Revista Muito #0

Fazer revista não é fácil. Já comecei outro texto deste blog com a mesma frase. Não é à toa que a Muito pode se gabar de ser a primeira revista semanal baiana, com maior tiragem.

A partir de amanhã, domingo 06 de abril, a revista criada pelo grupo A Tarde será distribuída, “de graça”, nas edições de domingo do jornal. Tiragem de 50.000, ultrapassa de muito longe as tiragens modestas, e periocidade mais ainda, das poucas revistas baianas, a maior parte delas univesitárias.

O número zero da revista já está disponível para download. A capa exibe Cláudia Leite de “bobs” no cabelo. A matéria é A fantástica fábrica de ídolos, sobre a produção de estrelas da música pop, rock e axé. De Kurt Cobain a Michael Jackson, nem Joelma fica de fora. No começo da revista, uma entrevista com a psicanalista Leda Guimarães, que fala algumas coisas interessantes e outras besteirinhas, o de sempre.

O projeto gráfico é bem bonitinho. Também foi criado por Iansã Negrão, responsável pelo jornal. As chamadas de capa são feitas em um tipo sem serifa bem fininho e elegante, que me lembra muito a Geo Sans Light, que uso nos títulos internos da Fraude. O logotipo da revista é a palavra ‘muito’, vermelha, com extremidades angulares ou arredondadas alternadamente. O “pingo” do “i” fica embaixo. Mais uma vez a tríade divina preto-branco-vermelho está presente.

Como não poderia deixar de ser em qualquer revista que queira viver mais que os habituais quatro primeiros números, a publicação é recheada de publicidade, tanto direta quanto indireta. De vestidinhos para as socialites da Vitória vestirem seus poodles a óculos de sol com mp3, para nenhum cooper da Barra botar defeito. Em moda, algumas bolsas pseudo-rústicas. Ainda tem uma seção de produtos de tecnologia e outra de cosméticos.

Bio fala de Receca Falcone, moça baiana multi-performática, que canta, dança, atua e desfila. A revista ainda traz dicas de estabelecimentos culturais e um pingue-pongue com o escritor Santiago Nazarian.

O melhor texto é a Crônica de Aninha Franco, “Mamãe, eu quero ir a Cuba e quero voltar…” Em Parede, fechando a revista, uma ilustração de Juliana Moraes.

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Revista Fraude #3

A Fraude chega ao terceiro número no final de 2005. A revista existia há dois números com outra equipe. Dessa vez, a revista se diferenciou bastante em relação aos primeiros números, em parte por causa dessa mudança.

Apesar de ter mais unidade que as duas primeiras, não é tão bonita. Há um uso muito maior de brancos e as texturas foram praticamente abolidas em favor da legibilidade. As duas matérias de três páginas, não utilizam bem a sequência, porém. O conto é uma das melhores duplas, utilizando um efeito de contraste/espelho muito interessante, apesar de inexato.

A dupla da matéria “Bonecas de Plástica”, uma das poucas com fotografias produzidas, também traz uma proposta interessante. A melhor, entretanto, é a da matéria “Na cena do crime”. Na página par, um aparente erro na imagem traz uma segunda interpretação do todo da página, e a página ímpar traz uma integração entre a ilustração e página bem realizada.

Em relação às pautas, essa edição trouxe como núcleo temático, essa edição trouxe à discussão a ‘Ficção e realidade: os labirintos do século XXI”: uma matéria sobre o reality show policial Linha Direta, outra sobre metaficção histórica, além de rastrear a inspiração para o programa Pânico na TV! , o comediante americano Andy Kaufman. Renovação constante da moda, literatura pop e programas infantis também tiveram espaço. Sobre cinema, a Fraude trouxe matéria sobre a nova abordagem do sexo, e outra sobre o monstro dos filmes de terror como representação do Outro.

O professor André Lemos contribuiu com o conto “Palavras Escritas”, enquanto que o jornalista Danilo Fraga (um dos fundadores da revista, atualmente no Caderno Dez!) escreveu texto sobre “A jovem Jovem Guarda”, mostrando a influência da Jovem Guarda no novo rock gaúcho. Uma dessas bandas é o Cachorro Grande, entrevistada nesse número da revista.

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Revista Fraude #2

Em um dos últimos posts, falei da revista Fraude #1. No mesmo ano de 2004, foi lançada outra edição da revista. Dessa vez as pautas se focaram mais na cidade de produção da publicação, Salvador.
Dessa vez o miolo da revista traz a temática “Os fins justificam os meios”? Uma matéria sobre programas jornalísticos populares(cos) da Bahia e outra sobre como a mídia deixou de ser uma crítica, ou vigilantes, para ser um poder em si mesmo.

O forte dessa edição são as matérias locais. Cinemas pornô, rock baiano, Museu do Objeto Imaginário e crise no Rio Vermelho (“bairro boêmio de Salvador) se unem à matéria sobre os jornais sensacionalistas, totalizando as 11 páginas locais da revista.

Ainda traz duas entrevistas. Uma bem curtinha, com a vocalista do Pato Fu, Fernanda Takai e outra mais extensa, com Yacoff Sarkovas. O fundador da Articultura critica as leis de incentivo à cultura do Brasil, que viciam o empresariado com vantagens prejudiciais à autonomia da cultura.

A capa é, na minha opinião, a melhor dentre todas as revistas Fraude. Mantêm as referências múltiplas numa colagem criativa. A diagramação continua pesada, com muitas texturas de fundo em sua maioria desagradáveis. Os pontos altos é a dupla 12-13, da matéria sobre Hermes e Renato, que brinca com a orientação da página. A montagem na saideira da página 38 também é interessante.

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Revista Fraude #1

Fazer revista não é fácil. Criar uma revista, então, é um feito memorável. No início de 2004, os bolsistas do PetCom criaram a revista Fraude. O nome é explicado no editorial: “antes que nos denunciem, a gente estampa na capa. É Fraude mesmo. Aliás, o que não é fraude nesse mundo? É cópia arrotando originalidade. Um monte de gente fazendo o que já foi feito e dizendo que foi o primeiro a fazer“.

A publicação propôs-se ser, além de exercício para sua equipe, ser um espaço alternativo para tratar de cultura. Cultura soteropolitana (ainda incipiente nesse primeiro número) ou mundial (como os MMORPGs).

“O bofe é uma fraude”, escrita pelo professor faconiano Maurício Tavares critica a “cultura do bofe”, prática preconceituosa de valoração do homossexual ativo (que não se dizia homossexual) em relação ao passivo. “A Vida em Jogo” fala dos jogos online de RPG que unem milhares e milhares de jogadores pelo mundo. A matéria de capa, chamada “Caçadores da pauta perdida”, ao traçar um paralelo de TinTim a Tim Lopes, fala dos mitos, problemas e recompensas da prática jornalística. Em “Heróis de Sangue Azul” fala de migrações intermídia, focando na caixa de biscoi… ops, heróis sortidos, de “A Liga Extraordinária”.

A revista ainda traz reportagem sobre auto-publicação de literatura, MPB e séries televisivas. E a sementinha em cima do mousse é uma entrevista com Fábio Massari.

Visualmente, a revista é bem inventiva. Um recurso que eu acho ideal para o jornalismo cultural é a não retangularidade das fotografias. O jornalismo cultural geralmente não está atrelado a questões extremamente factuais e, por isso, os designer devem prezar pela beleza e irreverência das páginas, algo impossível de se fazer com uma revista entupida de quadrados e retângulos.

Algumas páginas merecem destaque. A do editorial com contraste máximo e uma ilustração que liga o índice ao expediente de uma forma sutil, por exemplo. As três páginas da matéria “Literatura de esgoto” utilizam uma sequencialidade vertical, algo incomum. Por outro lado, a matéria sobre MPB é confusa. A inserção de uma publicidade na terceira página quebra a unidade ao ponto de parecer que toda a página é publicidade.

A capa é ótima. Inaugurou a tendência de ter sempre capas referenciais a algum meio ou produto comunicacional. Dessa vez a capa simula um jornal belga – ou francês – que traz manchete e imagem da criação de Hergé.

Em breve postarei os outros quatro números da revista. A partir do terceiro comentarei aspectos produtivos, no papel de redator (#3), designer (#4) e diretor de arte (#5).

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Layout: o design da página impressa, de Allen Hurlburt

Layout: o design da página impressa é um daqueles bons livros introdutórios ao design gráfico. Simples, direto e recheado de ilustrações. As 160 páginas do livro são divididas em quatro seções: Estilo, Forma, Conteúdo e Resposta.

Estilo é a parte mais histórica do livro. Traz capítulos sobre estilos, escolas e designers, como De Stijl, El Lisstsky e, claro, Bauhaus. O livro é de 1977, então não há nada sobre o design contemporâneo ou pós-moderno, ou como queiram chamar.

Em seguida, Forma traz capítulos sobre os elementos do design gráfico. Forma, Simestria e Assimatria, Equilíbrio, Contraste, Sinais e Símbolos, Módulos e outros.

Conteúdo é a seção sobre aspectos produtivos. Tipografia, Fotografia, Ilustração, Humor etc. Resposta, por fim, traz alguns poucos capítulos sobre a recepção. Psicologia da Gestalt, Ilusão e Paradoxos Visuais.

O autor, Allen Hurlburt, foi um renomado diretor de arte. Ganhou vários prêmios e tem algumas publicações específicas sobre design editorial. Uma delas, Publication Design, será resenhada em breve aqui no blog.

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