Conversei com o jornalista Reinaldo Glioche sobre TV, mídias sociais e segunda tela nesta semana em matéria para o IG e compartilho as respostas completas:
1 – A tendência de instrumentalizar as redes sociais começou nos talk shows americanos, como o de Jimmy Fallon, e começa a despontar no Brasil em programas esportivos e realities como “MasterChef”. Essa tendência é algo que as emissoras podem dominar ou é completamente alheio ao controle destas?
A comunicação, de modo geral, é sempre algo fora do controle de uma única organização. Nos meios tradicionais sempre existiu reinterpretações, desvios, críticas e engajamentos do público próprios a cada veículo ou atração. Na comunicação online nas mídias sociais, dois pontos nevrálgicos mudam: a estrutura digital em rede permite que estas opiniões e o boca a boca circulem de forma mais rápida e global; e a maior parte destas conversas, em plataformas como o Twitter, pode ser resgatada e analisada. Como muito mais fenômenos hoje são quantificados, em índices como os “Trending Topics”, os números ficam mais explícitos. E, do mesmo jeito, as opiniões emitidas e reinterpretações realizadas. O que as emissoras tem procurado fazer é alinhar alguns de seus produtos às dinâmicas do engajamento dos fãs nas mídias sociais.
2 – Na sua avaliação, bombar nas redes sociais hoje dá mais ibope do que as medições de audiência? Por quê?
Atualmente a internet representa cada vez mais a população, com mais e mais fatias etárias e socioeconômicas conectadas. Então não acredito que exista esta divisão entre o que dá mais resultado ou “ibope”, pois são complementares. Inclusive, a criação de índices como o ITTR – Ibope Twitter TV Ratings – só reforça esta noção. A parceria entre a mídia social e a empresa de pesquisa procura mensurar a repercussão do conteúdo televisivo na mídia digital através de ratings que medem quantidade de tweets, usuários engajados e impressões totais.
3- Vemos hoje jornalistas globais bastante ativos nas redes sociais. Atuar no Twitter e no Facebook é uma forma de cativar audiência?
Sim, é uma forma de cativar e aproveitar o capital social construído em outros ambientes. Nas mídias sociais, valores de autoridade, audiência e reputação podem ser construídos a partir de diversas formas, como a atuação em dinâmicas próprias das redes online e/ou na transposição e expansão da audiência televisivo na construção de uma comunidade online. Alguns jornalistas mais afeitos aos meios digitais procuram realizar esta integração, pois acaba tornando-se inclusive mais um valor a ser “vendido” em negociações com veículos. Figuras como William Bonner e Marcelo Tas possuem cada mais 8 milhões de seguidores no Twitter, tornando-se veículos eles mesmos.
4 – Muitos dos programas em exibição na TV tornam-se os assuntos mais comentados do Twitter. Existe alguma estratégia da perspectiva da produção que possa garantir a subida de uma hashtag?
No final das contas, há pouquíssimos temas ou assuntos que podem ser vistos como “garantidos” para gerar repercussão necessária a virar trending topic. Entretenimento televisivo (especialmente narrativas e reality shows), política e esporte tendem a gerar mais conversas porque lidam também com paixões, sentimentos e controvérsias. Alguns programas conseguem alinhar elementos suficientes a engajar público e influenciadores. A abertura a participação do público é essencial. Mas esta participação não deve ser vista apenas como algo reativo (tuitar e votar com determinadas hashtags definidas pelo programa), mas também na disponibilização (intencional ou não) de material remixável: uma frase que vira jargão temporário, uma imagem reinterpretada como meme, uma situação curiosa… É muito difícil realizar algo com garantia de ser sucesso em qualquer âmbito ou indústria, mas quando falamos de segunda tela, é possível analisar o que dá resultado em tempo real e redirecionar programas e narrativas para alcançar um maior sucesso.
5 – Você acha que a reação instantânea das redes sociais pode estar interferindo na maneira da TV produzir conteúdo? Por quê?
Com certeza, o que acontece nas mídias sociais interfere direta e indiretamente na produção, estilo e até narrativa de alguns problemas. Hoje atendemos clientes do segmento televisivo que observam, com nossa ajuda, não só as mais variadas reações do público aos programas, mas também a própria composição desta audiência em suas características comportamentais e sociodemográficas.
Há dois motivos principais para tal impacto. O primeiro é que a utilização das mídias sociais como “segunda tela” é algo corrente para grande parte da população, então alguns programas conseguem explorar a utilização de “fatos conversáveis”. Pode ser um plot twist na novela, a transformação física de uma atriz, a competição entre participantes, o sotaque engraçado de outro…
O segundo motivo é que as dezenas a centenas de milhares de tweets diários sobre programas como Masterchef, Malhação, Xuxa Meneghel, Pânico na Band ou Verdades Secretas, só para citar alguns, podem ser analisados em tempo real, assim como o comportamento de sua audiência. Sentimento, percepção, frases e termos mais utilizados, relação com marcas, piadas e até aspectos do cotidiano da audiência, expressos através dos tweets, podem ser coletados e interpretados por bons analistas. E tudo isto já é realizado pelas principais emissoras do país, que dedicam esforços de pesquisa a entender impacto, oportunidades e desafios nas mídias sociais.