Arte & Percepção Visual – Uma Psicologia da Visão Criadora, de Rudolf Arnheim

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Gestalt é uma palavra alemã “intraduzível”, algo como forma ou configuração. A psicologia da Gestalt (não confundir com um ramo da psicoterapia desenvolvido depois) começou a ser estabelecida no início do século XX. Arte e Percepção Visual é a maior obra que aplica os conceitos dessa corrente às obras de arte visuais.

Lançado em 1954 e consistentemente revisado em 1974, o livro de Rudolf Arnheim se mantém ao longo dos anos como bibliografia básica em cursos de artes, design e comunicação visual.

Sem nenhum rigor, poderia dizer que a psicologia da Gestalt (ou psicologia da forma) descobriu que “o todo é maior que a soma das partes”. Ou seja, uma experiência não pode ser definida pela enumeração de suas componentes. A apreensão da realidade é influenciada por algumas leis da mentes humana. Por isso a “visão criadora” do título. Cada pessoa organiza os estímulos que chegam através da visão por meio de leis comuns.

Quatro princípios da psicologia da Gestalt podem ajudar a explicá-los: tendência à estruturação; segregação figura-fundo; pregnância da boa forma; constância perceptiva. Todas se referam a tendência natural para a estabilidade.

Sobre a tendência à estruturação, as formas são agrupadas de acordo com semelhança e proximidade, na forma mais simples. A segregação figura-fundo é “fácil” de entender. Afinal, uma figura só existe inscrita em um fundo. Ou é possível ver um triângulo amarelo no fundo de mesma cor? Um experimento que causa algum desconforto é a clássica figura cálice-rostos.

arte-e-percepcao-visual-fig-42A pregnância da boa forma é uma característica da percepção humana que faz com que uma configuração qualquer seja percebida mais facilmente da forma simples e equilibrada. O exemplo ao lado é salutar? Pq vemos um triângulo e um retângulo, ao invés de uma forma irregular com 10 lados ou três formas diferentes? É a tendência pela “boa forma”. As coisas são “vistas” da maneira mais simples e fácil.

Tamanho, forma e cor tendem a se manter. Por isso, pelos mecanismos de compreensão da constância perceptiva, os seres humanos “ignoram” algumas mudanças puramente visuais, como a aparente mudança de tamanho de um objeto ao mover-se pelo espaço, as condições de iluminação em relação à cor, e a forma, em relação ao ângulo.

A minha descrição não passa de uma “pincelada” sobre o valor destas quase 500 páginas. O livro é dividido em dez capítulos: 1. Equilíbrio; 2. Configuração; 3. Forma; 4. Desenvolvimento; 5. Espaço; 6. Luz; 7. Cor; 8. Movimento; 9. Dinâmica; e 10. Expressão.

Cada capítulo possui de dez a vinte seções, abordando problemas como: Peso; Direção; O que é uma parte?; Projeções; Interação entre o plano e a profundidade; Consequências educacionais; Linha e contorno; Transparência; Sombras; A busca da harmonia; As revelações da velocidade; Experimentos sobre tensão dirigida; Composição dinâmica; Simbolismo na arte; etc etc etc.

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A compreensão da psicologia da Gestalt e a investigação realizada por Arnheim podem ser utilizadas para uma melhor prática do design gráfico, como no design de revistas, por exemplo. Já escrevi aqui sobre diagramação sequencial de revistas, usando como exemplo a revista Realidade #7. A imagem mostra como as leis da simplicidade, associadas à disposição espacial,  fazem com que os desenhos abaixo sejam lidos como um objeto em sucessão temporal.

joseph-brockmann-lpO LP ao lado, design de Josef Muller-Brockmann, por exemplo. Mesmo com essa sobreposição  de cores, simulando camadas transparentes (que está na moda, vejo em todo canto), as formas são compreendidas como círculos.

É claro que a maioria dos conceitos e descobertas da psicologia da forma são praticados naturalmente por todas as pessoas. Afinal, são variações de outras experiências humanas mais comuns e triviais (sem juízo de valor aqui). Mas, antes de serem a formulação de obviedades, a pesquisa, compreensão, discurso e debate contidos neste livro significam o refinamento da própria vida.

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A Imagem, de Jacques Aumont

Jacques Aumont, professor e pesquisador na Universidade de Partis III, lançou “A Imagem” em 1990. Este livro, da coleção Ofício de Arte e Forma da Papirus Editora, discute a questão da imagem em cinco capítulos, tratando: do “olho”; do espectador; do dispositivo; da própria imagem; e de arte.

A Parte do Olho discute questões biológicas, químicas e físicas envolvidas na visão, mas não somente no olho. Qual o caminho que os estímulos visuais percorrem até a mente, por exemplo. Movimento real, movimento aparente e a tal falácia, ainda confusa, sobre a persistência na retina.

A Parte do Espectador trata de questões psicológicas e cognitivas. Primeiro, intenções por trás da produção e visualização das imagens. Em seguida, ilusão representativa. O capítulo é fechado com aproximação com psicanálise.

O terceiro capítulo, A Parte do Dispositivo, é interessantíssimo. Começa com a dimensão espacial do dispositivo, tratando do espaço plástico x espaço do espectador, depois trata da moldura e por fim de enquadramento e ponto de vista. A parte seguinte fala da dimensão temporal, imagem no tempo x tempo na imagem e a imagem temporalizada: imagem fílmica etc. Finalizando o capítulo, compara a impressão com a projeção e questões ideológicas envolvidas no dispositivo.

A Parte da Imagem discorre sobre a imagem “propriamente dita”. Os sub-items tratam de: analogia; representação do espaço; representação do tempo; significação da imagem.

Em A Parte da Arte, três modos de se tomar a imagem. Depois de discutida a questão do realismo no capítulo anterior, a imagem abstrata. Em seguida, expressão e estilo. Por fim, antes de concluir o livro, imagem, arte e aura.

Apesar de ser um livro que pretende abarcar várias questões relacionadas à imagem em cada um dos capítulos, não é raso. E mesmo se não aprofunda o suficiente algum problema de maior interesse do leitor, todo capítulo é fechado com uma bibliografia organizada, dividida por assunto. É um livro que faz diferença para quem trabalhe com ou estude imagem, seja fotográfo, cineasta, designer ou decorador.

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Obvious – um olhar mais demorado…

Obvious é um blog de cultura que cobre artes e letras, arquitectura, tecnologia, design, fotografia, música, humor, motores, cinema, bd/hq, televisão e o indispensável guarda-chuva “outros”. Merece a citação pelo Imagem, Papel e Fúria por dois artigos sobre revistas.

O primeiro deles trata exclusivamente de índices. A postagem traz algum texto e vários exemplos realmente criativos de índices, mas sem os créditos devidos às revistas.


Começam outra postagem com a frase “As revistas são uma das invenções humanas mais extraordinárias.” Corretíssimos e ainda ganharam minha simpatia. Em outra parte do texto, continuam: “Elas representam o expoente máximo da comunicação impressa, um produto elaboradíssimo e sofisticado que funde admiravelmente textos e imagens com grande eficácia e beleza. Mais do que a cultura geral que nos inculcam, sem dúvida essencial à nossa formação, são um veículo de cultura visual de extrema importância.”

Drexter

Drexter é uma revista de arte e cultura com uma seleção de trabalhos particularmente boa, principalmente a fotografia. A imagem acima está no primeiro número, do ensaio fofo “Dreams of Flying”, de Jan Van Holleben. Traz várias entrevistas e reportagens, que não faço a mínima idéia se são boas ou não, porque não leio indonésio.

Horny, de Steven Smith

Horny, de Steven Smith, faz parte da exposição MFA Chair Show, da School of Visual Arts de Nova York. Segundo o autor: “I initially had more prurient, debased ideas for my chair. I rejected the autoerotic approach that utilized a severed cow’s tongue in favor of simplicity, red rubber and leather riding crops. This chair is as nasty as it wants to be and it doesn’t give a damn what you think“. Genial. Visto na revista Parq, que será resenhada em breve.