Fail nas mídias sociais ou fail com mídias sociais?

Faça uma busca no Google: “fail nas mídias sociais”. Você vai achar casos como o do Alpino, da Domino’s Pizza, Fiat, Locaweb, BestShop TV, Nike etc. O que dá uma unidade a todos esses casos é a repercussão negativa que aconteceu predominantente através de mídias sociais. Tweets e até trending topics no Twitter, dezenas de sátiras no YouTube, posts revoltados em blogs…

Mas será que todos podem ser chamados realmente de “fail nas mídias sociais” mesmo? Veja o caso do Alpino, por exemplo. Qual foi o grande erro da Nestlé? Vender um novo produto, o “Alpino Fast” com nome de outro já famoso, mas sem possuir os componentes do orignal. Qual foi o problema? De desenvolvimento de produto, basicamente. Repercutiu através de posts indignados de fãs do produto original, que se desdobrou em outras mídias. Ao contrário do despreparo pra comunicação do funcionário da Locaweb, da criação e frustração de expectativas por parte da Best Shop TV ou da prepotência dos gestores da campanha da Nike+Ronaldo, o caso do Alpino não foi específico das mídias sociais. A falha aconteceu muito antes.

É preciso entender isso porque, se as mídias sociais (e isso é um fato) tem um poder e possibilidades imensas, também não podemos misturar as coisas. Vamos entender de comunicação e marketing em geral, para poder atribuir falhas e acertos a cada etapa ou suporte específico. Sem dúvida, a repercussão nas mídias sociais foi decisiva neste caso, mas isso aconteceria com qualquer fato (positivo ou negativo) que envolvesse suficientemente um primeiro usuário (o que tirou a foto e postou) e outros consumidores envolvidos com o produto.

Esclarecendo o #massivefail da IDGNOW (e dos milhares que retuitaram ou repostaram)

Update: a matéria foi atualizada alguns dias depois. Fica aqui o post como um incentivo ao rigor.

Quem me segue no Twitter provavelmente já leu alguns resmungos meus sobre o chamado “jornalismo de tecnologia” que tem sido feito por portais como Info Online, IDGNOW e semelhantes. Como já reclamei em outro post, o “oba-oba” generalizado, a busca por números chamativos e a corrida por postar primeiro tem levado jornalistas a fazer barbaridades.

Uma das mais graves foi cometida pelo jornalista do IDGNOW, o William Marchiori, no dia 22 de abril. Comentando um relatório e dados do Statcounter (lançados no mesmo dia), publicou o texto “Twitter lidera tráfego em mídias sociais no Brasil, segundo a StatCounter. O próprio texto carece de coerência interna. No primeiro parágrafo: “No Brasil, o Twitter hoje é responsável por 56% do tráfego de dados em sites de mídia social” e  no quinto: “Os resultados nacionais diferem dos registrados no mundo. Segundo a StatCounter, o Twitter está longe de liderar”.

Se isso já não fosse #fail o suficiente, o título ambíguo e o termo “tráfego de dados” dá a entender que o jornalista fala de acesso total a estas mídias sociais. Por isso, o Portal Exame e o Comunique-se, por exemplo, que são dois sites com reputação, publicaram: “Twitter é a mídia social mais acessada no Brasil” e “Twitter lidera como mídia social mais acessada no Brasil“. Lamentável.

O Statcounter falava das mídias sociais como fontes de visitantes para os sites. O Statcounter é uma ferramenta de analytics utilizada por milhões de sites pelo mundo e, por isso, pôde analisar qual mídia social gera mais cliques que resultam em visitação aos sites que monitora.

Isso é muito diferente de dizer que tal mídia social é mais acessada que outra. O Twitter e o StumbleUpon se destacaram nesses dados por causa de suas características, que envolvem em grande parte recomendação de conteúdo e links. O que aconteceu nesse caso lamentável foi que um jornalista falhou na leitura, tradução e interpretação dos dados e, a partir daí, outros jornalistas (com tão pouca ou menos vontade de apurar) replicaram o erro, assim como centenas ou milhares de tuiteiros.

E a partir daí, o que acontece? Desinformação que prejudica profissionais que trabalham nessas mídias sociais, outros jornalistas, publicitários, gestores de empresas, RPs e cidadãos que não trabalham com comunicação, mas que podem erroneamente gastar tempo mudando seus padrões de consumo e produção de mídia por causa das informações erradas.

É por isso que repito o que eu disse em um tweet. Se algum dia eu bloquear, na rede de minha empresa (coisa que não vai acontecer), o acesso a um site, este será o IDGNOW.

Twitter lidera tráfego em mídias sociais no Brasil, segundo a StatCounter

Época Negócios FAIL

Hoje um pouco mais cedo abri uma Época Negócios, de número 32.  No texto “50 empresas hi-tech”, de Katia Militello e reportagem de Karla Spotorno e Rosa Sposito, me deparo com o seguinte olho em destaque:

“A Tecnisa já tem no quadro um gerente de mídias sociais. Sua função: navegar na web.”

Então quer dizer que a Época resume o profissional em apenas um cara que passa o dia navegando na web. Para a função que o Roberto Loureiro exerce na empresa não há pesquisa, repertório, metodologia, análise, planejamento, dedicação, produção. É apenas navegar na web. A Época acha que trabalhar com mídias sociais é navegar na web. TSC. Boicotem essa revista ridícula.