Anualmente acontece o Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação, a Compós, que reúne alguns dos principais pesquisadores acadêmicos na área. Neste ano acontecerá entre 12 e 15 de junho em Juíz de Fora. É um importante momento de articulação de ideias e debates em diversos grupos de trabalho. Apesar de ainda não ter participado presencialmente do evento, aproveito a biblioteca disponível no site da associação, que armazena os artigos apresentados desde o encontro de 2000.
Neste ano, gostaria de destacar e indicar os seguintes trabalhos:
Rastros Digitais: o que eles se tornam quando vistos sob a perspectiva da teoria ator-rede? – Fernanda Bruno
Resumo: Um volume expressivo de rastros de nossas ações são gerados, monitorados e tratados cotidianamente na Internet, constituindo imensos arquivos sobre nossos modos de vida. Estes rastros digitais vêm sendo apropriados por diversos campos: vigilância, publicidade, entretenimento, serviços etc. Mas eles também vêm sendo valiosa fonte de pesquisa em ciências humanas e sociais. O valor desses rastros está atrelado ao conhecimento que possibilitam e há, neste domínio, uma série de embates. Este artigo confronta dois modelos de conhecimento neste domínio, os quais têm implicações diferenciadas para uma política dos rastros digitais. O primeiro, vigente nos aparatos comerciais e policiais, concebe o rastro como evidência atrelada ao indivíduo e/ou a padrões comportamentais. O segundo, objeto maior de nosso interesse e inspirado na teoria ator-rede, entende os rastros como inscrições de ações que permitem descrever a formação de coletivos sociotécnicos.
Sites de vídeos pornográficos amadores: encenação, midiatização e exibicionismo do anonimato – José Carlos Ribeiro e Thais Miranda
Resumo: Este trabalho problematiza algumas questões que cercam o fenômeno das interações efetivadas em sites de vídeos pornográficos amadores. Neste sentido, discute as características associadas à circulação – em “tempo real” – de imagens de sexo explícitas feitas e disponibilizadas por “pessoas comuns”, em especial aquelas relacionadas às práticas sociais que envolvem a privacidade e o anonimato. O site Cam4, dada a sua popularidade e recente crescimento no segmento em questão, é o objeto escolhido para análise. Propomos, neste artigo, que esse ambientes apontam, portanto, para o surgimento de elementos como: encenação das práticas sexuais, midiatização do sexo e exibicionismo do anonimato.
O Algoritmo Curador: o papel do comunicador num cenário de curadoria algoritmica de informação – Elizabeth Saad e Daniela Bertocchi
Resumo: A recente cena das redes digitais tem indicado com ênfase a atividade de curadoria e a própria figura do curador como saída ao problema da abundância informativa em rede. Argumentamos, contudo, que na atualidade a curadoria da informação em ambientes digitais tem se manifestado mais como um procedimento automático algorítmico que propriamente humano. Com base em na revisão da literatura, reiteramos entretanto que o processo curatorial configura-se como uma atividade inerente ao campo da Comunicação. O comunicador tem competências para assumir papéis de seleção, filtragem, agregação e, mais importante, re-mediação de conteúdos para partilha em rede, inclusive com auxílio de algoritmos.
Espaço, Mídia Locativa e Teoria Ator-Rede – André Lemos
Resumo: O social é o que emerge das associações, diz a Teoria Ator-Rede (TAR). As associações entre actantes (aquilo que produz uma ação) humanos e não-humanos são sempre localizadas. A TAR busca analisar como se dão as associações e suas localizações para conhecer o social. Esse tipo de enfoque sobre o social pode ser particularmente interessante para se pensar a espacialização nos processos comunicacionais e, mais ainda, naqueles emergentes com as atuais mídias de geolocalização . Esse artigo se insere em uma pesquisa maior sobre as “mídias locativas” a partir da TAR. Aqui discutimos, particularmente, a noção de espaço.