O racismo, como elemento pervasivo, se manifesta de formas particulares nos campos do turismo e hospitalidade. Viajantes, pesquisadores e ativistas experienciam e analisaram isto em novas plataformas digitais semi-automatizadas por interfaces e algoritmos como Airbnb, levando empreendedores a criar plataformas de hospedagem e agências de turismo mais seguras.
Durante viagens para outros locais ou países, os viajantes racializados são mais fragilizados, estando sujeitos a atos racistas que dificilmente serão confrontados imediatamente devido ao risco intensificado. Plataformas de reviews online, entretanto, pode(ria)m ser um dos espaços de reação através do relato das experiências negativas.
O artigo Traveling Across Racial Borders: TripAdvisor and the Discursive Stragies Business Use to Deny Racism, entretanto, apresenta resultados assustadores de pesquisa de Heather M. Dalmage da Roosevelt University. Publicado na revista Sociology of Race and Ethnicity, o artigo aplica análise de discurso para entender como os hotéis e restaurantes respondem e negam atitudes racistas especificamente ao receber casais interraciais.
A autora apresenta um histórico sobre os processos de racialização do Outro e como são especialmente intensos em países de maioria branca. Escrevendo do ponto de vista de uma pesquisadora estadunidense, Dalmage revisa as categorias de casais e comunidades inter-, multi- e bi-raciais para, em seguida, adentrar nas particularidades das plataformas digitais. Citando Hughey e Daniels, explica que “raça e racismo persistem online em modos que são tanto novos e específicos na Internet, junto a vestígios de formas seculares que reverberam tanto off quanto online“. Ao analisar a interface da plataforma, guias de como responder a avaliações de hóspedes de consultorias e da própria TripAdvisor, a autora identificou que as recomendações explicitamente invisibilizam a questão, ignorando como lidar com casos de racismo.
O estudo inédito reuniu 233 casos no TripAdvisor, através de buscas por termos como relacionamento interracial. Deste total, apenas 50 foram respondidos e entraram na fase de análise de discurso. A autora identificou que a maior parte seguem um padrão discursivo de negação da raça e do episódio racista, com o objetivo de patologizar os casais avaliadores.
Quatro táticas foram identificadas e são detalhadas na seção seguinte: (a) “Você está errado! Eu não sou racista”; (b) Explicação não ligada à raça; (c) “Nós tratamos todos do mesmo jeito”; (d) “Você entendeu errado e/ou poderia ter evitado a experiência negativa se tivesse agido diferente”. Nas conclusões, a autora explica como, em um mundo racializado e estruturado pela supremacia Branca, as práticas de evasão de debate sobre raça e racismo servem aos ideais neoliberais deste mundo. A análise do discurso é especialmente importante pois “as fronteiras raciais, desenvolvidas através da colonização e capitalismo global e infundidas em identidades, ideologias e instituições agora estão sendo criadas em novos e não tão novos modos online”.
Leia o artigo completo na revista Sociology of Race and Ethnicity.