Caricaturistas Brasileiros 1836-2001, de Pedro Corrêa do Lago

caricaturistas-brasileirosEm mais de 200 páginas, o grande livro Caricaturistas Brasileiros, de Pedro Corrêa do Lago, reúne os 40 principais nomes do país entre 1836 e 2001. Na introdução, o autor fala da história da caricatura e sobre a metodologia de escolha dos artistas. Em uma passagem discute o uso dos diferentes termos para caricatura, e sua definição. O seguinte trecho é interessante:

A abrangência do termo “caricatura” é difícil de definir e vale citar Cássio Loredano, profundo conhecedor do tema, que talvez tenha mais bem explicado a questão ao escrever: ‘Nada é muito preciso. Charge e caricatura são a mesma palavra: carga; mas quando numa redação brasileira se diz charge, em geral se está pensando na sátira gráfica a uma situação política, cultural, etc. estritamente atual; caricatura é geralmente sinônimo de portrait-charge; e cartum vale para o comentário satírico duma situação independente de atualidade.

Já Chico Caruso tem uma explicação empírica mais espacial: uma cena de horizonte amplo seria um cartum. centrada numa situação ou em personagens definidos seria uma charge, e focada exclusivamente numa pessoa, uma caricatura. Mas ‘caricatura’ é ainda o termo genérico que se aplica no Brasil ao desenho de humor em geral.”

Entre os artistas  estão Henrique Fleiuss, J. Carlos,  Cardoso Ayres, Millôr, Ziraldo, Henfil e Angeli, fechando o livro. De duas a dezoito páginas (para J. Carlos) para cada artista, são mais de 300 imagens, acompanhadas de um bom texto histórico e por vezes crítico. Uma “curiosidade” que descobri com o livro: Walt Disney pode ter se inspirado em desenho de J. Carlos para criar o Zé Carioca. A imagem abaixo é um desenho de Nássara representando os presidentes da ditadura militar:

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J. Carlos, Para Todos e o Pierrô

O fato de pensar as quatro capas simultaneamente permitiu ainda que J. Carlos soltasse sua imaginação para além das combinações cromáticas, criando no carnaval de 1927 quatro capas que juntas contam uma história. Na primeira, sob os auspícios da lua, Colombina se deixa seduzir por Arlequim, enquanto Pierrô assiste a tudo, desolado. Na segunda, o dia está raiando, Pierrô olha perplexo para Arlequim morto à sua frente. Podemos perceber que, ao lado de sua mão direita aberta, a fumaça ainda sai do revolver caído no chão. Terceira capa: terça-feira gorda, sol a pino, emoldurando a cabeça de Arlequim carregada numa bandeja, como um são joão batista, pela amante Colombina, que dança alegremente nos ombros de seu Pierrô. Quarta-feira de cinzas, quarta capa. Nela, um diabo gigantesco varre, entre serpentinas e confetes, os tolos Pierrô e Arlequim. A Colombina pela qual se disputaram a esta altura já está em casa, sonhando com os anjos. Ao lado, sem nenhum medo de ser varrida por aquele diabo que conhece bem, uma cabrocha faceira assiste à cena com ar de desdém.”

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O texto e as capas acima foram retirados do ensaio “J. Carlos, designer“, de Julieta Costa Sobral. Faz parte do livro “O Design Brasileiro Antes do Design“, organizado por Rafael Cardoso e editado pela Cosac Naify. O livro é composto de nove ensaios sobre aspectos da história gráfica brasileira entre 1870-1960, comprovando que houve considerável produção que poderia ser chamada de design antes da década de 60.

Mais:
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+ Leia a dissertação de Julieta Costa Sobral chamada Para Todos: J. Carlos Designer aqui
+ Dissertação J.Carlos: A Poética do Traço, de Nathália Chehab aqui
+ J. Carlos como cartunista aqui