Revista Fraude #2

Em um dos últimos posts, falei da revista Fraude #1. No mesmo ano de 2004, foi lançada outra edição da revista. Dessa vez as pautas se focaram mais na cidade de produção da publicação, Salvador.
Dessa vez o miolo da revista traz a temática “Os fins justificam os meios”? Uma matéria sobre programas jornalísticos populares(cos) da Bahia e outra sobre como a mídia deixou de ser uma crítica, ou vigilantes, para ser um poder em si mesmo.

O forte dessa edição são as matérias locais. Cinemas pornô, rock baiano, Museu do Objeto Imaginário e crise no Rio Vermelho (“bairro boêmio de Salvador) se unem à matéria sobre os jornais sensacionalistas, totalizando as 11 páginas locais da revista.

Ainda traz duas entrevistas. Uma bem curtinha, com a vocalista do Pato Fu, Fernanda Takai e outra mais extensa, com Yacoff Sarkovas. O fundador da Articultura critica as leis de incentivo à cultura do Brasil, que viciam o empresariado com vantagens prejudiciais à autonomia da cultura.

A capa é, na minha opinião, a melhor dentre todas as revistas Fraude. Mantêm as referências múltiplas numa colagem criativa. A diagramação continua pesada, com muitas texturas de fundo em sua maioria desagradáveis. Os pontos altos é a dupla 12-13, da matéria sobre Hermes e Renato, que brinca com a orientação da página. A montagem na saideira da página 38 também é interessante.

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Revista Fraude #1

Fazer revista não é fácil. Criar uma revista, então, é um feito memorável. No início de 2004, os bolsistas do PetCom criaram a revista Fraude. O nome é explicado no editorial: “antes que nos denunciem, a gente estampa na capa. É Fraude mesmo. Aliás, o que não é fraude nesse mundo? É cópia arrotando originalidade. Um monte de gente fazendo o que já foi feito e dizendo que foi o primeiro a fazer“.

A publicação propôs-se ser, além de exercício para sua equipe, ser um espaço alternativo para tratar de cultura. Cultura soteropolitana (ainda incipiente nesse primeiro número) ou mundial (como os MMORPGs).

“O bofe é uma fraude”, escrita pelo professor faconiano Maurício Tavares critica a “cultura do bofe”, prática preconceituosa de valoração do homossexual ativo (que não se dizia homossexual) em relação ao passivo. “A Vida em Jogo” fala dos jogos online de RPG que unem milhares e milhares de jogadores pelo mundo. A matéria de capa, chamada “Caçadores da pauta perdida”, ao traçar um paralelo de TinTim a Tim Lopes, fala dos mitos, problemas e recompensas da prática jornalística. Em “Heróis de Sangue Azul” fala de migrações intermídia, focando na caixa de biscoi… ops, heróis sortidos, de “A Liga Extraordinária”.

A revista ainda traz reportagem sobre auto-publicação de literatura, MPB e séries televisivas. E a sementinha em cima do mousse é uma entrevista com Fábio Massari.

Visualmente, a revista é bem inventiva. Um recurso que eu acho ideal para o jornalismo cultural é a não retangularidade das fotografias. O jornalismo cultural geralmente não está atrelado a questões extremamente factuais e, por isso, os designer devem prezar pela beleza e irreverência das páginas, algo impossível de se fazer com uma revista entupida de quadrados e retângulos.

Algumas páginas merecem destaque. A do editorial com contraste máximo e uma ilustração que liga o índice ao expediente de uma forma sutil, por exemplo. As três páginas da matéria “Literatura de esgoto” utilizam uma sequencialidade vertical, algo incomum. Por outro lado, a matéria sobre MPB é confusa. A inserção de uma publicidade na terceira página quebra a unidade ao ponto de parecer que toda a página é publicidade.

A capa é ótima. Inaugurou a tendência de ter sempre capas referenciais a algum meio ou produto comunicacional. Dessa vez a capa simula um jornal belga – ou francês – que traz manchete e imagem da criação de Hergé.

Em breve postarei os outros quatro números da revista. A partir do terceiro comentarei aspectos produtivos, no papel de redator (#3), designer (#4) e diretor de arte (#5).

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Revista Lupa 4 – lançamento

A revista Lupa lança sua quarta edição na próxima quinta-feira, 28, às 9 hs, no auditório da Faculdade de Comunicação da UFBa, com palestras e uma demonstração da arte do Parkour. Confira! – Na Lupa, o leitor poderá saber mais sobre o universo dos cosplayers, pessoas que se vestem como personagens de desenhos animados, além de poder acompanhar de perto a vida de transformistas soteropolitanos e ficar por dentro do desfile da Daspu, a grife das prostitutas. A comemoração continua a noite, no Bar Balcão Botequim, às 20hs, no Rio Vermelho, numa festa aberta para leitores e colaboradores.

Eu escrevi para essa revista (a matéria sobre transformistas), que é produto laboratorial daqui da faculdade. É a segunda revista produzida na faculdade (a primeira é a Fraude) e tem atualmente um projeto gráfico e direção de arte bem realizados. O primeiro número foi experimental ao extremo, e no mal sentido. Totalmente produzida por alunos (e com problemas na produção, que não vêm ao caso) foi uma revista com textos fracos, reportagens mal-apuradas e uma diagramação de mau gosto. Não havia como ser melhor, porém. A Facom-UFBa tem um problema grave de falta de disciplinas e professores de programação visual, editoração e design. O responsável pela diagramação foi um aluno que, sozinho, enfrentou a tarefa hérculea de 32 páginas em pouquíssimo tempo.

O segundo número foi uma revolução. Simplesmente a revista ficou irreconhecível, e no bom sentido. Com mais tempo e planejamento na disciplina, a professora responsável Graciela Natansohn exigiu que os alunos produzissem várias matérias cada um, e apenas as melhores entraram na edição, que é semestral. Sobre o projeto gráfico, mudou mais drasticamente ainda. Na verdade, o projeto gráfico de fato foi produzido de fato, além de novo logotipo e direção de arte por Alice Vargas, designer que “adotou” a revista, digamos assim.

Apesar de ter formação na Facom (Produção Cultural) e especialização em design, a diretora de arte da Lupa não faz parte do quadro de professores da faculdade. E os alunos que colaboraram na diagramação desse número já tinham algum conhecimento prévio, não adquirido em disciplinas. Os poucos professores com formação em design da Facom estão afastados, por um motivo ou outro. É um indicador triste, que demonstra que os profissionais formados ali sofrem de uma lacuna grave na formação.

Mas não é essa minha reclamaçãozinha aqui nessa postagem que vai mudar alguma coisa. Então falemos do número quatro da revista. Durante dois meses, eu e Carlos Eduardo Oliveira visitamos transformistas e casas de show de Salvador. Conversamos sobre o estado da arte, os problemas enfrentados e os bons momentos. A matéria definitiva traz depoimentos, experiências e fotografias de quatro transformistas. Um ensaio foi realizado por Fabíola Freire e produzido por Wendell Wagner, monitores do Labfoto. A partir do ensaio e de algumas fotografias que tiramos em campo, a matéria de quatro páginas tem uma diagramação impactante. Veja abaixo um vídeo feito por Carlos Eduardo Oliveira durante a realização do ensaio.

Mais:
+ Blog da revista
+ Portifólio e blog de Alice Vargas
+ Faculdade de Comunicação da UFBa

Revista Inversus, n°3

A Inversus é uma revista portuguesa de jornalismo cultural. Na sua página web, que não é das melhores coisas já feitas em flash, podem ser baixados quase todos os números, com a exceção dos dois primeiros.

Trimestral, trouxe no terceiro número (primavera de 2005) um editorial que explicita bem a proposta da publicação. Começa assim: “O outro lado. A outra face de nós e do Mundo. De cada espaço e homem. Da música, cinema e teatro. Da literatura e da pintura. Uma estrada onde se abraça o desconhecido e a liberdade. Uma brecha onde o líquido da vida não se estanca.

Uma das matérias mais interessantes, “reféns da escuridão” fala de duas doenças que fazem com que os doentes sejam privados do sol. A referência, tanto no preconceito, quanto nas lendas, aos vampiros, é inevitável.

Atenção especial também à matéria “matemática sonora“, que trata de Iannis Xenakis, um compositor, arquiteto, engenheiro civil e filósofo, que compôs o que chama de “música arquitetônica”.

A entrevista com Vasco Granja, apresentador e animador português é curiosa e… insólita. Em certo momento diz que “As pessoas que apresentam os desenhos animados não têm qualidade. Não conhecem as peças e limitam-se a apresentar, lendo o que o teleponto lhe diz”. Para quem se diz grande conhecedor, é curioso ler: “Não gosto de fenômenos como o Mangá…“, referindo-se a animações japonesas… Bom, dizer que todos os mangás ou animes são ruins é um direito. Mas declarar-se grande conhecedor e trocar os termos é deprimente.

Perdido na tradução” fala de situações insólitas e outras idiossincrasias da tarefa de tradutor de legendas de filmes. O número ainda traz: pequenos textos sobre o “outro”; crônica sobre lendas urbanas virtuais; o polêmico quadrinista Álvarez Rabo; video-jockeys; Orquestra de Vegetais de Viena e mais conteúdo interessante.

Por último, mas não em último, vale a pena destacar o design da Inversus. A maioria das páginas são bem realizadas. As fotografias nas matérias e reportagens de texto não são predominantes, mas as formas criadas são análogas ao assunto e geralmente são bem-sucedidas. Atenção particular aos números e formas geométricas de “matemática sonora” e as cores e formas de “vegetais no palco“.

Está presente também um recurso que acho ser o ideal para publicações, sobretudo revistas, de jornalismo cultural. A retangularidade da fotografia é posta de lado. Em primeiro lugar, diferencia o design do jornalismo gélido, que ainda tenta vender o mito da objetividade. E, principalmente, integra melhor as fotos à arte da página, com recortes, colagens e fusões. É assim que faço e pretendo continuar fazendo na minha menina-dos-olhos, a Fraude. Mas isso já é outra história e outra postagem…

Mas, quando se trata de fotografia, a revista também não deixa a desejar. A capa e contracapa se completam. Um pequeno ensaio fotográfico, de Inês Fontes Prada, chamado “identidade incessante” merece ser contemplado durante alguns minutos.

Mais:
+ Diretor de Arte, Vírgilio Afonso Beatriz
+ Link direto para baixar o terceiro número aqui