Revista Muito: 20 números {parte três: infográficos}

O uso de infográficos nos vinte primeiros números da revista Muito foi disperso. Dez infográficos foram encontrados. Em uma divisão arcaica, organizei-os em: mapas e trajetórias; quantidade e dimensões; processos e procedimentos.

Quantidade e dimensões

É o tipo mais “simples” de infográfico, o que tenta mostrar visualmente relações quantitativas, tornando-as mais interessantes. As duas imagens em seguida são do 6° e do 13° números. Gráficos de bola não são dos mais exatos porque a relação espacial não é tão fácil de ser apreendida. A terceira imagem, do 4° número, é o melhor desse tipo. Bonito e claro, mostra o total de quilômetros que várias cidades latino-americanas possuem de ciclovias.



Mapas e trajetórias
No primeiro número, um mapinha bem simpleszinho, bobo, quase dispensável. Foi feito na matéria sobre o Sto. Antônio Além do Carmo e seus imóveis de luxo. As duas imagens em seguida também são do quarto número da revista, uma aberração entre seus pares, de tão bem realizado visualmente (exceto o ensaio fotográfico, o pior de todos). O infográfico sobre o deslocamento pela cidade em bicileta, carro ou ônibus é criativo, informativo e bem realizado. A outra imagem é da matéria seguinte, sobre um baiano que pedalou de Salvador até Nova York. Como a viagem aconteceu de 1927 a 1929, o mapa é estilizado com aspeco quase oitocentista. As duas matérias preparam o leitor para a dupla de “consumo” (se é que a revista toda já não é) com materiais esportivos.

A quarta imagem é do 9° número da revista. O texto sobre o navegador Aleixo Belov tinha de mostrar sua volta ao mundo, é claro. O desenho do barco vem logo abaixo. Simples mas interessante.





Processos e procedimentos

As diversas etapas de um acontecimento, no caso da Muito todos ligados às ciências naturais de certa forma. Na Muito 11, a entrevista com um pesquisador mostra a utilização de células troncas com fins terapêuticos. No Muito 15, também em entrevista com um pesquisador, um pneumologista, o infográfico representa a duração das diversas etapas do sono, mas as etapas em si são totalmente explicadas por texto.

No oitavo número a Muito publicou a dupla abaixo, ensinando com texto, fotografias e gráficos com ocultivar ervas e montar uma floreira. Deve muito na integração dos materiais informativos, mas não deixa de ser interessante.


+ Leia mais sobre a revista Muito

Revista Muito: 20 números {parte dois: capas}

As capas da revista Muito foram muito irregulares. Sobre o primeiro número eu comentei em outra postagem sobre como traz a estilista Márcia Ganem, algo meio despropositado. Ela só aparece na revista na matéria sobre o bairro “Santo Antônio Além do Carmo”, falando sobre a compra de imóveis no local em valorização. Entre os pontos mais altos e mais baixos estão as seguintes.
No terceiro número a entrevista com Christian Cravo veio a calhar para a equipe da Muito. O auto retrato do fotógrafo encaixou-se muito bem à estrutura de informação da capa.

O quarto número da Muito foi um dos melhores até agora, qualidade que também se percebeu na capa. Sem a falta de tato do primeiro número ou a obviedade do retrato da zero e da dois, a reportagem sobre a bicicleta como alternativa de transporte não trouxe, surpreendentemente, o retrato de um cicilista vestido e paramentado a caráter. A dupla de abertura da reportagem e os infográficos utilizados também são exemplares, mas isso é tema de outra postagem.

Duas semanas depois, a pior capa. No domingo 11 de maio, dia das mães a revista Muito ficou de corpo, capa e alma um encarte publicitário. Familiazinha sorridente, rica, loura, feliz e abastada como o suposto público da revista.

Se esta não tivesse sido a única Muito dentre as vinte primeiras que não comprei no mesmo dia, teria ido reticente para a banca de revistas. O que poderia esperar quatro dias antes do dia dos namorados? Um casalzinho de classe alta feliz, louro. Ela de vestidinho, cabelo liso – ou chapado, e ele de camisa pólo. Surpreendendo as “expectativas”, a décima Muito foi a primeira a não ter um elemento humano direto (se contarmos o pé da bicicleta da quatro). Docinho aparentemente em formato de coração sobre uma embalagem (?) com as letras da palavra sad – tristeza em inglês.

A capa do oitavo número foi a primeira, e uma das poucas até agora, a se utilizar de arte gráfica. Gosto particulamente desta porque a arte da capa se desdobra na diagramação da matéria, que também utiliza do padrão de cores e das formas. A matéria “A saga de um cafona” pode ser conferida no Issuu.

O “peculiar” cantor e compositor de bossa nova, João Gilberto, foi o centro da capa #15, a mais elegante. Em preto-e-branco, a expressão -olhos semi-cerrados e o sorriso despreocupado – associada a iluminação dão uma sensação de proximidade tão presente.

Dessa vez, o miolo da revista é sobre “paternidade”, devido aos dias dos pais. Primeira capa totalmente ilustração (a capa do oitavo número é edição sobre fotografia), a reportagem do miolo também traz o mesmo tipo de arte.

Revista Muito: 20 números {parte um: parede}


Os fiéis leitores do blog sabem que já escrevi sobre a revista Muito. Tanto sobre seu lançamento quanto o primeiro número. Desde aquele seis de abril se passaram quatro meses e a publicação alcançou seu vigésimo número. Quantidade razoável e redonda. Já é hora de um comentário mais minucioso sobre os elementos que interessem a este blog.
Começando pelo fim: a seção Parede nesta postagem. O material que fecha a revista é sempre uma obra de um artista plástico, ilustrador ou fotógrafo. Cada um é publicado durante um mês, ou quatro edições. Finaliza a revista dando uma respirada importante, ao ser uma das poucas páginas da publicação menos aptas a críticas como a que ouço constantamente na faculdade, “confundi a revista com um folheto das Lojas Americanas”.

Nos primeiros quatro números, Juliana Moraes teve a honra de ser a primeira artista da seção. É artista visual pela Escola de Belas Artes da UFBa. Segundo a própria (p.50, n°1): “Gosto de representar a mulher moderna, que tem que trabalhar, se manter bonita e mostrar inteligência, o que é ao mesmo tempo cor-de-rosa e aprisionador”. O rosa, e o vermelho, são presentes e protagonistas em quase todos seus trabalhos, mas e geralmente sobre o desenho em ranhuras, pigmentação e texturas como um elemento ‘poluidor’.

Em seguida, Túlio Carapiá. Preto, branco, cinza e algum vermelho – quando mais simbólico -, se unem a textuaras e colagens que mostram a “relação do indivíduo consigo mesmo, suas ansiedades e necssidades”. Fechaduras e chaves são o elemento recorrente. Na Muito #7, um coração de formato infantil, assim como seu traço fino, é o toque final que contrasta essa ilustração com as outras da série: se nesta a expressão facial não é angustiada, a fragilidade da forma é mais dramática.

Entre os números 9 e 13, recebemos fotografias de Valéria Simões. Dois recursos são recorrentes nas suas fotografias publicadas na revista e no site da Muito. A primeira delas é a textura sobre/da superfície transparente, criando camadas de objetos e composições específicas. A outra é a composição resultante de interação de personagens e sombras projetadas obliquamente, como a fotografia ao lado e a que fecha o número 12 da muito.

Em seguida, as obras do artista Gaio Mattos compõe esquemas espaciais em formas representativas. A imagem ao lado é a intervenção do artista na superfície do ponto de ônibus (!?) próximo à Faculdade de Comunicação da UFBa, no campus de Ondina. As quatro obras na revista são das séries Invasões e Índio Loteado, que representam o drama da discriminação e exclusão do uso até do próprio espaço.

Finalmente, os últimos três números trazem trabalhos de Igor Souza. O artista brinca com técnicas têxteis de costura, recorte e colagem na imagem ao lado no número 20, e na anterior, a 18.

Em breve, o Imagem, Papel e Fúria continuará a tratar de outras seções ou elementos da revista, como a editoria de Moda, as capas e os infográficos.

+ Leia sobre o número zero
+ Leia sobre o número um
+ Página da revista Muito

Revista Muito #1

A primeira edição da Muito foi lançada. A revista vem, a partir de hoje, em todas edições de domingo do Jornal A Tarde. Há várias mudanças em relação ao número zero, disponível para download na página da revista. Em relação ao projeto gráfico, o azul substitui o vermelho no logotipo e nos títulos de seções.

A entrevista dessa vez é bem mais interessante. Solange Farkas, diretora do MAM-BA, fala da polêmica envolvida na sua indicação e sobre os rumos do museu.

A capa traz a estilista Márcia Ganem, algo meio despropositado. Ela só aparece na revista na matéria sobre o bairro “Santo Antônio Além do Carmo”, falando sobre a compra de imóveis no local em valorização. Talvez essa discrepância se deva a um problema explícito na revista, excessivamente de consumo. As opções de personagens ou temas mais relevantes para a capa são poucos.

Desgustação de cervejas importadas, que estão cada vez mais presentes nos supermercados soteropolitanos e um ensaio de moda com a Deusa do Ébano do Ilê Ayiê também ocupam espaço nessa edição. A ilustração que fecha a revista é outra vez de Juliana Moraes. A crônica dessa vez é pouco inspirada, mais uma enumeração do que literatura.

+ Página da revista Muito
+ A Tarde Online
+ Matéria sobre o lançamento

Revista Muito #0

Fazer revista não é fácil. Já comecei outro texto deste blog com a mesma frase. Não é à toa que a Muito pode se gabar de ser a primeira revista semanal baiana, com maior tiragem.

A partir de amanhã, domingo 06 de abril, a revista criada pelo grupo A Tarde será distribuída, “de graça”, nas edições de domingo do jornal. Tiragem de 50.000, ultrapassa de muito longe as tiragens modestas, e periocidade mais ainda, das poucas revistas baianas, a maior parte delas univesitárias.

O número zero da revista já está disponível para download. A capa exibe Cláudia Leite de “bobs” no cabelo. A matéria é A fantástica fábrica de ídolos, sobre a produção de estrelas da música pop, rock e axé. De Kurt Cobain a Michael Jackson, nem Joelma fica de fora. No começo da revista, uma entrevista com a psicanalista Leda Guimarães, que fala algumas coisas interessantes e outras besteirinhas, o de sempre.

O projeto gráfico é bem bonitinho. Também foi criado por Iansã Negrão, responsável pelo jornal. As chamadas de capa são feitas em um tipo sem serifa bem fininho e elegante, que me lembra muito a Geo Sans Light, que uso nos títulos internos da Fraude. O logotipo da revista é a palavra ‘muito’, vermelha, com extremidades angulares ou arredondadas alternadamente. O “pingo” do “i” fica embaixo. Mais uma vez a tríade divina preto-branco-vermelho está presente.

Como não poderia deixar de ser em qualquer revista que queira viver mais que os habituais quatro primeiros números, a publicação é recheada de publicidade, tanto direta quanto indireta. De vestidinhos para as socialites da Vitória vestirem seus poodles a óculos de sol com mp3, para nenhum cooper da Barra botar defeito. Em moda, algumas bolsas pseudo-rústicas. Ainda tem uma seção de produtos de tecnologia e outra de cosméticos.

Bio fala de Receca Falcone, moça baiana multi-performática, que canta, dança, atua e desfila. A revista ainda traz dicas de estabelecimentos culturais e um pingue-pongue com o escritor Santiago Nazarian.

O melhor texto é a Crônica de Aninha Franco, “Mamãe, eu quero ir a Cuba e quero voltar…” Em Parede, fechando a revista, uma ilustração de Juliana Moraes.

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