Um dos primeiros capítulos que me debrucei na leitura do “Inventive Methods – the happening of the social” foi o “Experiment – the experiment in living” da Noortje Marres, pesquisadora da Goldsmiths (University of London) que escreve sobre o fascinante tema da redistribuição dos métodos das ciências sociais.
O olhar da autora sobre blogs de projetos “sustainable living” é bem interessante, por vê-los como experimentos que tornam explícitas relações e rotinas da vida cotidiana que, de tão naturalizadas, são pouco observadas. Um trecho é especialmente interessante por mostrar como blogs com temas específicos podem realizar certas modalidades de pesquisa, ainda que “não intencionalmente”:
“sustainable living blogs can also be seen to perform network analysis in more-or-less explicit ways, as they maintain blogrolls of other sites and, by linking to them, produce recommendations that search engines and others rely on to rank these sites. By produzing such links, bloggers are thus likely to influence the organization of sustainable living networks on the Web”
Marres exemplifica a questão com rede gerada pelo Issue Crawler (do Digital Methods Initiative), ferramenta que rastreia os links indexados entre as páginas, gerando redes a partir destas conexões.
Isto me fez lembrar de um projeto realizado ano passado, de mapeamento de blogs de determinados segmentos. Redes de blogs de viagens, cosméticos (esmaltes) e temática plus size foram mapeados com uma metodologia de inserção manual de conexões. O foco era observar, especificamente, as redes construídas através de regiões dedicadas de indicação: blogrolls e listas de links que estivessem claramente incorporadas na estrutura central dos blogs. Isto pode ser através das sidebars ou em páginas dedicadas a indicar links. Os resultados para estes três segmentos foram bem interessantes. Abaixo, por exemplo, uma das redes geradas (segmento de plus size).
As listas explícitas de links são espaços privilegiados nas relações entre blogueiros, sendo utilizadas para expressão de apoio, recomendação e afeto. Pouco mais de uma dúzia de links do mesmo segmento, idealmente, são escolhidos pelos blogueiros para serem exibidos em suas páginas. Dessa forma é possível realizar o mapeamento utilizando a metodologia de cascata, mas de modo não-obstrusivo: a partir de cada lista de blogs, encontrar novos e continuar o mapeamento até certo ponto de redundância.
Busquei realizar o mapeamento também na blogosfera específica de profissionais relacionados a mídias sociais. Partindo tanto de blogs de profissionais como Mariana Oliveira e Pedro Rogedo ou de blogs mais editorializados, a técnica da cascata foi empreendida.
Mas logo ficou claro que a quantidade de blogs deste segmento com lista de links, blogroll e afins é mínima! Faça um experimento: abra um blog da área de mídias sociais e tente encontrar uma lista de indicações. Quase não existem mais. Atribuo isto a dois motivos: o primeiro é a simples falta de engajamento com o conceito de blogosfera e troca real entre os escritores; e o segundo é a tendência de mashablização, a tentativa de transformar layout e interface de blogs em portais de conteúdo como o Mashable.
Sou um defensor dos conceitos mais “tradicionais” de blogs e achei bastante irônico a blogosfera de mídias sociais, comunicação digital e afins ter blogs tão auto-centrados.
O que você acha?
Eu acho que mesmo sendo uma proposta legal no início dos blogs, de o título começa a crescer e angariar possibilidade de anunciantes, é comum acabar com essa indicação de blogs do mesmo segmento… fecha-se parcerias com alguns poucos que se indicam e pronto, forma-se uma panelinha. que é mais ou menos como algumas contas de instagram levam a vida… faz sentido?