O estudo etnográfico é uma das principais metodologias da pesquisa qualitativa. Suas aplicações nos meios digitais online, sobretudo através da terminologia netnografia, criada por Kozinets, tem sido referenciadas frequentemente no mercado de inteligência em ambientes publicitários. Porém, muitas vezes com concepções incorretas. A Débora Zanini, atualmente supervisora de inteligência de dados na Ogilvy, desenvolveu um interessante texto resumindo os principais pontos da metodologia e suas particularidades quando aplicada a ambiente online. Clique na tabela comparativa para acessar:
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Handbook of Online and Social Media Research
Um dos livros mais interessantes que li nos últimos tempos, Handbook of Online and Social Media Research: Tools and Techniques for Market Researchers (Manual de Pesquisa Online e em Mídias Sociais: Ferramentas e Técnicas para Pesquisadores de Mercado) é uma obra de Ray Poynter que foi lançada no final do ano passado.
O livro é dividido em cinco partes:
Online Quantitative Survey Research trata de pesquisa quantitativa como levantamentos (surveys) em suas mais variadas modalidades. Além do panorama sobre as práticas de pesquisa quantitativa, explica como são seus sistemas , como desenvolver, como trabalhar com empresas de painéis etc.
Qualitative Research trata da pesquisa qualitativa como grupos focais online, BBSs, grupos de emails, entrevistas em profundidade, netnografia, mundos virtuais e a aplicação de métodos qualitativos em estudos quantitativos.
A terceira parte, Social Media, trata da utilização das mídias sociais na pesquisa de marketing: blogs participativos, comunidades, monitoramento de marcas e conversações etc.
Research Topics traz capítulos dedicados a problemas e questões mais específicas e especializadas como pesquisa internacional, pesquisa B2B, pesquisa para o setor público, pesquisa intra-website e, por fim, técnicas, abordagens, evolução e boas práticas no mercado.
A quinta parte Breaking News! se dedica a mostrar e discutir práticas, questões, plataformas, metodologias e softwares na “crista da onda” do mercado. Em primeiro lugar fala da disrupção promovida pelo chamado NewMR, que se refere às transformações estabelecidas pelos novos métodos de pesquisa. Em seguida fala de tendências e inovações e, por fim, realiza um panorama retrospectivo de todo o livro.
Ainda merecem destaque as seções Glossary (auto-explicativa), Further Information (que oferece diversos links e referências como entidades do setor).
Análise no Trabalho Etnográfico
Continuando com a série de resumos das palestras do NewMR, vamos falar rapidamente da “Analysis in Etnographic Work” realizada por Neil McPhee, da Nuance Research e ETHNOS Consultants.
Em primeiro lugar, McPhee fala que a etnografia é a ferramenta menos compreendida no mercado. É vendida de forma inadequada por agência, comprada de forma inadequada por clientes, vista como vigilância por clientes e percebida de forma extremamente simplista por muitos clientes e agências.
McPhee mostra um gráfico que liga a Análise a: Dados sobre Comportamento; Observações e Notas; Codificação de Ações e Eventos; Análise de Vídeos e Transcrições; Apoio de Computadores e Ferramentas de Análise Qualitativa; Objetivos do Cliente.
Citando a velha máxima “se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho pode ser feito”, McPhee explica a importância de saber exatamente que problema ou desafio deve ser resolvido.
Armazenar dados é essencial: vídeos, notas, diagramas e outros permitem contabilizar e perceber padrões de comportamento. McPhee cita um estudo sobre comportamento em cozinhas, pro exemplo: em uma hora, é possível contar o uso do fogão, lixeira, tempo de procura por utensílios, número de vezes em que a participantes se curvou para pegar algo etc.
Transcrições textuais podem ser muito úteis com um bom sistema de QDA e codifição, além de tempo e equipe disponíveis.
Qual o escopo de dados e tópicos que estão sendo buscados? Cultura? Economia? Meio ambiente? Família? Educação? Redes Sociais? Estratificação? Definindo bem isto, as perguntas específicas podem ser realizadas.
A etnografia procura por: eventos espontâneos e comportamentos; relação com ambientes internos e externos; interações. McPhee explica o processo de análise, baseado na Grounded Theory:
As abordagens e ferramentas de análise podem ser variadas. Fala do armazenamento de dados e padrões à mão livre, uso do excel para formalizar e cruzar informações e uso de softwares especializados como o Atlas/ti.
Etnografia, por Ray Poynter
Ray Poynter é um pesquisador de marketing que fomenta a área do NewMR – New Marketing Research. Autor do excelente livro Handook of Online and Social Media Research, Poynter também é criador e coordenador da rede NewMR.org que produz periodicamente eventos – presenciais e online – sobre a área. Já falei aqui sobre dois eventos, um sobre text analytics e outro sobre neurociência, através do resumo das palestras “Mídias Sociais: a próxima fronteira para text analytics” e “Neurociência explicada“. No último mês, a rede NewMR organizou um evento sobre Etnografia. Abaixo um pequeno resumo da palestra ‘Ethnography 101”, na qual Ray Poynter introduziu o tema. Não esqueça de se inscrever para os próximos eventos da NewMR: apenas os participantes recebem acesso aos slides e gravações.
Segundo Ray Poynter, a etnografia está localizada nos estudos das pessoas dentro do contexto social. Etnografia está localizada dentro do domínio da pesquisa de marketing qualitativa. Se baseia n experiência vivida: existe um abismo entre perguntar coisas às pessoas e observá-las enquanto elas vivem e experienciam coisas e eventos.
Citando Willis e Trondman, “etnografia é uma família de métodos que envolvem contato social direto e contínuo com os agentes sociais, e em registrar ricamente o encontro, respeitando, armazenando e representando ao menos parcialmente em seus próprios termos, a irredutibilidade dos seres humanos”.
Etnografia tipicamente inclui: pesquisa de campo; observação participante, discussões informais e outros métodos; coleta não estruturada e heterogênea de dados; pequeno número de casos; explicações como resultados.
Os papéis do pesquisador etnógrafo pode variar em um espectro que vai do observador ao participante, como mostra a imagem acima.
Em seguida, Ray Poynter cita alguns estudos que podem ser posicionados em uma matriz que classifica as experiências dos objetos de estudo de acordo com a “Disposição a Compartilhar” e “Auto Consciência”:
Etnografia é situada. Ray Poynter cita um estudo que realizou em três cafés Starbucks. A pesquisa etnográfica é situada porque aquelas dinâmicas que ele observa são típicas daquelas três lojas, naquele ano e naquele período. O pesquisador etnógrafo deve estar atento à reflectividade. O pesquisador possui uma cultura, histórico, background e objetivos que devem ser levados em conta no momento da interpretação dos dados. As ações do pesquisador também devem ser consideradas. No caso em questão, Poynter cita alguns exemplos de possíveis interferências no ambiente: talvez ele estava no lugar preferido de alguém ou talvez a repetição de sua presença ali mudou o comportamento de alguém.
Utilizando uma definição de Denzin, Poynter ainda diz que “etnografia é um modo de pesquisa e escrita que produz descrições e relatos sobre os modos de vida do escritor e sobre quem está se escrevendo”.
Confira o NewMR e não perca os próximos eventos.
Webinar sobre Etnografia
O próximo webinar do NewMR, que acontece 25 de maio, será sobre etnografia como método de pesquisa de marketing. Veja os palestrantes confirmados e se inscreva.
Sydney Session
- Ray Poynter, The Future Place, Ethnography 101
- Prashant Hari, Colmar Brunton
- Erica Ruyle, Market Strategies International
- Nick Agafonoff, Real Ethnography, Documentation to Representation – When video trace evidence is presented as ethnography
London Session
- Siamack Salari, Mobile research and the struggle for naturalism and meaning
- Jonathan Gable, BrainJuicer
- Jon Puleston, GMI, The secrets of conducting successful Ethnography research online
New York Session
- Laura Winn Johnson, A 360° Brand View: Identifying New Opportunities for Your Business
- Julie Wittes Schlack, Communispace, In Time, In Context, In-Spired: Mindfulness in Mobile Ethnography
- Jamie Gordon, Northstar Research Partners, The 3 C’s of Consumer Anthropology