Pontos, Linhas e Métricas #01: redes sociais

[O texto a seguir faz parte de uma série que pode ser visualizada em “Pontos, Linhas e Métricas: introdução à análise estrutural de redes sociais”]

Redes Sociais

Em primeiro lugar, devemos voltar à velha querela. Por mais que se conteste, brigue ou corrija, o mercado continuará chamando sites como Orkut, Twitter e Facebook de “redes sociais”, apenas. Apesar da contestação sobre a precisão desta definição, é consenso de que a grande maioria destes sites permite a criação e articulação de redes sociais. Voltando, mais uma vez, à já clássica definição de sites de redes sociais, descrevo aqui como danah boyd e Nicole Ellison os caracterizam:

“serviços de web que permitem aos usuários (1) construir um perfil público ou semipúblico dentro de um sistema conectado, (2) articular uma lista de outros usuários com os quais eles compartilham uma conexão e (3) ver e mover-se pela sua lista de conexões e pela dos outros usuários (BOYD e ELLISON, 2008. p.211).”

Nesta definição estão em jogo três pontos essenciais. Em primeiro lugar, nos sites de redes sociais temos uma “apresentação” de nós. O “perfil” em cada site de rede social é voltado a ser uma representação do ator social por trás dele. Por isso, temos a possibilidade de disponibilizar uma ampla quantidade de informações sobre nós mesmos: informações demográficas, preferências culturais, auto-descrições etc.

Em segundo lugar, esta apresentação de nós, que muitos chamariam de nossos “eus virtuais”, pode se conectar à outras páginas – perfis -, que representam outras pessoas com as quais queremos trocar algum tipo de informação ou, simplesmente, marcar que possuímos algum tipo de relação, seja presencial, online, ambas ou só em potencial.

Por fim, o terceiro ponto se refere a esta lista de conexões: na grande maioria dos casos, é possível ver detalhadamente sua lista de conexões/amigos e a dos outros usuários, especialmente aqueles que você já possui uma conexão.

Desse modo, os “sites de redes sociais” podem ser vistos de fato como agregadores de redes sociais na medida em que permite que pessoas reais criem suas representações ali e se conectem a outras pessoas.

mídias sociais, o termo que é até mais utilizado em determinados âmbitos, se refere de modo geral aos ambientes que permitem que a “mídia” – a informação que é lida, manipulada e consumida – seja produzida de forma social. Apesar das críticas a este termo, é uma expressão que permite englobar uma variedade ampla de sites e serviços online que cresceram em número e intensidade de uso nos últimos dez anos.

Gosto sempre de citar um artigo de David Beer (2008), crítica ao trabalho de danah boyd e Nicole Ellison, que faz uma diferenciação entre social network sites e social networking sites. A desinência verbal na segunda definição seria mais próxima do que estamos chamando aqui de sites de redes sociais (social networking sites), enquanto o termo com a palavra “network” como substantivo seria para o que estamos chamando aqui de mídias sociais. Ou seja, sites como Facebook e Orkut mereceriam o termo social networking sites, por enfatizarem o estabelecimento de relações sociais. Já sites como YouTube e Wikipédia, que possuem outros focos, deveriam ser chamados, para Beer, de social network sites pois, apesar de possuírem estrutura de rede, o foco está nos conteúdos ou outras áreas e não nas pessoas em si.

É possível ver o termo “mídias sociais” como uma das principais manifestações da chamada web 2.0, termo em desuso mas que permitiu pensar de modo bem loquaz as transformações do comportamento das pessoas na web.

A web 2.0 seria caracterizada por alguns traços identificados por O’Reilly (2005) e descritos magistralmente por Cobo Romaní e Pardo Kuklinski no livro “Planeta Web 2.0.”. As noções básicas sobre a web 2.0 seriam: a world wide web como plataforma; aproveitamento da inteligência coletiva; gestão da base de dados; fim do ciclo de atualização de softwares; modelos de programação ligeira; softwares não limitados apenas a um dispositivo (ROMANI e KUKLINSKI, 2007). Quando se analisa os sites mais utilizados hoje, como os sites de redes sociais como Facebook e outras mídias sociais como YouTube e Wikipedia, se percebe que todas estas características hoje são praticamente ubíquas.

Como bem explicam Romaní e Kuklinski,

“o termo Web 2.0 é mais um dos conceitos em um cenário de obsolescência terminológica planificada. Porém, a virtude dessa noção, e com certeza o texto fundamental de O’Reilly, é sua capacidade de descrever com precisão e síntese um tipo de tecnologia e seus produtos derivados” (ROMANÍ e KUKLINSKI, 2007, p.15).

Porém, voltando ao principal do que queremos falar, o que se entender por “rede social” é uma:

“estrutura social composta de indivíduos (ou organizações) chamados de “nós”, que são ligados (conectados) por um ou mais tipos de interdependência, como amizade, parentesco, interesse comum, trocas financeiras, aversões, relacionamentos sexuais ou relacionamentos de crença, conhecimento ou prestígio” (PASSMORE, 2011)

Sim, aquela frase  que está em 90% das palestras de mercado sobre mídias sociais (alguma variante de “redes sociais existem desde sempre”) é verdade, apesar de ser pouco lembrada. A representação de uma rede social – que pode ser uma rede de pessoas conversando, uma rede de amigos, uma lista de seguidores de um perfil ou fãs de uma página pode ser das mais simples às mais complexas. Abaixo um exemplo de uma rede hipotética dos “melhores amigos” de Teobaldo, o personagem que vai nos acompanhar nesta série. Apenas nesta minúscula rede abaixo é possível extrair alguns dados, que viram informações relevantes quando se adiciona contexto. Em breve, veremos como fazer isto.

Mas, apesar de existirem desde que o homem existe (ou antes, uma vez que alguns animais apresentam estruturas sociais complexas), as dinâmicas e estruturas de redes sociais nem sempre foram observadas com a merecida atenção.

A internet e a capacidade de processamento computacional vieram dar novo fôlego à essa ciência (análise de redes sociais) nos últimos anos, como explica Recuero:

é o surgimento dessa possibilidade de estudo das interações e conversações através dos rastros deixados na Internet que dá novo fôlego à perspectiva de estudo de redes sociais a partir do início da década de 90. É, neste âmbito, que a rede como metáfora estrutural para a compreensão dos grupos expressos na Internet é utilizada através da perspectiva de rede social (RECUERO, 2009, p.24).

Então vamos, sucintamente, seguir o padrão: redes sociais são redes de pessoas e/ou suas representações, independente de onde sejam; sites de redes sociais são aqueles sites que se focam nas interações entre os nós/perfis e na estrutura de redes; e mídias sociais são ambientes digitais (hoje praticamente todos entre os mais populares) que se baseiam na inteligência coletiva e conteúdo gerado pelo usuário. O clássico “Prisma da Conversação”, do Brian Solis, mostra a diversidade de possibilidades existentes das mídias sociais:

Quando se fala de “análise de mídias sociais”, na verdade pode-se retirar do termo o uso amplo que é feito incluindo gestão e conteúdo. Quando se pensa em análise de mídias sociais, deveríamos estar falando do próprio trabalho de análise. Ou seja, o escopo é enorme e multidisciplinar: análise de performance, netnografia, análise textual, inteligência de mercado, percepção de marcas, monitoramento de mídias sociais, “análise de buzz”… são muitas disciplinas e termos utilizados. Agora vamos então começar a falar da análise estrutural, uma destas disciplinas: afinal de contas, o que é? Veja nos próximos posts da série a definição da área, seus principais elementos e alguns casos clássicos.

Referências Bibliográficas

BEER, D. Social network(ing) sites…revisiting the story so far: A response to danah boyd & Nicole Ellison. Journal of Computer-Mediated Communication, 13 (2), article 8, 2008.

BOYD, D. M;, ELLISON, N. B. Social network sites: Definition, history, and scholarship. Journal of Computer-Mediated Communication, 13(1), article 11, 2008.

O’REILLY, Timothy. What Is Web 2.0: Design Patterns and Business Models for the Next Generation of Software. 2005. Disponível em: http://oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html

PASSMORE, David. Social Network Analysis – Theory and Applications. Online, 2011.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.

ROMANÍ, Cristóbal C.; KUKLINSKI, Hugo P. Planeta Web 2.0: Inteligencia colectiva o medios fast food. México: 2007. Disponível em: <http://www.planetaWeb2.net/>.