Idealizar e realizar as edições anteriores da pesquisa “Profissional de Métricas, Monitoramento e Social Analytics no Brasil” em 2011, 2012 e 2013 foi algo extremamente produtivo para minha carreira em monitoramento de mídias sociais. Junto a outras produções como este blog, palestras, aulas e os ebooks, permitiu conhecer melhor o mercado, ferramentas, práticas e demandas, conhecimento muito útil ao atual trabalho como Gerente de Produto da Social Figures / BrandCare.
Isto dito, fica claro que não foi uma decisão fácil passar o comando da pesquisa para outra pessoa (devido a conflito de interesses). Mas foi uma ótima ideia convidar o Júnior Siri a adotar o projeto. Publicitário pela UNIT e atualmente supervisor de Business Intelligence na SapientNitro, Siri melhorou o projeto em praticamente todos os aspectos possíveis. Diversos blogs já fizeram resumos e highlights da pesquisa, como Brainstorm9, Midializado, Camisa Nova, Caio Cidrini e Social Figures. Então vou me abster de resumir os pontos gerais e, logo depois do slideshow incorporado abaixo, vou dar ênfase a algumas questões particularmente interessantes.
Mestres e Doutores ganham mais por causa do título?
Volta e meia, alguns profissionais irresponsáveis dizem que a “academia” estaria atrasada em relação ao “mercado”. Curiosamente, no mercado de mídias sociais, isto é frequentemente dito por alguns profissionais empreendedores que, por um motivo ou outro, não finalizaram sequer a graduação. Apesar de sequer conhecerem minimamente a produção da “academia” (como os excelentes GITS, Labic, Lab404, MediaLab, entre outros), utilizam o discurso do distanciamento como algo legitimador de si mesmos. Na área de social analytics (aqui uso o termo de forma abrangente pra pesquisa e monitoramento), este discurso, finalmente, está caindo por terra. Comparando o dado desta pesquisa com a do Raio-X do Trampos, por exemplo, vemos que a taxa de formação em mestrado e doutorado no mercado de mídias sociais já chega a 2,61% dos profissionais. Mas entre os respondentes da pesquisa de social analytics, esta taxa chega a 8% dos profissionais.
Para além disto, os profissionais com mestrado ou doutorado ganham muito mais do quê os graduados ou especialistas stricto sensu:
Porém, não acredito que se trate da valorização do título acadêmico em si. Em agências de publicidade que trabalhei, nunca perguntaram meus títulos. Mas valorizaram imensamente minhas habilidades analíticas, aprendidas na universidade. Como exemplifica de jeito formidável o discurso na pesquisa do Trampos:
ainda que matérias sobre Mídias Sociais sejam novidade nas escolas e faculdades, o preparo acadêmico mostra-se fundamental para alcançar maiores salários.
Ou seja, existe uma noção errônea de que as práticas da comunicação em mídias sociais sejam algo totalmente disruptivo. Mas a realidade é que as disciplinas, teorias e técnicas comuns nas grades de comunicação, como Psicologia Social, Marketing, Comportamento do Consumidor, Estatística e afins são base sólida para profissionais que conseguem ligar os pontos e usar as lógicas e análises subjacentes a estas disciplinas para entender as affordances e práticas particulares das novas plataformas. Então o ponto é: estes profissionais com mestrado e doutorado estão em crescimento e conseguem melhores salários e cargos por terem aprendido habilidades que fazem a diferença, mas os contratantes em si ainda não despertaram para esta realidade.
Abismo entre Gêneros, Poder de Voz e Síndrome da Impostora
Um dado particularmente preocupante foi a diferença salarial entre homens e mulheres. Um curioso gráfico que o Júnior Siri pôs na pesquisa comparou a predominância destes dois gêneros em cada faixa salaria. O resultado, alarmante, pode ser visto abaixo:
Isto é totalmente relacionado com a discrepância absurda entre número de homens e mulheres palestrantes na área de comunicação digital, como mostrei em outra postagem. Temos um triste ciclo vicioso: mulheres recebem menos pro desigualdade social; conseguem menos cargos relevantes e de gerência; por causa disto têm ainda menos probabilidade de palestrarem em eventos de mercado; jovens profissionais mulheres tem contato com quantidade menor de referências para se identificar completamente. Urge quebrar este ciclo.
Invisibilidade dos Cases de Inteligência e Pesquisa
Um traço componente do valor de informações e análises é a restrição a seu acesso. Transformar dados em informações acionáveis gera valor para as empresas especialmente quando há um diferencial competitivo. Por este e outros motivos, poucos cases de social analytics e inteligência em mídias sociais são conhecidos do público. As referências deste mercado, então, acabam por ser os profissionais que possuem os cases mas também realizam algum esforço de mostrar seus conhecimentos, ainda que apenas de forma instrucional:
Migração de Profissionais
Em relação ao slide anterior, outro ponto relevante é que 8 das 10 referências estão alocadas em São Paulo. Mas apenas 4 são do próprio estado. O restante migrou para o estado em algum momento do início de suas carreiras. As exceções são a professora universitária Raquel Recuero e a Daniele Rodrigues, que está no Rio, mas anteriormente fez sua carreira em São Paulo, depois de migrar do Paraná. Um dos principais motivos (e, também, causador) para tal concentração pode ser visto abaixo:
Ferramentas de Métricas x Disponibilidade de Dados
Quem trabalhou com monitoramento de mídias sociais nos dois últimos anos percebeu um curioso movimento na relação das agências especializadas com as mídias sociais. Ao mesmo tempo em que a atividade dos usuários no Twitter continuou intensa, especialmente em alguns segmentos, ao ponto de entregar mais menções que o Facebook (também por causa das restrições de privacidade), as agências passaram a usar menos e menos o microblog para ações e campanhas. Em 2014, os grandes eventos (Copa e eleições) trouxeram os holofotes de volta ao Twitter. O lançamento do Twitter Analytics, agora com dados de impressões e engajamento mais detalhados, foi logo abraçado pelos analistas:
Parece que o Twitter, finalmente, aprendeu a importância em oferecer métricas relevantes e imediatas para os profissionais de comunicação. Mesmo que as métricas específicas de cada mídia social estejam longe de serem KPIs relevantes por si só para as empresas, são utilizadas como tal ou transformadas em outras informações. Por isto, é importante para as plataformas fomentar a apresentação de resultados pelos profissionais de comunicação, para quê o investimento das marcas e direcionamento de usuários ajude a manter a base.