Antirracismo digital na Colômbia: similaridades com o Brasil

A Colômbia é o segundo país com a maior população negra da América do Sul. Em grande parte, os afrocolombianos vivem na região do Pacífico e enfrentam problemas similares aos dos negros brasileiros. Apesar destas similaridades, os epistemicídios engendrados pela supremacia branca no nosso país nos impedem de conhecer e colaborar mais com os vizinhos.

Buscando combater um pouco desta lacuna, o livro Comunidades, Algoritmos e Ativismos Digitais: olhares afrodiaspóricos conta com um capítulo de Nisousha Roshani, especialista no tema.
Roshani realizou pós-doutorado por Harvard e é doutora em Educação pela University College London, além de cofundadora do Black Digital Youth.
No livro, traduzimos trabalho onde ela apresenta parte de resultado de sua pesquisa comparativa entre os dois países: “Discurso de ódio e Ativismo Digital Antirracismo de Jovens Afrodescendentes no Brasil e Colômbia”.

A partir de estudos realizados em colaboração entre o Berkman Klein Center for Internet e Society, o Afro-Latin American Research Institute e o Black Women Disrupt, Roshani mapeou e entrevistou jovens ativistas afrodescendentes do Brasil e Colômbia entre 2016 e 2018. O texto parte de uma retomada dos pontos principais sobre as similaridades entre os discursos racistas no Brasil e na Colômbia. Para a autora,

a exclusão das populações afrodescendentes acarretou em grandes perdas para essas nações. Historicamente excluídos dos níveis públicos e privados, a maioria dos afrodescendentes na América Latina vive em condições de pobreza diretamente refletidas em perdas de renda na região, um grande impedimento para o desenvolvimento social e econômico da região (Zoninsein, 2001). Contudo, a resistência da juventude afrodescendente na Colômbia e no Brasil existe desde a formação de ambas as nações e foi intensificada na era digital.

O texto resgata casos relevantes nos dois países de ativismo e articulação digital como #NoMasSoldadoMicolta e #MariellePresente, elaborando como o ativismo digital da diáspora negra incorpora uma transição “do luto à luta”. Ações da sociedade civil no Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Cali, Costa Pacífica da Colômbia, Quibdó e Cartagena são referenciados, tais como GatoMÍDIA, Voz da Comunidade, Instituto Mídia Étnica, Vale do Dendê, Desabafo Social, BlackRocks, PretaLab, MEJODA, , TIKAL Producciones, Domibdó e Observatorio Distrital Antidiscriminación Racial.

Um dos projetos citados da Colômbia que achei bem interessante é o Andando, um marketplace digital para turismo nas regiões rurais da costa Pacífica da Colômbia.

Andando – ecoturismo comunitário

A pressão de instituições da sociedade civil e afroempreendimentos nas políticas públicas brasileiras e colombianas é o tema de seção particularmente interessante do texto, que faz companhia a considerações sobre reconstrução de identidades, enfrentamento à linguagem racista, promoção de novas narrativas e outras áreas de luta. Em uma das conclusões, Roshani aponta que

Ações digitais antirracismo lideradas por OSCs e ativistas podem ter um impacto mais significativo se forem combinadas com esforços do governo e de indústrias poderosas. Sem intervir no sistema educacional e romper as normas estruturais e culturais subjacentes, seria extremamente desafiador mudar a tendência online.

O clube de leitura da Inspirada na Computação debateu o capítulo, assista em:

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