Sensores Humanos: 250 milhões de motivos para promover o Twitter

Durante esta Copa do Mundo, o Twitter voltou a protagonizar a mensuração de sentimentos e opinião pública sobre um tema de interesse popular. Como noticiam diversos portais do segmento de mídias sociais, como o Mashable, ou noticiosos como o New York Times, o Twitter está ganhando a Copa do Mundo pelo seu caráter de tempo real e sensação de comunidade e pertencimento nas conversações.

Estou feliz de ver que, neste ano, também o mercado brasileiro de comunicação em mídias sociais está corrigindo o erro de focar somente em uma mídia social (Facebook). Como mencionei no projeto de 50 tendências para 2014 do Scup:

Falando de plataformas, já estamos vendo internacionalmente um ressurgimento forte da atenção ao Twitter. Espero que as agências brasileiras corrijam já o erro de terem abandonado parcialmente as ações de conteúdo e engajamento no Twitter. A abertura do IPO, o investimento do Twitter na parceria de dados com desenvolvedores brasileiros, o fenômeno das segundas (e terceiras) telas e a (espero) crescente maturidade do mercado podem ajudar a corrigir esse equívoco. Espero também a criação e manutenção inteligente de plataformas proprietárias de conteúdo (como blogs) para diminuir a dependência em plataformas totalizadoras como o Facebook.

A comparação de engajamento do mesmo conteúdo no Facebook e Twitter circulou no mercado de mídias sociais.

A comparação de engajamento do mesmo conteúdo no Facebook e Twitter circulou no mercado de mídias sociais.

No livro Social Media Mining with R, os autores repetem diversas vezes a noção de “sensor humano” para descrever usuários no Twitter e sua produção. A ideia de “sensor” está muito vinculada a fenômenos naturais, por isto é um tanto rechaçada, nas ciências sociais, ao se falar de seres humanos. Porém, estou a cada dia menos contrário a este termo, pois temos inúmeros exemplos de análise de dados e fluxo informacional no Twitter não só para analisar os seres humanos e a sociedade, mas também para enfrentar intempéries naturais.

A Copa do Mundo pode ser o divisor de águas na maturidade deste segmento do mercado brasileiro de comunicação. Mas para além do futebol e grandes eventos, eu acredito que o Twitter é uma mídia social necessária para a nossa sociedade contemporânea. Vamos lembrar alguns casos exemplares da aplicação do Twitter enquanto medição do mundo?

Detectando terremotos através do Twitter

eartquakeDesde 2010, a USGS (U.S. Geological Survey) utiliza o Twitter como ferramenta de comunicação e até detecção de terremotos em todo o mundo. Medir rapidamente o uso de palavras relacionadas a terremoto no Twitter e cruzar com a geolocalização das mensagens permite reagir de forma rápida, algo útil tanto para a imprensa quanto para as organizações de apoio. Em algumas regiões pode levar até 20 minutos para um sensor tradicional detectar e reportar o abalo sísmico, mas apenas 20 segundos para perceber o impacto no Twitter.

Enchentes e Apoio Humano

retweeting crisisNa Austrália, o Twitter é utilizado por diversas organizações, como a Polícia de Queensland e a prefeitura de Brisbane, para encontrar e circular informações durante momentos de crise.

O caráter público das mensagens no Twitter também é importante neste caso por outro motivo: boatos e informações incorretas podem ser descobertas de forma imediata, para pronta correção e orientação por parte das autoridades oficiais. Um dos meus pesquisadores preferidos de lá, o Axl Bruns, desenvolve pesquisa sobre o tema. Nos últimos anos, Bruns analisou as redes de diversos países em momentos de crise.

 

Medindo a Felicidade no Mundo

Os projetos de medição de sentimentos, humor e felicidade humana mundial, através do Twitter, são inúmeros. Visualizações como  a We Feel, Emography, Emotive, Aleph of Emotions, Psycho-social Map e Emotimeter mostram as aplicações de analisar o fluxo emocional mundial a partir da estrutura stream-based das expressões de humores e afetos no Twitter.

GoodMorning! Full Render #2 from blprnt on Vimeo.

Twitter como ferramenta de revolução 

arab spring social mediaA Primavera Árabe foi um marco no uso de mídias sociais para articulação e divulgação de protestos populares. Em dois países com um elevado grau de censura a diversos meios, as mídias sociais foram vistas pelos governos como ferramentas da revolução, entrando na mira da batalha da informação. Os acontecimentos mais importantes podem ser visualizados em um gráfico de volume como o demonstrado ao lado.

O impacto da Primavera Árabe no ecossistema midiático mundial também pode ser analisado pela fatia de tweets em árabe relativos ao total dos tweets nas várias línguas do mundo. Próximo a 0% antes de 2011, em 2013 cerca de 3,17% dos tweets foram publicados nesta língua, segundo pesquisa do Gnip.

 

Junho de 2013 no Brasil

Em terras brasileiras, a popularização das metodologias de análise de redes sociais no último ano pôde ser percebida como resultado do impacto que as visualizações dos protestos de junho de 2013 obtiveram. Pesquisadores como Fábio Malini (Labic/UFES) e Raquel Recuero trouxeram os métodos de análise de redes ao agendamento de imprensa. Apesar do conteúdo no Facebook também possuir estrutura de rede, a visibilidade das menções e a possibilidade de processamento são muito superiores no Twitter.

Circulação Acadêmica

plosaltmetrics-arxiv_html_67d62b0cAssim como acontece com Política, o setor Acadêmico é um que nunca se afastou desta mídia social. Os benefícios das mídias sociais, especialmente blogs e Twitter, para os pesquisadores acadêmicos são inúmeros (veja textos sobre o tema no blog do David Beer e da LSE Impact). Um atual ramo da ciência da informação está preocupado em analisar o impacto de publicações científicas através de métricas alternativas, incluindo a circulação em mídias sociais.

Sobre este tema também vale citar a iniciativa Open Access Button. Para medir o impacto negativo que as “paywalls” possuem na construção de conhecimento, o botão Open Access permite ao pesquisador gritar para outros, através das mídias sociais, sempre que não conseguir acesso a um artigo. Além de medir e explicitar as barreiras do conhecimento em publicações fechadas, ajuda a fazer conexões entre pesquisadores interessados.

 

Quantificando a Si Mesmo

Os ideais do movimento quantified self  ganham mais e mais adeptos no mundo todo. Com o apoio das tecnologias contemporâneas, entender melhor a si mesmo – e a seus entornos -, é facilitado. Meu mestrado tocou neste tema (focando em análise de informações sociais) e, durante o processo de mapeamento de aplicativos, fiquei impressionado com a quantidade de usos do Twitter para tal fim. Um dos mais simples (de 2009), que pode ser usado por qualquer pessoa, se baseia em hashtags e deixa clara a simplicidade da plataforma.

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Segunda Tela

quem matou o maxVoltando ao que deu origem ao post, a noção de Segunda Tela e segmento de TV e imprensa são, indiscutivelmente, territórios do Twitter. Comentar sobre programas e acontecimentos acompanhados pela televisão (premiações, campanha política, eventos esportivos, seriados etc) no Twitter, hoje, faz parte da experiência de consumo audiovisual de centenas de milhões de pessoas pelo mundo.

No Brasil um grande caso foi a novela Avenida Brasil, que engajou milhões de brasileiros (e ainda engaja!) a comentar sobre a trama e seus personagens, que foram imortalizados nas mídias sociais.

 

Estes são apenas alguns casos muito interessantes sobre o uso do Twitter enquanto uma ferramenta para olhar para o mundo, seja ele físico ou social. Em uma próxima postagem sobre o Twitter, revisarei quais são suas características socio-técnicas que o fazem único.

7 comentários sobre “Sensores Humanos: 250 milhões de motivos para promover o Twitter

  1. Tenho para mim que essas pessoas que desvalorizam o Twitter são aquelas que perderam o interesse pessoal pela rede e acreditam que ela está ultrapassada apenas por não fazer mais parte daquele cenário. Posso estar enganada.
    Segunda tela no Facebook é piada: as informações ultrapassadas ficam ruminando na sua timeline enquanto um novo tópico já está pipocando no Twitter. A rapidez no fluxo de informações é incomparável entre ambas as redes.
    Sou fã do Twitter e da abordagem simplista e resumida que conseguimos alcançar em eventos grandiosos, como a Copa, mas confesso que também é preciso ter um timing estratégico para saber lidar com cada evento que acontece por lá. Além de, claro, saber o tipo de informação que deve publicar ou compartilhar para obter resultados.
    Li um estudo muito interessante do Buffer que divide o perfil dos usuários entre os “meformers” e os “informers” que são, respectivamente, aqueles que tuitam sobre si mesmos e suas trivialidades e aqueles que compartilham informação útil para os seguidores. A única coisa que ainda me chateia é que a maioria das pessoas (inclusive marcas e profissionais de social media) ainda está muito focada em ser um “meformer” e usar a rede como uma espécie de divulgação de si mesmo e das coisas que faz – ainda não exploraram o potencial de compartilhamento de informações e relacionamento que o Twitter nos proporciona.
    Adorei o seu post e super obrigada por citar o meu tweet! ;)

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