Quatro Aspectos dos Sites de Redes Sociais

Em publicação recente, Danah Boyd revisita a definição de “site de rede social” proposta por ela e Nicole Ellison no Journal of Computer-Mediated Communication em 2007. Nesta revista, um marco na pesquisa acadêmica sobre o tema, as autoras definiram sites de redes sociais (SRS) como:

“serviços de web que permitem aos usuários (1) construir um perfil público ou semipúblico dentro de um sistema conectado, (2) articular uma lista de outros usuários com os quais eles compartilham uma conexão e (3) ver e mover-se pela sua lista de conexões e pela dos outros usuários”

É uma definição que acho bem interessante – apesar de não concordar totalmente – e me chamou a atenção quando foi publicada, justamente quando direcionei totalmente meu foco de pesquisa e trabalho para comunicação digital e mídias sociais. Foi criticada por autores como David Beer (que também publicou o ótimo New Media: The Key Concepts com Nicholas Gane) e utilizo, com algumas ressalvas, em artigos e aulas. Leia o artigo de Boyd e Ellioson em “Social Network Sites: Definition, History and Scholarship” e o de Beer em “Social Network(ing) sites: revisiting the story so far: A response to danah boyd & Nicole Ellison

No livro A Networked Self: Identity, Community, and Culture on Social Network Sites, organizado pela Zizi Papacharissi e recém-publicado, a Danah Boyd publicou um artigo sobre “públicos em rede” e revisita este conceito em uma seção do texto, focando em quatro aspectos: perfis, lista de amigos, ferramentas de comentário e stream based updates. Como são aspectos chave a serem observados por qualquer interessado nesses ambientes, apresento aqui algumas citações, comentários e links para que o leitor possa ler mais sobre o assunto.

Perfis
A possibilidade de se criar um perfil público ou semi-público é uma das principais características dos sites de redes sociais. Um perfil nesses ambientes representa uma pessoa, organização ou personagem através de fotos (avatar, álbuns e outras), mini biografias, dados demográficos, preferências culturais, aplicativos, subscrição a comunidades e grupos etc. Os usuários de SRSs customizam seus perfis de acordo com seus desejos de representação identitária.

Relacionado a este aspecto, os aplicativos “Grader” da Hubspot são um bom exemplo de análise de perfis a partir do agregado de dados. A partir da análise de determinadas informações, em referência a possíveis ideais, assim como da comparação dessas informações com a base de dados compostas pelos dados de outros usuários que já utilizaram seus sistemas.

Diversos pesquisadores se dedicaram a observar os processos de construção e edição dos perfis em sites de redes sociais. Scott Counts e Kristin Stecher, por exemplo, exploram os modos pelos quais as pessoas se apresentam nos sites de redes sociais durante a criação dos perfis pessoais no artigo Self-Presentation of Personality During Online Profile Creation. Esta perspectiva, de pensar os aspectos de gerenciamento de impressões nas interações sociais é abordada também pelos pesquisadores do GITS-UFBA, do qual faço parte.

Lista de Amigos
As listas de amigos é onde o usuário do SRS pode observar e editar suas conexões, podendo utilizar este recurso para navegar de perfil em perfil através das redes. Teoricamente, de perfil a perfil o usuário pode chegar a qualquer ponto da rede, acessando qualquer perfil que esteja relativamente conectado.

O artigo Public Display of Connections, publicado por Judith Donath e Danah Boyd em 2004 trata da importância do papel das conexões públicas na formação de impressões sobre determinado ator social. Para as autoras, “social status, political beliefs, musical taste, etc, may be inferred from the company one keeps”. A pesquisadora Raquel Recuero já publicou trabalhos e postagens que analisam as redes de conversações online como as fans wars no Twitter.

Além disso, a análise das estruturas fluídas e mutáveis das redes sociais em torno de determinados atores pode ser esclarecedora. Os aplicativos Touchgraph (para diversos fins, incluindo versões gratuitas pra buscador e Facebook) e o LinkedIn Maps são dois aplicativos que permitem observar – a partir de uma rede ego – as conexões e centralidade de seus contatos nestas mídias sociais. Escrevi um post sobre o uso desses aplicativos para a análise de redes profissionais, no blog Dica 1.

Muitas vezes, também, a quantidade de conexões (amigos, seguidores ou inscritos) estabelecem um ponto de partida para as dinâmicas competitivas mais simples nestes ambientes. Pode-se falar de uma “mensuração reflectiva“, através da qual as pessoas observam dados e métricas dos ambientes para comparar a si e a outros atores sociais.

Ferramentas de Comunicação e Publicação
Termos utilizados no mercado como “conteúdo gerado pelo usuário” para dar conta de algumas novas práticas, que ganham ainda mais destaque nos sites de redes sociais (especialmente os focados na publicação e disseminação de conteúdo), de publicação, circulação e edição de conteúdo. O que André Lemos chama de “liberação do pólo da emissão” reúne “inúmeros fenômenos sociais em que o antigo “receptor” passa a produzir e emitir sua própria informação, de forma livre, multimodal (vários formatos midiáticos) e planetária”.

Dessa forma, o ecossistema midiático digital é muito mais fragmentado, algo que é positivo pois permite a expressão comunicacional e afetiva pelas mais diferentes pessoas e grupos. Nesse sentido, o fenômeno da cauda longa é intensificado pelo que os prosumers publicam no dia a dia, os mais diversos comentários sobre política, consumo, entretenimento ou mesmo o cotidiano.

Nas mídias sociais, estas ferramentas de comunicação e publicação resultam em uma enormidade de conteúdo em constante criação, circulação e remix nas redes. Diversos softwares como aplicativos e buscadores buscam realizar uma organização desse conteúdo a partir de fatores como visibilidade, tópicos e interesse do usuário. Alguns exemplos são o Topsy, Migre.me e Appinions. Um interessante artigo de Allison Hearn chamado Structuring Feeling: Web 2.0, online ranking and rating and the digital ‘reputation’ economy discute como a circulação de conteúdo e a retórica da influência vista em aplicativos como Klout e Empire Avenue reforçam modos de free labour na atual economia.

E, na medida em que os usuários de internet publicam mais e mais tipos de conteúdo como fotos, atualizações textuais, comentários, postagens e afins, a possibilidade de resgatar esta memória digital recebe mais atenção por pesquisadores, desenvolvedores e publicitários. A Danah Boyd, junto a alguns colaboradores, falou recentemente de “data portraits“, o Memolane faz considerável sucesso ao oferecer uma linha do tempo da vida dos usuários e iniciativas da Intel, Itautec e Coca Cola, por exemplo, se aproveitam desse interesse:


Stream Based Updates

Talvez o aspecto mais fugidio e contestável é a “stream based update”: em uma tradução grosseira, “atualizações baseadas em fluxo”. Os exemplos mais comuns hoje são a timeline do Twitter e o news feed do Facebook. Diversos outros SRS adotaram mecanismos semelhantes, como o Orkut e, recentemente, até o SlideShare. Mas este recurso ganha mais importância na medida em que o consumo de conteúdo e as interações são realizadas nestes espaços. Um estudo recente analisou a “vida média” de um link no Twitter.

No caso desta mídia social, dois modos básicos e mensuráveis pelos quais o público pode interagir com o conteúdo é o RT e o favoritamento. O aplicativo Favstar.fm permite medir os tweets mais retuitados e favoritados. É possível observar como os dois modos são bem delimitados: o RT é utilizado de forma mais intensa para circulação rápida de comentários, piadas, notícias etc, enquanto o favoritamento está mais ligado a aspectos informacionais.

Todos estes aspectos, em determinado grau, hoje podem ser analisados pelo profissional de comunicação com o apoio de softwares e aplicativos. Sejam ferramentas de monitoramento, de análise de rede social ou de processamento de informações sociais, o conteúdo, design, conexões e interações realizadas podem ser resgatados em determinado grau para falar algo sobre as pessoas, o fluxo de informações e as redes.

Os sites de redes sociais podem ser observados de diversos modos, mas uma coisa é certa: a pesquisa acadêmica pode ajudar muito o profissional de comunicação. Muito mais pode ser encontrado na web. Veja, por exemplo: os buscadores de trabalhos Periódicos Capes e Google Acadêmico; os blogs do Grupo de Pesquisa em Interações, Tecnologias Digitais e Sociedade, das pesquisadoras Raquel RecueroDanah Boyd; revistas como Journal of Computer Mediated Communication, Media Culture & Society; e uma lista de repositórios de eventos acadêmicos.

Perguntas movem o mundo digital #1: Memolane

“Perguntas movem o mundo”. Apesar de vê-la em vários lugares, ainda não encontrei a origem desta frase (há apenas uma origem?), mas já vi em anúncios de uma rede televisiva e como slogan do fascinante evento Circuito 4×1. De fato, é apropriadíssima para o mundo digital. As pessoas raciocinam e pensam com mais afinco quando querem entender ou resolver algo: quando querem mover o mundo. Nos ambientes digitais, é algo mais válido ainda: com tanta coisa “nova”, é preciso se perguntar. E é preciso se perguntar muito e constantemente.

Com isso em mente criei uma série de slides chamada “Perguntas movem o mundo digital”. Como vocês podem ver abaixo, a ideia é a seguinte. Com algum objeto de interesse, em faço umas perguntas. O que gostaria de saber sobre tal coisa? Na maioria das vezes ainda não tenho resposta e vou pesquisar. E quero fazer isso de forma colaborativa: você tem respostas pras perguntas abaixo? Comente, envie. Depois vou atualizar o slide e adicionar algumas das respostas também.

O Passado, Presente e Futuro das Memórias Digitais

Palestra de Steve Whittaker The Future of Our Pasts: Computer Mediated Memory, Vision and Reality. Realizada pelo GoogleTechTalks e publicada no canal da Stanford, a fala parte da explicação do porquê “memória mediada por computador” é um termo melhor que “memória digital” e segue para definições de padrões para o design de produtos de memória.

12 livros para o profissional de mídias sociais ler em 2011 – parte 1

No final do ano passado publiquei 12 livros para o profissional de mídias sociais ler em 2010 (ver parte 1, parte 2, parte 3, parte 4). Vou repetir a dose este ano, mas com um espaçamento de tempo maior. A cada quinzena vou falar sobre três livros por aqui.

#MidiasSociais: Perspectivas, Tendências e Reflexões
Orgulhosamente fazendo jabá do ebook que co-organizei junto com Danila Dourado, Marcel Ayres, Renata Cerqueira e lançamos em setembro de 2010. Deu bastante trabalho, mas foi recompensador. São sete seções de artigos de grandes profissionais brasileiros e espanhóis, falando sobre temas como: planejamento de comunicação, monitoramento, coolhunting, novas mídias, educação, inteligência coletiva etc.

Entre as 150 páginas e 17 artigos publicados, os estilos de texto, óticas e opiniões compõem um pequeno resumo das experiências de profissionais que enfrentam, dia a dia, o desafio de executar bem o trabalho, convencer clientes e ainda compartilhar seu conhecimento. O ebook, gratuito, pode ser lido e baixado em www.slideshare.net/papercliq/ebook-midias-sociais-perspectivas-tendencias-reflexoes

A segunda e a terceira dica são dois livros que tratam de memória digital, com opiniões bastante contrastantes . O motivo de indicar dois livros sobre memória digital é simples: características e desenvolvimentos em torno da memória digital estão envolvidos diretamente com a preocupação sobre reputação das marcas na web.

Em Delete – the virtue of forgetting in the digital age, por exemplo, Viktor Mayer-Schonberger procura explicar para o leitor como, hoje, seria mais fácil lembrar do que esquecer. Para o autor, a memória digital traz mais malefícios do que benefícios e, no final das contas, o que pretende com o livro é propor a “volta do esquecimento”. Por exemplo: limite de tempo em que uma informação pode ser armazenada em uma base de dados.

Através dos capítulos do livro, o autor apresenta as questões em relação à memória digital de uma forma bem sistematizada. Por exemplo, define e discorre sobre os motivadores do declínio do esquecimento, como digitalização, alcance global, recuperação fácil, armazenamento. Também fala dos perigos de algumas características da memória digital, como abrangência, acessibilidade e durabilidade.

Enquanto Mayer-Schonberger lamenta a “memória completa”, os autores de O Futuro da Memória – Como essa transformação mudará tudo o que conhecemos festejam e agem para que a humanidade alcance o sonho da memória completa sobre as experiências humanas. Gordon Bell e Jim Gemmel são pesquisadores da Microsoft e desenvolvem dispositivos como o MyLifeBits, projetados para armazenar através de texto, fotografia e vídeos toda a vida de quem os usa.

Com prefácio de Bill Gates, o livro é dividido em três partes. Na primeira, os autores falam do projeto MyLifeBits, escrevem sobre memória, biomemória e “e-memory”. No segundo falam do impacto da memória digital pros Âmbitos do trabalho, saúde, aprendizagem, vida diária e pós-vida. No último, escrevem sobre como a pessoa comum poderá abraçar essa revolução da maneira mais proveitosa e saudável.

Para entender a comunicação online, estes dois livros completam-se no que se refere à memória digital. Entender a importância, por exemplo, da reputação, monitoramento, boca a boca, favoritamento e recomendação social em um contexto no qual as interações e publicações são armazenadas passa pela memória. Veja duas apresentações minha sobre o tema: O declínio do esquecimento e Registro e Uso dos Traços Informacionais em Sites de Redes Sociais.

Daqui a duas semanas, mais três dicas de livros. Aguarde e assine o feed do blog pra não perder nada: http://feeds2.feedburner.com/tarciziosilva