Watchmen

Watchmen é um daqueles produtos que, de tão bom, nunca me permiti fazer uma crítica (ou melhor: o desfile de elogios). Na verdade, não me atrevo nem a resumir a história. A graphic novel de Alan Moore, com desenhos de Dave Gibbons, lançada entre 1986 e 1987 é considerada, com razão, uma das maiores obra-prima dessa arte. Quando anunciaram, outra vez, que ia ser adaptado ao cinema, fiquei insatisfeito mas despreocupado. O projeto de adaptar Watchmen já tinha sido anunciado e canceladotantas vezes, que não achei que seria dessa que a perfeição da obra estaria ameaçada com uma adaptação ruim. Zack Snyder foi responsável por Madrugada dos Mortos e 300. Apesar de gostar do primeiro e achar que o último foi uma adaptação à altura de Frank Miller, não é tão experiente. Porém, quando as primeiras imagens de divulgação foram lançadas, comecei a me tranquilizar. Finalmente, saiu o trailer abaixo. Tirem suas conclusões.

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PHD Comics

PHD Comics (ou Piled Higher and Deeper) foi criada em 1997 por Jorge Cham, pesquisador da Stanford University, que fez seu p.h.d. em engenharia mecânica!? As tirinhas tratam de causos no meio acadêmico. Todos os clichês estão presentes: procrastinação, intercâmbios, o aluno que nunca se forma, festas loucas, seminários estranhos, escravidão acadêmica e, é claro, professores sádicos e mais professores sádicos e mais professores sádicos e mais professores sádicos e sadismo ad infinitum. Até o clássico sofá marca presença, cheio de manchas de café e de algo não identificado…

Lovecraft

E se as criaturas criadas por Howard Phillips Lovecraft nos contos que mais tarde seriam categorizados por August Derleth como os Mitos de Cthulhu fossem reais? O romance gráfico Lovecraft propõe que o escritor foi perseguido por algumas de “suas” criaturas e os cultistas destas, incomodados pela publicação de seus trabalhos.

H. P. Lovecraft foi um contista de horror do início do século XX. Em seus escritos, a humanidade é irrelevante para o universo. Nos contos da fase chamada Mitos de Cthulhu, foi criada uma mitologia própria: além das divindades ‘verdadeiras’, existiriam algumas criaturas na Terra, os Grandes Antigos, tão poderosos que chegam a ser cultuados como deuses. Antes da humanidade florescer, esses monstros foram banidos e esperam uma oportunidade de reinar novamente. O Necronomicon, um livro mágico maldito, seria a chave para abrir o portal. A premissa da revista é de que este livro realmente existiu, e Lovecraft o recebeu como “herança”.

Adaptado por Keith Giffen, o roteiro de Hans Rodionoff é uma homenagem fundamentada. Fica claro que foi baseado em um amplo trabalho de pesquisa. São identificáveis referências históricas e minúcias biográficas, além da inevitável referência a estruturas narrativas lovecraftianas recorrentes. A introdução escrita pelo cineasta John Carpenter deixa clara a importância do escritor para grandes nomes do horror, como Stephen King e Clive Barker. O próprio Carpenter já homenageou Lovecraft com a premissa e o título original de À Beira da Loucura (em inglês The Mouth of Madness, referência a At The Mountain of Madness).

O horror cósmico criado por H. P. Lovecraft é um desafio para quem queira construir uma representação visual, principalmente se for estática, como no caso dos quadrinhos. Lovecraft construía suas criaturas sempre em termos de inadequação ao mundo e à compreensão humana. A vagueza de descrição era intencional, pois o narrador protagonista não tinha parâmetros de comparação para o “inominável”. O desenhista argentino Enrique Breccia faz um bom trabalho. Seu estilo não é realista, por isso mesmo atinge o objetivo. Os monstros aparecem de forma explícita, apesar disso não ficam banais. Talvez o resultado fosse ainda melhor se o uso de penumbras fosse mais freqüente, mas nada que comprometa a obra.

Alguns detalhes são deleites para os fãs. O desprezo de Lovecraft por seu conto Herbert West: O Reanimador, encomendado pela revista Weird Tales, é mostrado numa conversa com o editor da revista pulp, Edwin Baird. Como não poderia faltar, alguns dos escritores colaboradores de Lovecraft (mais tarde conhecidos como o “círculo lovecraftiano”) aparecem, como Frank Belknap Long e Robert E. Howard. E talvez a melhor das miudezas seja o encontro com o ilusionista Houdini, para quem trabalharia como ghost writer do conto Aprisionado com os Faraós. Atenção também para o papel de Edgar Allan Poe como ídolo e influência para Lovecraft. Apropriadamente uma citação de Poe abre a revista.

Mesmo quem sequer ouviu falar em Lovecraft pode apreciar a revista. Em passagens mais obscuras, notas de rodapé esclarecem o leitor. Se o neófito em Lovecraft não vai sorrir como o fã para cada referência, aos borbotões por página, ao menos vai ser despertado para um autor tão rico, embora ainda sem a fama merecida, setenta anos depois da morte.

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Macanudo #1

Sobre a tirinha Macanudo, vocês já ouviram falar aqui mesmo no blog. A postagem atual é para falar do primeiro livro coletânea da tirinha. Macanudo #1 traz alguns dos primeiros trabalhos de Liniers neste universo.

A capa é maravihosa, com centenas de tipos característicos do desenho de Liniers. O prólogo traz um texto da quadrinista e escritora Maitena. “Cualquiera pude dibujar un gato, cualquiera puede dibujar una nena o un hombre con sombrero, pero no cualquiera puede hacer que ese gato, esa nena o ese hombre con sombrero sean diferentes a todos los que habíamos visto antes y pasen a formar parte del mundo como si los conociéramos.” Assino embaixo.

É curioso ver os primeiros passos do gato Fellini em algumas tirinhas. Ainda sem a forma que tem hoje, gato-futuro-Fellini interagia com um cão, numa perseguição ao estilo gato-e-rato, Tom & Jerry, Krazy Kat e Ignatz.

No miolo, uma surpresa para fãs de Beatles, e uma ilustração sublime com citação de Bill Watterson, criador de Calvin & Hobbes. O formato do livro é um quadrado perfeito, no qual fica ótima a visualização de três tirinhas por página.

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Unspeakable Vault (of Doom)

Os quadrinhos são a arte nerd por excelência. Em comparação com outras artes narrativas (cinema, literatura ou até música), a facilidade de produção e distribuição é muito superior. Isso permite que muitos quadrinhos, principalmente tirinhas, possam delimitar seu público bem restritamente.
Uma tirinha exclusivamente de sátira a um único universo ficcional é uma faca de dois gumes. De um lado o humor pode ter o máximo de eficácia por causa da especificidade das referências. Por outro, quem não conhece a referência fica boiando sem entender patavinas. Logo, não serve para esse público.

Unspeakable Vault (of Doom) é uma dessas tirinhas especializadas em sátira. No caso faz referência ao mundo, por alguns chamados de Mitos de Cthulhu, criado pelo autor norte-americano H. P. Lovecraft. Aproximadamente entre 1920 e 1937 esse autor produziu dezenas de contos que criaram toda uma mitologia de raças alienígenas, planetas e deuses desconhecidos do homem, que são menos do que formigas no universo, que não pode sequer compreender.

As piadas envolvem tanto o universo ficcional, ou seja, referência a rituais de invocação, deuses sádicos e investigadores, quanto o público consumidor do material de Lovecraft. Rpgistas, ouvintes e músicos de metal, e nerds em geral também aparecem eventualmente. Também vale a pena conferir as brincadeiras com outras obras famosas, como Piratas do Caribe, Senhor dos Anéis, Matrix, Arquivo X, Moby Dick, Godzilla etc.

Algumas dos primeiros posts são fichas dos personagens, para ajudar os incautos. O desenho tem algumas peculiaridades interessantes. Uma delas é o fato de que os seres humanos são todos representados sem rosto. Fácil entender, uma vez que não são protagonistas e sim, geralmente, comida dos Old Ones.