Macanudo #1

Sobre a tirinha Macanudo, vocês já ouviram falar aqui mesmo no blog. A postagem atual é para falar do primeiro livro coletânea da tirinha. Macanudo #1 traz alguns dos primeiros trabalhos de Liniers neste universo.

A capa é maravihosa, com centenas de tipos característicos do desenho de Liniers. O prólogo traz um texto da quadrinista e escritora Maitena. “Cualquiera pude dibujar un gato, cualquiera puede dibujar una nena o un hombre con sombrero, pero no cualquiera puede hacer que ese gato, esa nena o ese hombre con sombrero sean diferentes a todos los que habíamos visto antes y pasen a formar parte del mundo como si los conociéramos.” Assino embaixo.

É curioso ver os primeiros passos do gato Fellini em algumas tirinhas. Ainda sem a forma que tem hoje, gato-futuro-Fellini interagia com um cão, numa perseguição ao estilo gato-e-rato, Tom & Jerry, Krazy Kat e Ignatz.

No miolo, uma surpresa para fãs de Beatles, e uma ilustração sublime com citação de Bill Watterson, criador de Calvin & Hobbes. O formato do livro é um quadrado perfeito, no qual fica ótima a visualização de três tirinhas por página.

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El misterioso hombre de negro, Krazy Kat e Umberto Eco (Macanudo)

No livro Apocalípticos e Integrados (1964), no capítulo O Mundo de Minduim, Umberto Eco aponta para dois caminhos de genialidade individual nos quadrinhos. Sobre o primeiro caminho ele fala de Jules Feiffer e sua capacidade de se reportar aos tipos exemplificadores dos males da sociedade industrial.No segundo, ele fala de Krazy Kat, de George Herriman. Para quem não conhece, esta tirinha publicada na primeira metade do século XX é famosa pela inventividade do autor, que explorava uma mesma situação básica – um rato utilizando um tijolo como projétil contra um gato, que acha a tijolada um ato de amor.

Para Eco, essa tirinha “embora narre um fato que se conclui no fim de quatro vinhetas, não funciona tomada isoladamente, mas só adquire todo o seu sabor na sequência contínua e teimosa que se desenrola, nas tiras que se seguem umas após outras, dia após dia”. (p. 284)

Seria uma condição de poesia a “obstinação lírica” do autor. “Reproduzia-se, numa certa medida, o mito de Xerazade: a concubina tomada pelo Sultão para o gozo de uma noite, após o que seria eliminada, começava a narrar uma estória, e o sultão, esquecida a mulher pela estória, descobria, afinal, um outro mundo de valores e prazeres”. (p.285)

Nas tirinhas de Macanudo dedicadas ao El misterioso hombre de negro identifico estratégia semelhante. Eu diria que estas tirinhas não buscam exatamente o riso. Depois de ler três ou quatro delas, se descobre qual o verdadeiro deleite na sua apreciação. Alguns elementos são recorrentes, a graça está em apreciar o virtuosismo do autor em apresentar a mesma situação com forma diferente.

A tirinha é constituída pelos mais variados e clássicos signos de mistério. O personagem principal tem capa cinzenta que recobre todo o corpo, cartola preta e rosto enigmático. O texto da tirinha é sempre uma locução: linguagem testemunhal, parece que o enunciador da tirinha está a nos contar uma lenda urbana. A natureza macanudense também contribui para criar a atmosfera de mistério: frequentemente pássaros negros interagem com o personagem, além das árvores desfolhadas.

Cosas que, a lo mejor, se pasaron a Picasso (Macanudo)


Essas tirinhas fazem parte de Macanudo, de Liniers. Como o nome já indica diretamente, tratam do famoso pintor espanhol Pablo Picasso, de coisas que podem ter lhe acontecido. Elas têm algumas peculiaridades narrativas e pláticas, que tentarei, sem o perdão do trocadilho, pincelar aqui.

Os requadros, o formato e a disposição dos quadros são característicos. São mais espessos que o habitual, preenchidos de cor, além de serem dispostos com certa distância um dos outros. Logo se percebe a estratégia: são alusões a molduras.

A total compreensão das piadas requer que o leitor possua algum conhecimento de história da arte. Em alguns casos se refere a informações literalmente textuais, como o encontro com Breton e Dalí, noutras é iconográfica, como a aparência de Andy Warhol ou quando ele se vê no espelho de um jeito bem particular. São estas os exemplares mais interessantes. De Mondrian a Guernica, ou sua própria assinatura.