O livro Original Beauty: Black Hair in Cyberspace é uma leitura muito interessante sobre particularidades da comunidade de youtubers negras que falam de cabelo na comunidade anglófila do YouTube. Foi escrito por Ayana A. Haaruun e Melodye L. Watson, lançado em 2013.
Unlike the Afro hairstyle trend of the 1960s and 1970s that was inspired by Black empowerment political and cultural movements, the current resurgence in Black women wearing their natural hair is multidimensional. Black women’s reasons vary from the financial burden of wearing hair extensions to concerns about the impact of damaging hot irons and hair straightening chemicals on their physical health and mental well-being.
É um livro pequeno (comprei no Kindle, mas deve equivaler a cerca de 50 páginas) baseado em estudo de caso de pesquisa feita pelas autoras. Nos dois primeiros capítulos, as autoras tratam do pensamento sobre o cabelo negro e mulheres negras online, citando autoras como bell hooks e seu livro Outlaw Culture: Resisting Representations. hooks escreve como nos anos 1960s e 1970s durante o movimento Black Power nos EUA o uso do cabelo afro esteve relacionado ao sentimento de solidariedade, orgulho e descolonização psicológica. Porém, nas décadas seguintes a tendência se arrefeceu entre negros alcançando mobilidade na hierarquia econômica, um processo de assimilação de noções supremacistas brancas de atratividade.
Os capítulos seguintes tratam do estudo em si e dados levantados. As autoras analisaram 5226 comentários em 11 vídeos diferentes. Apesar de serem vídeos em inglês (dos EUA, Canadá UK e países do Caribe), os comentários vieram de diversos países. Muitos dos comentários trouxeram referências a nações e questões étnicas de países da África, América Latina hispânica, Brasil e Jamaica. O léxico próprio da comunidade sobre cabelo natural negro também é citado, sobre termos de comportamentos e fenômenos específicos como transição capilar, big chop, twa e “hair anniversary’.
Em capítulo dedicado ao Suporte Social construído na comunidade observada, as autoras aplicam uma interessante metodologia de Cutrona e Suhr chamada “Social Support Behavior Codes” (SBCC), que propões códigos para análise de suporte social. O gráfico abaixo demonstra que Elogios e Suporte Social/Emocional lideram entre os comentários.
Em categoria sobre identificação com as youtubers, as conclusões também trouxeram tipologia de comportamentos levantados pelas autoras como: Emulação da Aparência da YouTube; Desejo pelo Estilo de Cabelo; Auto-Identificação com a Aparência; Inspiração para Usar Cabelo Natural; Identificação com a Experiência de Vídeo da youtuber; e Identificação com Celebridades com estilo de beleza similar à youtuber.
O livro conclui com um levantamento, por questionário, com 185 respondentes sobre questões relacionadas a auto-estima, atratividade, senso de comunidade, orgulho e posicionamento político.
A temática é bastante prolífica e as descobertas que são levantadas pelos pesquisadores interessados na temática são bastante promissoras em direção ao uso articulado das mídias sociais para conexão entre populações afro-descendentes e a convergência entre estética, representatividade e visibilidade como atos políticos. No Brasil há também diversos pesquisadores dedicados ao tema, o interessante artigo Vício Cacheado: Estéticas Afro-Diaspóricas é um bom ponto de partida.
— Referências
HAARUN, Ayana; WATSON, Melodye. Original Beauty: Black Hair in Cyberspace. Amazon Publishing, 2013.
hooks, bell. Outlaw Culture: Resisting Representations. New York: Routledge, 1994.
CUTRONA, Carolyn; SUHR, Julie. Controllability of Stressful Events and Satisfaction With Spouse Support Behaviors. Communication Research, vol. 19 ,no. 2, 1992. 154-174
GUEDES, Ivanilde; SILVA, Aline. Vício Cacheado: Estéticas Afro Diaspóricas. Revista da ABPN, v6, n.14, jul.out., 2014.
É bem comum vermos em youtubers brasileiras vídeos com o título “um ano de cabelo natural”. Eu acredito que a reaparição do cabelo natural tem muito a ver com a influência das blogueiras porque celebridades, em geral, ainda utilizam muito o cabelo alisado.