começa desde a pré-produção e tem de pensar até no descarte do objeto.
Pontuou que se desvincula de uma noção meramente estilística e estetizante da moda. Afinal, para elaborar suas peças, é preciso saber para quem está projetando, para onde vai etc. Ou seja, “se ele [o objeto] é feito para o outro, ele não é arte”. Não é arte naquele sentido retrógrado de arte pela arte, arte para satisfação pessoal apenas. E continuando a responder as perguntas formuladas na divulgação do evento, Tarcisio diz que é preciso acabar de vez com uma visão meramente ilustrativa ou decorativa da arte.
Definiu como uma das características de sua produção a relação entre a moda e a performance. Repensar as peças de vestuário em relação aos objetos de mobiliários, por exemplo, é uma questão abordada por alguns artistas.
Renata Pitombo – moda enquanto vetor expressivo
A pesquisadora começa fazendo referência novamente ao release do evento, que estabelece perguntas sobre a moda como arte, fenômeno midiático e consumo. Neste ano escreveu artigos relacionados a cada uma das peguntas: “Moda e estilo: Introdução a uma estética da moda” (pdf) para a Compós; Jornalismo de moda: crítica, feminilidade e arte (pdf), para a Reconcavos; e para a revista dObra[s], Moda como Modo de Vida.
Renata diz que moda é um produto de consumo porque se inscreve numa dinâmica industrial. Todos usam roupas, a experiência do corpo do outro é mediada por essa segunda pele. Cita Lipovetsky que, a partir de Baudrillard, toma a moda como a espinha dorsal da sociedade de consumo. Nesse sentido, “moda” deixa de ser algo relacionado apenas a vestuário para ser algo mais amplo, relacionado a dinâmica do consumo na sociedade contemporânea.
De Walter Benjamim, a sua reprodutibilidade técnica é utilizada para entender a moda prêt-a-porter, produzida em grande escala, mas com signos de diferenciamento. Guy Debord tratou do assunto ao falar da espetacularização do cotidiano e, logo, do vestuário. Baudrillard e suas reflexões sobre a sociedade de consumo são chave para entender a moda como busca da felicidade e o mito da igualdade.
Edgar Morin é citado porque tratou do star system do cinema hollywoodiano. As estrelas do cinema produzem padrões de beleza e comportamento para toda a sociedade. Pitombo fala da questão do uso de cigarro, incentivado pelo cinema, especialmente no caso das mulheres, que começaram a fumar socialmente a partir do sistema de estrelas.
Ao tomar moda como fenômeno midiático, a pesquisadora fala da dupla articulação entre imitação e distinção, questão já tratada por Zimmel e antes por Gabriel Tarde. O desejo de consumo é um modo de distinção social, mas também a busca do prazer.
Características próprias ao fenômeno moda vão se propagar por outras áreas da vida cotidiana: fenômeno cíclico; culto ao presenteísmo; apego aos detalhes; sedução como meta. A forma passa a “conformar” a vida cotidiana, e aí também pode se correlacionar o desenvolvimento do design de produto e embalagem, avanço das artes gráficas na publicidade etc.
Por “fim”, a polêmica moda x arte. A problemática da função é retomada. Pitombo diz que “antes de tudo a moda é algo da ordem funcional, logo não seria arte”, para alguns. Mas o funcional pode ser criativo e artístico sim. É uma discussão que tem século de vida, mas ainda é controversa. A pesquisadora fala do conceito de Pareyson chamado formatividade. A arte é tomada como uma atividade formativa. Afinal, “toda operosidade humana já tem em si mesma uma atividade intrínseca”.
+ Blog de Tarcisio Almeida
+ Alguns livros citados:
– O Império de Efêmero, de Gilles Lipovetsky
– A Sociedade de Consumo, de Jean Baudrillard
– A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica, de Walter Benjamim (em Costa Lima)
– A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord
– As Estrelas: Mito e Sedução no Cinema, de Edgar Morin
– Estética: Teoria da Formatividade, de Luigi Pareyson