Revista Kino #6

O sexto número da revista Kino foi lançado. Dessa vez o tema foi bem livre: “seu filmepreferido”. A imagem ao lado é o trabalho de Marcelo Carneiro sobre Mad Max. Para quem não lembra, eu já escrevi sobre a revista e fiz uma entrevista com seu criador, o Renato Loose, para o blog da Lupa. Confira abaixo a entrevista:

Lupa: Como surgiu a idéia da Kino?
Sempre quis ter um projeto em que pudesse divulgar trabalhos autorais e a revista digital caía como uma luva. Conta com a velocidade e o longo alcance de uma informação lançada na rede. De início, não haveria longos textos, apenas a participação de produtores de imagens, porém, ao definir o perfil da Kino, de fato, como revista, achei que caberia bem uma coluna. A Karla é uma grande amiga que já dividiu comigo uma sala de escritório por quase três anos, além de muitas sessões de filmes. Apaixonada pela “telona” e com um potencial incrível para escrever, não poderia deixar de convidá-la. Assim surgiu a primeira coluna da revista, e outras estão por vir.

Lupa: O formato revista parece ter sido uma escolha exata, inclusive demonstrado pela seção “Trailer”. Qual foi a motivação para esse formato?
Fazer com que a Kino se aproximasse ao máximo do formato que conhecemos em publicações impressas. Por isso a divisão em seções e editoriais. Assim, ela já está pronta para o dia em que terá uma versão impressa, eu espero.

Lupa: Por que escolheu cinema como objeto?
Existem várias revistas virtuais e quase todas giram em torno de um formato muito semelhante: a cada edição escolhem um tema aleatório e pessoas enviam trabalhos relacionados. Na busca por sair dessa linha, acabei optando por algo que seria um tema único e ao mesmo tempo multifacetado: o cinema, que, além de tudo, é uma das minhas manias. Os filmes tem um potencial imenso para fazer com que as pessoas criem a partir das impressões que tiveram durante os minutos de exibição, ou até mesmo após isso, refletindo, debatendo. Há tantos tão provocativos que fica até difícil escolher os temas das próximas edições.

Lupa: Como acontece a escolha dos temas e dos convidados de “Trilha Sonora”?
Eu assisto muitos filmes e ouço bastante a opinião de pessoas que “respiram” cinema. Quando lancei o projeto, fiz uma lista dos que teriam grande chance de se transformarem em tema. Não estou seguindo à risca, mas todos que passaram por lá até hoje estavam nessa listagem. Como a Kino é formada em grande parte por colaboradores, houve uma edição em que o público escolheu o tema. Os convidados da Trilha são pessoas cujo trabalho eu acho interessante. Normalmente, o gosto musical acaba coincidindo e a seção fica bonita de ver, ler e ouvir. Alguns são amigos, outros apenas contatos virtuais.

Lupa: Qual teu número preferido?
Na verdade, há dois números que gosto muito. A edição 2 – Janela Indiscreta – e a edição 4 – Volver. Apesar de modelos bem diferentes entre si, não consigo escolher entre elas. Com o filme do Hitchcok, foi ótimo trabalhar num projeto editorial retrô, com o jeito da época em que o filme circulou. Já com o do Almodóvar, a liberdade que o filme proporciona é incrível. Qualquer cor é possível e toda forma é aceitável. Com tanta opção, basta combinar – ou, às vezes, descombinar – os elementos que o resultado final é satisfatório e o processo de criação muito divertido.

Revista Muito: 20 números {parte dois: capas}

As capas da revista Muito foram muito irregulares. Sobre o primeiro número eu comentei em outra postagem sobre como traz a estilista Márcia Ganem, algo meio despropositado. Ela só aparece na revista na matéria sobre o bairro “Santo Antônio Além do Carmo”, falando sobre a compra de imóveis no local em valorização. Entre os pontos mais altos e mais baixos estão as seguintes.
No terceiro número a entrevista com Christian Cravo veio a calhar para a equipe da Muito. O auto retrato do fotógrafo encaixou-se muito bem à estrutura de informação da capa.

O quarto número da Muito foi um dos melhores até agora, qualidade que também se percebeu na capa. Sem a falta de tato do primeiro número ou a obviedade do retrato da zero e da dois, a reportagem sobre a bicicleta como alternativa de transporte não trouxe, surpreendentemente, o retrato de um cicilista vestido e paramentado a caráter. A dupla de abertura da reportagem e os infográficos utilizados também são exemplares, mas isso é tema de outra postagem.

Duas semanas depois, a pior capa. No domingo 11 de maio, dia das mães a revista Muito ficou de corpo, capa e alma um encarte publicitário. Familiazinha sorridente, rica, loura, feliz e abastada como o suposto público da revista.

Se esta não tivesse sido a única Muito dentre as vinte primeiras que não comprei no mesmo dia, teria ido reticente para a banca de revistas. O que poderia esperar quatro dias antes do dia dos namorados? Um casalzinho de classe alta feliz, louro. Ela de vestidinho, cabelo liso – ou chapado, e ele de camisa pólo. Surpreendendo as “expectativas”, a décima Muito foi a primeira a não ter um elemento humano direto (se contarmos o pé da bicicleta da quatro). Docinho aparentemente em formato de coração sobre uma embalagem (?) com as letras da palavra sad – tristeza em inglês.

A capa do oitavo número foi a primeira, e uma das poucas até agora, a se utilizar de arte gráfica. Gosto particulamente desta porque a arte da capa se desdobra na diagramação da matéria, que também utiliza do padrão de cores e das formas. A matéria “A saga de um cafona” pode ser conferida no Issuu.

O “peculiar” cantor e compositor de bossa nova, João Gilberto, foi o centro da capa #15, a mais elegante. Em preto-e-branco, a expressão -olhos semi-cerrados e o sorriso despreocupado – associada a iluminação dão uma sensação de proximidade tão presente.

Dessa vez, o miolo da revista é sobre “paternidade”, devido aos dias dos pais. Primeira capa totalmente ilustração (a capa do oitavo número é edição sobre fotografia), a reportagem do miolo também traz o mesmo tipo de arte.

Crítica de revista em vídeo – Boicovideo

O blog Boicozine acaba de lançar um projeto que eu já tinha – não pus em prática ainda por causa da voz fraca e câmera ruim… São pequenos vídeos em que o locutor Michael Bojkowski apresenta, folheia e critica revistas variadas. O Boicozine é mantido pela Press Publish. Abaixo os dois vídeos que abriram o projeto.


Boicozine #1: Distill Magazine Review from Michael Bojkowski on Vimeo.


Boicozine #2: L’œil / Design / The Architectural Review from Michael Bojkowski on Vimeo.

Reformulação gráfica do Correio da Bahia: Correio*

(texto publicado originalmente em 27-08-08 para o blog da revista Lupa)

E o incensado novo Correio da Bahia foi lançado. Na Faculdade de Comunicação da UFBa, os comentários dos proto-jornalistas eram variações sobre “virou revista”. A qualidade gráfica, que não é nada tão excepcional em termos absolutos, incomum no jornalismo do estado foi o motivo do espanto. Mas nem toda revista é especializada e nem todo jornal é 80% texto e 20% foto p&b borrada, apesar do que faz(ia?) crer o jornalismo impresso baiano.

Seguindo o clima de renovação da reforma editorial (ver matéria de Ana Camila), o Correio da Bahia contratou a empresa de consultoria em mídia Innovation para criar o novo projeto gráfico do jornal. É tendência mundial a substituição do formatão standard por formatos menores como o tablóide ou o berliner que o jornal adotou. Logo na primeira página o maior elemento (mais de 60% da área) é uma fotografia que toma metade do espaço. Dentro desta, “Correio da Bahia” agora é apenas “Correio*”. Apenas uma palavra, e o asterisco do mesmo vermelho do “Bahia” em “O que a Bahia quer saber”, frase que acompanha o logotipo. Asterisco que remete à exclamação do Yahoo! e tantas marcas web com sinais gráficos.

A criação da redação informatizada, as incursões mais vigorosas pelo webjornalismo, e finalmente a reforma editorial e gráfica do jornal são todos decorrência da disseminação do acesso à internet no Brasil. A indústria de informação impressa se encontra em crise e, para manter-se viva acaba tanto por migrar parcialmente de mídia quanto por incorporar técnicas, estéticas e recursos característicos da internet no próprio produto impresso.

Os degradês de laranja sumiram, graças aos deuses. A arquitetura de informação está muito melhor desenvolvida. Acima das chamadas, o número da página vem, em cor vermelha, ao lado do nome da editoria. E nada da redundância de repetir que o número é de “página”. No miolo, o topo de praticamente todas as páginas é composto de pequenas notas de 60 ou 120 palavras em média. Mesmo a seção “Mais” que apresentaria material mais longo e jornalístico – no sentido rigoroso da palavra – mantem as notinhas. A exceção é a editoria “24h”, que abre o jornal com notícias mais quentes e tem uma estrutura mais livre.


A imagem acima mostra apenas duas das dez páginas que apresentam infográficos, entre as sessenta e quatro que totalizam a publicação. Apesar de uma produção longe da qualidade apresentada pela Folha de São Paulo, a equipe de André Renato Malvar, além da retrospectica de 30 anos de Correio*, também representou visualmente bem os pontos de falta de segurança dos campi da UFBa e as contratações do Esporte Clube Bahia.

Jornalismo cultural nulo (faço minhas as palavras de Ana Camila) na publicação, mas informação mais direta. A agenda de cinema apresenta as salas e horários em uma tabela bem mais prática e opta por não poluir a página com informações sobre produção, diretor e elenco pra um público que não está interessado nisso, ao menos não no jornal.

Para mais conteúdo sobre a relação entre internet e jornalismo impresso, ouça o podcast de Fernando Firmino chamado “Tablodização dos jornais diante do impacto da internet”. Firmino é jornalista, doutorando do Poscóm-UFBa e blogueiro do Jornalismo Móvel.

Clique abaixo para ver o anúncio, realizado pela Propeg, que exalta o novo Correio* e sua “diagramação dinâmica e moderna, sem precedentes na história da imprensa brasileira”.