Entrevista com Ângela Bastos, do Grupo LeYa de Lisboa, Portugal

angela bastos

Cases, conteúdo e ações do mercado português de mídias sociais são, curiosamente, pouco mencionados no Brasil. Acompanho alguns blogs do país europeu e é possível perceber o quanto podemos contribuir uns com os outros, sem barreira de linguagem.

Um destes blogs é o Gestão de Comunidades. Voltado ao público brasileiro, é escrito por autores daqui e de lá. Hoje publico entrevista com uma das autoras, Ângela Bastos, uma profissional de marketing digital, fascinada pelo mundo da tecnologia e das mídias sociais. Atualmente é Digital Marketing Manager no Grupo LeYa, em Lisboa, onde explora áreas desde o SMM, passando pelo SEM e SEA.

Conta um pouco sobre sua trajetória em mídias sociais? Como começou a se interessar pela área, como se formou e o qual o foco do seu trabalho hoje?

O meu interesse por mídias sociais foi, na verdade, uma consequência natural do meu fascínio pela internet e pela forma como ela mudou a nossa forma de comunicar e de aceder à informação. No meu último ano de faculdade, no curso de Gestão, um trabalho académico deu-me oportunidade de explorar as mídias sociais como ferramentas de marketing e foi neste momento que percebi que o meu futuro profissional estaria ligado a este universo.

As formações em Social Media Marketing e Search Engine Marketing (na escola FLAG) foram o primeiro passo. Trabalhar como freelancer foi o segundo: fui copywriter, social media manager, content manager, community manager, e na maioria das vezes, acumulava todas essas funções.

A nível corporativo, continuo a acumular várias funções, inclusive o online e o offline. Nesse aspeto, Portugal continua a investir pouco na contratação de profissionais que se dediquem a apenas uma área.

 

Em quê a popularização de mídias sociais modificou a sociedade portuguesa e seu panorama midiático?

As redes sociais passaram a ser umas das formas mais utilizadas para comunicar, quer seja de um para um, como de um para muitos. 

As redes sociais são uma fonte de informação, um local de discussão, um ponto de encontro. Não é de admirar que as últimas notícias se conheçam nestas plataformas, em vez de nos jornais ou na televisão; que se use mais o chat do Facebook do que o celular; que se convoque uma manifestação contra o governo nas redes sociais, em vez de usar o boca a boca ou cartazes. E isso são apenas alguns exemplos.

 

Quais cases de Portugal você citaria que marcaram o mercado daí?

Não podia falar em cases que marcaram o mercado português, sem falar na marca Ensitel. Um simples conflito entre consumidor e marca originou um buzz de tal forma negativo, que ultrapassou os limites da fanpage da marca e passou para os canais tradicionais (como os jornais, televisão e rádio) e as restantes mídias sociais. Tudo isso, em menos de 24 horas. Este passou a ser o case-study referência de gestão de crises nas redes sociais. (http://www.briefing.pt/opiniao/9020-anatomia-de-uma-crise-o-caso-ensitel.html)

Também a Samsung deu que falar com a sua campanha “Desejos para 2013”. O buzz negativo nasceu com um vídeo em que a bloguer de moda Pepa Xavier diz que o seu desejo para 2013 era ter uma mala Chanel preta. O vídeo podia ter sido bem recebido pelo público, não fosse o desejo consumista da bloguer numa altura em que o país atravessava uma grave crise económica. O vídeo foi retirado do ar e a marca pediu desculpas, o que não evitou o buzz negativo em torno da Samsung e desta campanha nas mídias sociais e nos canais tradicionais. (http://www.tvi24.iol.pt/tecnologia/mala-tvi24-bloguer-samsung-chanel-pepa-xavier/1408713-4069.html)

Outro case muito interessante, mas com menos impacto foi o da campanha da Cacharel. Tudo começou com uma história de amor: um rapaz procurava uma rapariga que tinha conhecido numa manifestação, da qual só sabia o nome e que ela regressaria a Paris no mês seguinte. A história chegou às mídias sociais, onde a comunidade se juntou para encontrar “Diana”. No entanto, esta história não passava de uma campanha de marketing da Cacharel que, após divulgação da campanha, teve de lidar com o feedback de milhares de internautas que se sentiram enganados. (https://www.publico.pt/sociedade/noticia/afinal-a-procura-de-diana-foi-uma-estrategia-publicitaria-1565524)

 

Aqui no Brasil existe um quase monopólio de investimento no Facebook nos últimos anos, deixando outras mídias sociais relativamente abandonadas pelas marcas. Como é o panorama das mídias sociais aí em Portugal?

Em Portugal, o panorama é muito semelhante. A maior parte do investimento em mídias sociais é canalizado para o Facebook. Mas é muito fácil perceber porquê: existem mais usuários ativos nesta rede social. Com recursos limitados e ainda com algum receio de os investir em mídias sociais, as empresas acabam por canalizar os seus esforços para a rede social onde está a maioria do seu público alvo e os seus concorrentes.

Isso não quer dizer que as outras redes sociais estejam ao abandono. Veja o caso da RTP (a estação de televisão portuguesa) e dos seus programas televisivos, que estão presentes no Facebook, Twitter, Instagram, Youtube, etc, e usam as várias ferramentas que estas redes sociais disponibilizam para criar engajamento com o público.

 

Quais outras fontes de informação o brasileiro pode acessar para entender melhor o mercado de Portugal?

Para compreender o mercado de mídias sociais em Portugal, existem várias fontes. Umas são generalistas, como o Meios&Publicidade (http://www.meiosepublicidade.pt), outras de profissionais da área, como Virginia Coutinho, Ana Mendes, Pedro Caramez, entre outros.

Mesmo com crescimento de blogs da área,  as minhas fontes preferidas de informação continuam a ser os grupos de discussão do Facebook (FaceBuzz Group, por exemplo).