Odò Pupa e a sociologia vernacular preta

Na última semana tive a oportunidade de assistir, apresentado junto a um trabalho no COPENE, o curta Odò Pupa, Luga de Resistência, da cineasta paraibana Carine Fiúza. O curta vai circular por alguns festivais de cinema, mas está disponível para ver no Futura Play ainda (corram). O documentário foi gravado em Salvador e tem dois personagens, Luís César (20 anos) e Caíque Santana (20 anos), chef e garçom em um bar descolado no Rio Vermelho.

Começa com dados sobre trabalho e estudo e a linha abissal que divide as condições entre brancos e negros em Salvador, que moraram no Calabar/Alto das Pombas.. Falam sobre arte, trabalho e comunicação a partir de uma sociologia vernacular de quem desenvolve sofisticação na compreensão da sociedade na prática, por sobrevivência.

Há um trecho a partir dos 7 minutos onde Luís conta sobre os diferentes papéis sociais (migrante, alvo de policiais, outsider para as facções, trabalhador) que sem ter entrado numa universidade, é tão explicativo quanto um livro de Goffman sobre gerenciamento de impressões.

Sociólogos e linguistas negros avançaram a ideia de “code switching” como um modo de trocar léxico, gírias, comportamento em campos diferentes. Jovens negros aprendem isso na prática, cedo, literalmente para sobreviver. Luís vê e fala sobre isto de forma fantástica.

Aos 10 minutos, Caíque fala sobre a opressão absurda em várias esferas, próximo ao conceito de matriz de dominação da Patrícia Hill Collins. Ele fala da perversidade sem sentido da sociedade, que realmente deveria indignar.

São estes jovens da periferia que poderiam transformar a sociedade e a universidade.

Poderiam se não fossem

invisibilizados
silenciados
negligenciados
roubados
preteridos
mortos

pela mediocridade e epistemologias da ignorância vigentes.

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