A monografia, cujo anteprojeto deu o impulso inicial para a criação deste blog, está pronta, finalizada, aprovada e revisada. Diagramando Revistas Culturais – Reflexões sobre a Revista Fraude, monografia orientada por Graciela Natansohn pode ser visualizada e baixada:
Arquivo da tag: revista fraude
Revista Fraude #6
O sexto número da minha querida revista Fraude foi lançado em 28 de novembro em Salvador. Vários fatores atrasaram minha resenha, mas agora não tenho mais desculpas. Foram disponibilizadas online a versão digital da revista e o vídeo do programa Soterópolis, sobre o lançamento:
Minhas opiniões são menos suspeitas desta vez porque minha participação nesta edição se limitou à co-autoria da matéria sobre toy art na Bahia, à diagramação das páginas da mesma matéria e alguns pitacos para o diretor de arte, Rodrigo Lessa, que fez um trabalho muito melhor do que fiz no número anterior.
Pois bem. Além da matéria sobre toy art, “Artistas de Brinquedo’, gosto muito dos textos sobre o mercado de animação e sobre a música religiosa. Foi nessa matéria que conheci alguns dos versos mais bonitos da história da música brasileira: “Bolo doido, bolo doido! Eita bolo doido! A vida sem Jesus é bolo doido!”. Concordo!
Também foi realizado um perfil de uma designer, realizado exclusivamente atráves de mídias sociais, sem a mesma saber: Orkut, MySpace, Blogspot, Flickr, Deviant.art etc. Posteriormente tive alguns contatos com Rebecca Agra, que me ajudou até no TCC (!) e merece a indicação.
Se no número anterior o uso de elementos sequenciais nas diagramações se fez mais presente, dessa vez o recurso é utilizado na capa! A equipe de arte produziu as fotografias de Wendell Wagner e já brindam o leitor no primeiro passar de página.
Novamente, a dupla da seção de curtas Preliminares é um ponto alto da revista. Usando técnicas simples de colagem, a composição ficou clara e apropriada para a seção.
No centro da revista o núcleo temático, posicionado logo após uma crônica sobre sexo virtual, trata de colaboração em software e no cinema. A literatura via/de/com Twitter também marca presença. Fechando o miolo da revista, uma história em quadrinhos jornalística, sobre a marcha da maconha em Salvador e reapropriações da marca Macaquicha por ilustradores baianos. Na contra-capa um paper toy freudiano de Brian Gubizca e Matt Hawkins.
Se você é soteropolitano, deixe de ser mão-de-vaca e tenha em mãos a edição impressa do que o PetCom generosamente colocou no Issuu. São apenas dois reais!
Projeto de TCC: Manual de Design Editorial
Quem já leu o “Sobre“, sabe que este blog nasceu para reunir material relacionado a meu Trabalho de Conclusão de Curso, vulgo TCC. Posteriormente, começou a abarcar novos assuntos. Agora, quando começo a escrever de fato o trabalho, quero compartilhar com vocês o miolo do projeto, que será executado a partir daqui.
O TCC está sendo orientado pela prof. Graciela Natansohn, doutora e pesquisadora do Poscóm-UFBa. Na bibliografia no final do texto, links para resenhas dos livros.
Manual de Design Editorial – Revista Fraude
I. Apresentação
A revista Fraude é uma publicação de jornalismo cultural produzida pelo Programa de Educação Tutorial da Facom-UFBa. Desde o primeiro número, em junho de 2004, caracteriza-se pela busca do experimentalismo em todas suas etapas de produção: redação, captação de recursos, assessoria de imprensa e diagramação.
É em relação à diagramação que a revista tem mais se destacado nos seus primeiros cinco números para o seu público-alvo (estudantes universitários das áreas de Comunicação, Humanas e Artes, especialmente da UFBa), por exibir um jeito incomum de composição das páginas, pouco visto nas publicações mais famosas.
O trabalho proposto aqui pretende sanar uma das principais críticas à diagramação da revista, a falta de continuidade. Esta falta de continuidade pode ser percebida em dois aspectos principais. O primeiro deles é a falta de um projeto gráfico consistente. Segundo Jan White, os elementos presentes no projeto gráfico estabelecem a unidade de uma revista:
Diagramas (estruturas da página); sinais do logo repetidos; colocação dos elementos repetitivos no mesmo lugar; cor; tratamento do Box; característica da arte; formato das páginas padronizadas; qualquer coisa que acontece mais de uma vez; e tipo. (WHITE, 2007)
Nos primeiros números da revista não são encontrados continuidade nem na estrutura, paginação e numeração, selos de editorias, tipografia (nem família nem tamanho). Essa deficiência é facilmente percebida pelo leitor, que precisa de elementos de redundância para apreender o caráter de um produto gráfico.
O segundo grande problema é a incoerência entre as edições diferentes. A cada ano são novos bolsistas responsáveis pela revista, e o domínio de técnicas de design editorial e comunicação visual aplicadas ao meio revista oscila bastante.
A proposta de trabalho aqui é, portanto, um manual de diagramação da revista Fraude. Pretende-se apresentar, de forma didática e aplicada, os elementos da comunicação visual em sentido lato, as especificidades do design de revista, o projeto gráfico a sua aplicação, além de técnicas de processo criativo aplicadas ao design.
II. Delimitação do problema
A revista Fraude é produzida por um grupo de alunos de graduação dos cursos de Jornalismo e Produção Cultural, bolsistas do PetCom. Assim como os outros projetos desenvolvidos pelo programa, a atividade tem como objetivo principal formar os alunos através da experimentação em atividades práticas que relacionem pesquisa, ensino e extensão.
Uma das etapas mais desafiadoras é justamente a da diagramação da revista. A ausência de uma discussão mais aprofundada sobre o design editorial se reflete na inconstância visual em um mesmo número, quanto na falta de continuidade entre mais de uma edição.
Aspectos como tipografia, malha gráfica, indicação de editorias, espaços em branco, entre outros, não se mantêm entre as edições, o que dá a desagradável impressão de amadorismo.
Parte do problema pode ser explicado pela histórica falta, na faculdade, de disciplinas que tratem de jornalismo visual ou design. A formação dos alunos diagramadores dos produtos impressos geralmente é amadora, autodidata e centrada sobre as habilidades nos softwares de editoração.
Porém, concordamos com a constatação de Rodolfo Fuentes (2006, p.13) que diz que o “problema atual do design gráfico é que ‘temos muita tecnologia, pouca metodologia e nada de filosofia’”. Formular um projeto gráfico faz-se necessário para servir de horizonte na produção dos próximos números da revista, mesmo que seja para servir de proposição primeira a ser evoluída ou superada em anos vindouros.
Também deve ser levado em consideração as possibilidades materiais e técnicas que estão a disposição do grupo PetCom. De um lado, o baixo orçamento para a criação da revista traz algumas limitações: As primeiras são de ordem técnica e física. O orçamento do programa só permite uma revista com miolo preto-e-branco com, relativamente, poucas páginas (44 atualmente): são fatores a serem considerados no manejo do espaço e das possibilidades compositivas.
De outro, a média de permanência de cada bolsista no programa (cerca de um ano e meio) traz o problema da constante mudança de membros das equipes produtivas da revista. Em relação à diagramação, portanto, é necessária a criação de um manual que permita que a primeira experiência em editoração do bolsista já seja proveitosa e que, apesar da rotatividade da equipe, a identidade visual da Fraude seja conservada.
III. Justificativa
O projeto gráfico é a formulação dos aspectos visuais de um produto midiático. No jornalismo, envolve a definição de aspectos como: cores, tipografia, utilização de imagem (fotografia, ilustração, colagem etc), relação espacial entre estes elementos, disposição das páginas, papel, tamanhos etc.
A importância do projeto gráfico se dá, em primeiro lugar, no sentido de que para que um impresso seja percebido como um exemplar de uma série são necessários elementos básicos de reconhecimento. Os mais imediatos são os aspectos visuais. Além do reconhecimento, um periódico, como produto cultural que põe à venda, precisa chamar a atenção do leitor. Como escreve E. Martín:
O convite natural à leitura é a primeira fase da linguagem gráfica, a qual depende mais do aspecto morfológico que do semântico. Os dados morfológicos da obra gráfica, ou seja, sua forma, suscitam no leitor o desejo de conhecer o conteúdo, isto é, a face semântica ou do significado das palavras. (MARTÍN, 1970, p. 113)
Além do reconhecimento de que diferentes números de um periódico façam parte da mesma publicação e estabelecem o primeiro convite à leitura, está o caráter do produto. As revistas são reconhecidas cada vez mais pela sua especialização em determinado setor do público. Assim como o texto, a diagramação deve levar em conta esse público, trazendo um projeto gráfico condizente com seu universo cultural.
Uma vez que as revistas impressas são publicações com maior tempo de produção e, ao mesmo tempo, maior custo envolvido, a diagramação requer um apuro mais refinado. Uma revista é um produto que pode, e deve, ser mais ‘visual’ que ‘textual’, ao contrário do que normalmente acontece com o jornal.
Um manual de diagramação que, além de mostrar a aplicação do projeto gráfico, contenha uma introdução com noções básicas de design editorial, servirá de base para futuros bolsistas que não têm experiência com diagramação.
Design de revista não é arte. Marília Scalzo, renomada editora de revistas entitula assim uma sub-seção de seu livro dedicado ao jornalismo de revista (SCALZO, 2003, p.66). Toma “arte”, portanto, no sentido de expressão totalmente autônoma, tendo por fim si mesma. Apesar da estreiteza da concepção da palavra, é interessante por explicitar que o design de revistas é, assim como o texto, seja reportagem, crônica ou editorial, primordialmente comunicação. E deve ser encarada como tal, como um processo passível de controle.
IV. Objetivos
Objetivo principal:
– Estudar as especificidades do design editorial em revistas impressas de jornalismo cultural
Objetivos específicos:
– Elaborar o Projeto Gráfico da Revista
– Produzir o Manual de Diagramação da Revista Fraude
V. Fundamentação
A importância do projeto gráfico na produção de periódicos jornalísticos é consenso entre profissionais e teóricos da área. A busca por uma identidade própria é uma das principais razões.
Por trás do trabalho de planejamento visual de qualquer veículo de mídia impressa há uma questão que sempre acompanha o editor de arte: a identidade do veículo. Pode-se afirmar que esse profissional terá alcançado seu objetivo no momento em que o leitor correr os olhos sobre a página e souber a que publicação ela se refere. Ou seja, no instante em que ele, a partir do design gráfico apresentado, souber identificar o veículo mesmo sem ver o logotipo. (CARNICEL apud SANTOS, p. 2)
A revista Fraude se pretende experimental por dois motivos. O primeiro é sua linha editorial. É uma publicação que se pretende multicultural e aberta a novas contribuições. O próprio título já traz em si a proposta: “nada é totalmente original na cultura”. De posse desse projeto editorial, cada equipe experimenta novas possibilidades a cada número. Mas o que se percebe é mais um tateio às cegas do que uma exploração sistemática.
O segundo e mais importante motivo é o caráter laboratorial do produto. Cada bolsista que passa pelo programa participa, em média, de apenas dois números da revista. Portanto, a cada ano, pretende-se que os bolsistas passem por determinadas etapas de aprendizado.
Apesar disso, acredita-se que a proposta de criação de um projeto gráfico e do manual de diagramação não vai contra o experimentalismo, uma vez que pode incluir parâmetros e indicações de como superar as definições dadas e evoluir a partir dessa primeira proposição. Como escreve Rudinei Kopp,
Se até nossa identidade cultural pode ser cambiante, sem um lastro crível como se acreditava até poucas décadas (ou anos), não representa uma surpresa tão grande percebermos que a indústria tem uma produção flexibilizada, pronta para se reprogramar facilmente, ou ainda, que os tão conhecidos projetos gráficos fixos não simbolizem mais a quintessência do design gráfico. (KOPP, 2002, p. 1)
Portanto, a proposta aqui é um manual que permita que a diagramação da revista seja “cambiante”. Porém essa cambiância deve ser percebida pelo leitor, não pode parecer que é reflexo de uma descontinuidade, de falta de apuro ou cuidado na discussão.
Entende-se aqui que o Manual de Diagramação de uma revista como a Fraude não pode se restringir à aplicação de fórmulas, números e definições restritas. Tem, antes de tudo, de pensar o design editorial e o papel do projeto gráfico. As etapas de produção do manual serão, portanto, pensadas de acordo com o objetivo do manual: ser um produto que tanto inicie os bolsistas no design editorial e na diagramação da revista, quanto permita a sua própria superação.
Apesar de trazer o título “Manual de Diagramação”, a proposta de trabalho aqui não se a apenas mostrar como aplicar o projeto gráfico á diagramação de uma edição. Pretende-se sim ser um manual que possa mesmo servir de referência inicial a algum bolsista que não tenha experiência em diagramação nem conhecimentos prévios sobre comunicação visual e design editorial.
VI. O Manual – estrutura e apontamentos
Além dos elementos editoriais indispensáveis como Apresentação, Índice, Introdução e Glossário, foi elaborada uma estrutura básica do manual que atenda as principais capacidades envolvidas na diagramação de uma revista como a Fraude. Os oito itens apresentados e explicados a seguir correspondem à estrutura prévia do manual, de acordo com as conclusões já obtidas sobre quais são as competências necessárias a uma equipe de arte de revista. Cada um corresponde a um capítulo do manual.
Entendendo que o leitor já conheça a publicação, ao menos por uma leitura prévia, a sequência dos capítulos foi pensada de forma que a discussão sobre o produto em questão esteja precedida dos capítulos sobre: Imagem, Design e Comunicação Visual, História e Design de Revistas. Nos meses seguintes, estes capítulos serão desenvolvidos a partir de revisão bibliográfica, entrevistas, observação de revistas e pesquisa de imagem.
1. A Imagem
Entender os elementos básicos da imagem como ponto, linha, forma, direção, tom, cor, textura, escala, dimensão e movimento, é indispensável para o desenvolvimento do olhar sobre o design, no desenrolar do manual.
A conceituação do termo imagem será desenvolvida neste capítulo. Martine Joly (2006, p.13) elenca um rol de definições e usos da palavra “imagem”, que vai da “imagem mental”, a imagem como representação conceitual. Definir imagem como matéria visual e identificar os pontos de contato entre as outras definições é essencial para uma melhor compreensão de seu processo de produção.
Os níveis de expressão da imagem, por sua vez, também serão abordados. Em primeiro lugar, segundo Dondis (2003) as imagens podem buscar a representação, ou seja, a correspondência a um objeto físico específico. Pode ser simbolista, apoiando- se em simplificação e/ou convenção, como símbolos e pictogramas. Por fim, a abstração é o nível da imagem que abarca marcas estilísticas e conceituais. Deixe-se claro, porém, que nenhuma imagem pode ser tomada apenas em relação a um destes níveis, mas entender essa divisão é indispensável para a significaçao da diagramação.
2. Princípios do design e comunicação visual
O design é uma arte aplicada. O que o distingue das demais artes é o seu caráter funcional, objetivo, de aplicar técnicas estéticas, comunicativas e artísticas para um fim específico. Portanto, a definição do design como atividade projetual será tomada como baliza do trabalho, uma vez que, como qualquer produção comunicacional, se dirige a outras pessoas que não o autor.
Essas técnicas comunicativas foram estudadas a fundo durante o século XX, e foram identificadas e classificadas variáveis à disposição do designer. A chamada psicologia da forma, ou Gestalt, corrente do início do século XX tem como seu principal nome o de Rudolf Arnheim. Teórico da percepção visual nos legou uma obra pilar dessa corrente teórica: Arte e Percepção Visual (ARNHEIM, 1980). As proposições sobre elementos com Equilíbrio, Configuração, Forma, Espaço, Luz, Cor, Movimento, Dinâmica e Expressão serão apresentadas, uma vez que são operadores à disposição do comunicador ao criar uma página.
Outra metodologia a ser apresentada é a proposta por Dondis (DONDIS, 2003), ao categorizar dezenas de técnicas visuais em pares opostivos como Regularidade/Irregularidade, Minimização/Exagero, Agudeza/Definição etc.
Depois de apresentar essas técnicas de comunicação visual, devidamente contextualizadas na produção de revistas, o manual passará para a tipologia, definição e apresentação dos elementos como: projeto, layout, escala, tipografia, cor, suporte e métodos de pré-impressão e impressão. Retomará o discutido no capítulo 2, sobre formatos da imagem (ilustração, fotografia, infogramas, pictogramas), tomando-os dessa vez como produção diretamente vinculada ao design.
3. Breve história das revistas
É importante, antes de passar para questões mais diretamente ligadas ao meio revista, conhecê-lo. O presente capítulo pretende apresentar a história da revista. Como surgiu, contexto socio-cultural, primeiras revistas. Será dada ênfase a dois grupos, por assim dizer, de revistas.
Em primeiro lugar, como não poderia deixar de ser, a revistas brasileiras. Em seguida, a revistas conceitualmente semelhantes à proposta de design contemporâneo da Fraude, como a histórica Ray Gun, de David Carson (HOLLIS, 2005).
Neste capítulo também serão abordados aspectos jornalísticos e produtivos que envolvem a revista. Sobre estes pontos, existe bibliografia brasileira razoável a ser consultadas e revisadas, como Revistas no Brasil (EDITORA ABRIL, 2005) e Revistas em Revista (MARTINS, 2001).
4. Design editorial: revistas
As escolhas compositivas que o designer faz estão conformadas, para o bem e para o mal, por vários aspectos externos. Além da linha editorial do produto, uma vez que “é o leitor quem vai determinar o tipo de linguagem gráfica a ser utilizada pela publicação” (SCALZO, 2003, p.67), as próprias características físicas são determinantes do design de revista. Além de aplicar os elementos mais gerais de design já explicitados no capítulo dois à revista, outros itens mais específicos serão desenvolvidos durante o capítulo quatro.
A grelha é um recurso muito utilizado no design de brochuras, especialmente de revistas. É a definição de regras de composição diagramática das diversas páginas e seções do produto, de forma que é alcançada uma sensação de unicidade, e as informações são mais facilmente encontradas. Josef Muller-Brockmann, design modernista por excelência, define melhor a importância da grelha:
“A redução do número de elementos visuais usados e sua incorporação a um sistema de grelha criam um sentido de planejamento conciso, inteligibilidade e clareza, e sugere ordenamento do design. Essa ordem tende a adicionar credibilidade para a informação e induz confiança.” (MULLER-BROCKMANN, 1981, p.13).
Outro aspecto em investigação é o papel da sequencialidade na construção de sentido da diagramação. Apesar da pouca bibliografia, entende-se que é um aspecto chave em se tratando de revistas, por ser um produto gráfico que permite introduzir, por meio da articulação sequencial entre as páginas, elementos de movimento e tempo. Jan White propõe uma analogia entre as diversas formas de arte sequencial usando o termo “desfile” e complementa
“o modo pelo qual os observadores reagem a uma página é afetado pela memória daquilço que acabaram de ver, assim como a curiosidade pelo que vem em seguida. Hábeis comunicadores exploram essa quarta dimensão – o tempo – para dar ‘ritmo’ ao produto e incluir surpresas, altos e baixos emocionais” (WHITE, 2006, p.29)
O aspecto jornalístico do produto também será posto em evidência. Entre todos os produtos gráficos, a revista talvez seja o que precisa dar mais ênfase ao texto. “A significação gráfica tem sido vista apenas em suas linhas ferais, jamais se refletindo as possíveis implicações do cruzamento de sua leitura com o texto”, alerta Rafael Souza Silva (1985, p.39). Alice Vargas (2007, p.11), por sua vez, diz que “cada texto tem sua ‘voz’, isto é, a emoção da matéria, que pode ser expressa através da tipografia do título e da composição da página”, em consonância com os outros elementos de projeto gráfico. A diagramação de revista tem de, portanto, buscar páginas, duplas e sequências que integrem o texto ao design.
5. Fraude. Histórico e análise
Uma vez que o manual situa o leitor em relação às questões da imagem, design, comunicação visual e história das revistas, o produto em questão pode ser apresentado e analisado.
A história da revista será apresentada. A partir de entrevista com os criadores e membros serão explicitadas as intenções criativas, os diferentes projetos editoriais e gráficos dos diferentes números.
Em seguida, a partir das concepções desenvolvidadas no manual do que é uma boa realização do design editorial, cada um dos seis primeiros números será analisado criticamente.
6. Projeto gráfico da revista Fraude
Depois de apresentar as técnicas comunicativas, história das revistas, especificidades do design editorial e a revista Fraude, seu projeto gráfico, e as escolhas por trás dele, podem ser melhor compreendidas.
Este capítulo apresentará os elementos básicos, e as variações possíveis, do projeto gráfico da revista Fraude. Como já citado acima, a proposta é que todo o manual e, principalmente, o projeto gráfico incentive e permita a inventividade dos diagramadores. Assim, os itens do projeto gráfico trarão, além das aplicações padrão, sugestões de variantes aplicáveis e como criar novas.
7. Metodologia e processos criativos
O penúltimo capítulo tratará da metodologia e processos criativos envolvidos na concepção e diagramação da revista Fraude. Em um primeiro momento será descrito a metodologia de trabalho na diagramação da revista Fraude. Acompanhamento de pauta, pesquisa de imagens, rascunho e paginação prévia antes da diagramação propriamente dita das páginas. Em seguida, serão confrontados diferentes métodos de desenvolvimento de criatividade (PANIZZA, 2004) com as experiências já realizadas pela revista. Serão utilizados também relatos de ex-membros da equipe dos seis primeiros números produzidos.
8.Bibliografia e fontes de informação
Finalmente, o último capítulo trará a indicação livros e outras fontes de informação como blogs, portais, associações etc. Todos devidamente comentados e relacionados a problemas envolvidos na produção da Fraude.
Bibliografia consultada
ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Pioneira, 1980. [ler resenha]
AUMONT, Jacques. A Imagem. Campinas: Papirus, 1993. [ler resenha]
CARDOSO, Rafael (org.). O design brasileiro antes do design: aspectos da história gráfica, 1870-1960. São Paulo: Cosac Naify, 2006. [ler resenha]
COLLARO, Antonio Celso. Projeto Gráfico: Teoria e Prática na Diagramação. São Paulo: Summus, 1987. [ler resenha]
DONDIS, D.A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Coleção A. [ler resenha]
FUENTES, Rodolfo. A Prática do Design Gráfico: uma Metodologia Criativa. São Paulo: Editora Rosari, 2006. [ler resenha]
GOMBRICH, E. H. Arte e Ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica. São Paulo: Martins Fontes, 2007. [ler resenha]
HURLBURT, Allen. Layout: o Design da página impressa. São Paulo: Nobel, 2002. [ler resenha]
HOLLIS, Richard. Design gráfico: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Coleção A. [ler resenha]
JOLY, Martine. Introdução à Análise da Imagem. Campinas: Papirus, 2006. [ler resenha]
KOPP, Rudinei. A capa efêmera: raízes e causas da instabilidade como estratégia no design editorial. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 25., Salvador, 2002. Disponível em: < http://hdl.handle.net/1904/18730 > [ler resenha]
KOPP, Rudinei. Design gráfico cambiante. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. [ler resenha]
MARTÍN, E. La composición en artes gráficas. Tomo segundo. Barcelona: Don Bosco, 1970.
MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista: Imprensa e Práticas Culturais em Tempos de República, São Paulo (1890, 1922). São Paulo: Edusp, 2001.
MELO, Chico Homem de (org.). O design gráfico brasileiro: anos 60. São Paulo: Cosac Naify, 2006. [ler resenha]
MULLER-BROCKMANN, Josef. Grid Systems in Graphic Design. Niederteufen (Suíça): Arthur Niggli Publishers, 1981 [ler resenha]
PANIZZA, Janaína. Metodologia e processo criativo em projetos de comunicação visual. Dissertação. Escola de Comunicação e Artes, USP: São Paulo, 2004. [ler resenha]
PIZA, Daniel. Jornalismo Cultural. São Paulo: Editora Contexto, 2004. [ler resenha]
RIBEIRO, Milton. Planejamento Visual Gráfico. Brasília: LGE, 2003. [ler resenha]
SANTOS, Marielle Sandalovski. Design de notícias: uma questão holística. Biblioteca Online de Ciências da Comunicação: 2005. Disponível em: <http://www.labcom.ubi.pt/~bocc/_esp/autor.php3?codautor=889>
SCALZO, Marília. Jornalismo de Revista. São Paulo: Editora Contexto, 2003. [ler resenha]
SILVA, P.A.C.. Descobrindo as Revistas Customizadas: o Design da Informação na Revista Oi. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 28., 2005. Rio de Janeiro. Disponível em: < http://hdl.handle.net/1904/16966 >
SILVA, Rafael Souza. Diagramacão: o planejamento visual gráfico na comunicação impressa. São Paulo: Summus, 1985. [ler resenha]
VARGAS, Alice. Manual de diagramação da revista Lupa. 2006.
WHITE, Jan B. Edição e Design. São Paulo: JSN Editora, 2006. [ler resenha]
WHITE, Jan. Utilizando a parte gráfica para propósitos editoriais – Notas da palestra. In: Boletim Editorial Abril especial, n. 20. < http://www.botecodeideias.jor.br> Acesso em 08/12/2007.
Revista Fraude #5
Lançado em novembro de 2007, o quinto número da revista Fraude renovou praticamente todo o seu quadro de repórteres e designers. E, desta vez, podem ser chamados de repórteres de fato. Os textos deixaram de ser ensaísticos para serem jornalísticos e bem apurados. Também ao evoluindo em relação aos dois últimos números, a revista volta a ter muitas páginas dedicadas a Salvador.
“Cada caso é um caso” trata do abre-e-fecha das casas de show em Salvador. “Quem crer e for batizado será salvo” é um passeio pelo bairro do Bonfim. “Memórias em Série”, de Valéria Vilas Bôas, é um perfil do colecionador Humberto Miranda. O jornalista e ator Gabriel Camões escreve sobre as comédias e tragédias de quem quer ser ator em “Fábrica de Sonhos”. “Espera a chuva passar” é uma pequena crônica da repórter e moradora da residência universitária da UFBA.
Saindo do perímetro estrito da capital baiana, “O Preço da Cultura” discute a dinâmica do fomento cultura no Brasil. “Pouco se cria, muito se copia”, de Nina Santos, discorre sobre pirataria de moda. “Blogs, gays e capital político”, de João Barreto e Tanara Régis, mapeam o ciberativismo glbtt. A minha matéria trata do tardio reconhecimento dos videogames como forma de arte. A entrevista da edição é com ninguém menos que Armand Mattelart.
Esse número promoveu mais uma repaginada no projeto editorial e gráfico. Quanto ao primeiro, a divisão em editorias de reportagem se deu em: Cotidiano, Economia da Cultura e Ciber, com nomes auto-explicativos. Ainda traz mais duas seções. Preliminares são pequenos textos. E Imaginando é a seção de artes visuais. Neste número convidamos os fotógrafos do Labfoto Fabíola Freire, Mayla Pita e Wendell Wagner para repensar a fábula Chapeuzinho Vermelho. E pra fechar a revista, charge de Rodrigo Minêu.
Tive a oportunidade de dirigir a equipe de arte nesse número. Na capa tentamos manter o conceito Fraude mixando o cartaz do filme de Jonathan Dayton e Valerie Faris, Little Miss Sunshine, com personagens e objetos relacionados às matérias. No miolo, demos atenção à diagramação sequencial de algumas matérias. Na matéria sobre TV Pública e na matéria sobre ciberativismo fizemos uma transição de página direita para a página par seguinte, como se a folha se dobrasse sobre si mesma.
Na matéria “Pouco se cria, muito se copia” fiz algo mais sutil (ou imperceptível quando falho), uma transição do tipo transformação. Na página 13 pus anotações como “post-its” sobre a imagem recortada de uma modelo desfilando. Na páginas 15, pus a mesma imagem, mesmo tamanho e posição, mas com edição e aplicação de filtros para parecer uma fotocópia. E no lugar das inscrições dos “post-its” as palavras “ok” ou “mudar cor”. Pretendia-se que: 1) o estilo da imagem dá a sensação de cópia; 2) estar exatamente na mesma posição remetesse a papel carbono; 3) os post-its e a troca do texto dentro deles representassem a intencionalidade de alguém que copia.
Os textos do sexto número da revista estão prontos. Atualmente as equipes de arte (atualmente dou uma ajudinha eventual), assessoria e produção estão finalizando a revista e começando a divulgação. O lançamento está previsto para novembro, e o blog está sendo atualizado periodicamente.
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Revista Fraude #3
Apesar de ter mais unidade que as duas primeiras, não é tão bonita. Há um uso muito maior de brancos e as texturas foram praticamente abolidas em favor da legibilidade. As duas matérias de três páginas, não utilizam bem a sequência, porém. O conto é uma das melhores duplas, utilizando um efeito de contraste/espelho muito interessante, apesar de inexato.
A dupla da matéria “Bonecas de Plástica”, uma das poucas com fotografias produzidas, também traz uma proposta interessante. A melhor, entretanto, é a da matéria “Na cena do crime”. Na página par, um aparente erro na imagem traz uma segunda interpretação do todo da página, e a página ímpar traz uma integração entre a ilustração e página bem realizada.
O professor André Lemos contribuiu com o conto “Palavras Escritas”, enquanto que o jornalista Danilo Fraga (um dos fundadores da revista, atualmente no Caderno Dez!) escreveu texto sobre “A jovem Jovem Guarda”, mostrando a influência da Jovem Guarda no novo rock gaúcho. Uma dessas bandas é o Cachorro Grande, entrevistada nesse número da revista.
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