“Tecnologias não são neutras” – trecho do levantamento PretaLab

[O texto abaixo faz parte do levantamento inédito PretaLab, levantamento realizado pela Olabi com 570 mulheres negras e índigenas no Brasil. Artigos analíticos, dados completos e destaques podem ser acessados em www.pretalab.com ]

Um estudo feito em 2017 pelo Law’s Center on Privacy and Technology, o centro sobre privacidade e tecnologia da faculdade de direito da Universidade de Georgetown, estima que 117 milhões de cidadãos já estejam nos bancos de dados que a polícia pode usar. “O reconhecimento facial vai afetar afroamericanos desproporcionalmente. Muitos departamentos de polícia não percebem isso”, diz o estudo. Outro documento do FBI sugere que “o reconhecimento facial é menos preciso em negros. Além disso, devido à desproporção no número de negros presos, sistemas que utilizam fotos realizadas no momento da prisão incluem mais afroamericanos. “Apesar dessas descobertas, não há nenhum estudo independente com testes para viés racistas nestes programas”, conclui o estudo.

Iniciativas como a Algorithmic Justice League [em português, Liga da Justiça do Algoritmo] buscam denunciar e acabar com o racismo implícito em programas de inteligência artificial. Fundadora da iniciativa, Joy Buolamwini percebeu que programas de reconhecimento artificial nem sempre conseguem detectar rostos negros, problema causado pela falta de diversidade das equipes que criam esses programas e das imagens que as máquinas recebem para aprender a “enxergar” esses rostos. “A visão do computador usa inteligência artificial para fazer o reconhecimento facial. Você cria uma série de imagens com exemplos de rostos. No entanto, se essas séries não são diversas o suficiente, qualquer rosto que desvie da ‘norma’ será difícil de reconhecer”, ela disse em uma Ted Talk.

Enquanto as estatísticas, estudos e políticas públicas voltadas para mulheres negras ignorarem a importância da tecnologia, as mulheres negras vão estar à margem de decisões cada vez mais centrais na sociedade. “Se as mulheres negras não estiverem nesse processo, se não existirem ações para que elas estejam nesse processo, vamos perder totalmente nosso poder de integração no mundo”, afirma Silvana.

A tecnologia representa ainda uma possibilidade de geração de renda e de emancipação econômica, já que o setor cresce e costuma ter salários atrativos. Nos Estados Unidos, dados compilados pela pesquisa econômica Glassdoor mostra que os empregos da área de tecnologia, engenharia e ciência foram os mais bem pagos de 2017. Mas o desigual acesso à educação e a forte presença de estereótipos e preconceitos seguem afastando as mulheres negras dos estudos e de uma carreira nessas áreas.

A desigualdade e as barreiras já surgem quando são observados apenas os dados de gênero na tecnologia. Uma pesquisa que analisou a presença feminina em Ciência, Tecnologia e Engenharia no Brasil, China, EUA e Índia concluiu que mulheres abandonam a indústria tecnológica porque são tratadas injustamente, recebem salários menores e apresentam menos chances de serem promovidas do que seus colegas do sexo masculino. No Brasil, 29% das mulheres entrevistadas se sentem estagnadas em seus trabalhos e 22% acham que podem desistir da carreira no próximo ano.

Apesar de todas as barreiras que precisam enfrentar, estudos mostram que o trabalho das mulheres nesta área pode ser tão bem ou melhor avaliado do que de seus colegas do sexo masculino. Pesquisadores descobriram que os usuários do repositório de software GitHub aprovaram os códigos escrito por mulheres a uma taxa maior do que aqueles escritos por homens, mas apenas caso seu gênero não fosse identificado.

 

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