O sétimo número da Revista Realidade, lançado em outubro de 1966, trouxe uma matéria sobre o palhaço Arrelia. A equipe de arte da revista, sempre primorosa, criou uma das diagramações mais fabulosas que já vi.
Com texto de Roberto Freire e fotos de Lew Parrella, as duas primeiras duplas da matéria são as seguintes. Na primeira dupla o título “Este Homem É Um Palhaço” em fonte grande e pesada é quase uma “afronta” ao homem de meia-idade, austero e numa imagem preto-e-branca com toda a formalidade de um retrato convencional.
Ao passar a página: “Este Palhaço É Um Homem”. Dessa vez a fotografia sangrando vai para a página esquerda e mostra um palhaço em cores vivas.
É a atenção a um recurso que, por falta de conceituação prévia, venho chamando de diagramação sequencial. É a utilização significativa e intencional de uma característica da revista impressa – a organização em brochura com papel de qualidade – no que se refere ao poder de criar sentidos na sequencialidade obtida pelo passar das páginas.
Nesse caso o contraste entre as duas fotografias sangrantes foi primorosa. Ao passar a página, o leitor encontra outro elemento de grande destaque com o mesmo tamanho no plano das duas páginas. Os contornos são parecidos, e o conteúdo básico é o mesmo, um homem. Isto mais o fato de que a materialidade o leitor move – a página que de direita vira esquerda, de frente vira verso -, faz o reconhecimento ser instantâneo. O contraste plástico (textura e cor) e o contraste de objeto (vestimenta e gesto) são potencializados.
E o que aconteceu entre esses dois momentos? A quarta página também usa a sequência, dessa vez dentro de um mesmo plano, para mostrar como aquele homem sério se transmuta em palhaço.
As imagens foram retiradas do livro “O Design Brasileiro: Anos 60”, organizado por Chico Homem de Melo. Já escrevi sobre um dos ensaios deste livro aqui neste blog: Coleção Debates e o Design Moderno no Brasil.
+ Compre o livro O Design Gráfico Brasileiro: Anos 60
+ Leia a matéria na íntegra
De uma olhada nas revistas da COLORS, eles usam muito de Design sequencial.
Oi oi,
Acabei chegando nesse post pelo link que você postou na lista designGráfico.
Esse recurso de composição ao qual você se refere como Diagramação Seqüêncial, apesar de um bom nome, é algo que já foi explorado por alguns autores.
Você já leu o livro EDIÇAO E DESIGN do JAN V WHITE? Ele descreve essa técnica como a maneira de diagramar toda e qualquer revista. Para fazer a diagramação você deve sempre enxergar a narrativa que as páginas contam graficamente, vistas como uma seqüencia. Dê uma olhada que o conteúdo é bem interessante. (Só não lembro se ele batizou essa técnica com algum nome :))
Até mais,
Tássia
O Jan White chama de Desfile, ao menos é isso que a tradução fez. Ele faz referência a um desfile, de fato, e a outras artes para falar de sequência. Até o caminhar por um ambiente arquitetural…
http://www.imagem-papel-e-furia.blogspot.com/2008/06/edio-e-design-de-jan-white.html
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No livro de Richard Hollis – Design Gráfico: Uma História Concisa – é citado um trabalho do El Lissitzky em que ele utiliza este efeito também.
Parabéns pelo blog. Abç
Em minha universidade, o professor Hugo Werner leciona uma disciplina especialmente voltada a produção de trabalhos embasados no que chamamos de “design sequencial”.
As principais referências estéticas apresentadas são algumas edições da revista Colors (Benetton) e o livro S, M, L, Xl (small, Medium, Large, Extra-Large) de Rem Koolhaas
Recentemente, tenho observado a aplicação desse conceito no motion-design. Um bom exemplo, é o trailer do longa de animação “The Illusionist”, observe que cada mudança de cena é pensada para interagir com a última, seja pela forma, composição ou apenas cores: http://www.imdb.com/video/imdb/vi2515338777/