A História da Arte, de Ernst Hans Gombrich (parte 1)


A História da Arte
, de Ernst Hans Gombrich, foi publicado pela primeira vez em 1950. Quase sessenta anos depois, permanece como uma das referências obrigatórias para estudantes, estudiosos, pesquisadores ou “simplesmente  apreciadores de arte.

É um livro monumental em todos os sentidos. São 700 páginas de textos e imagens produzidos por um autor minucioso, que foi professor e pesquisador da Universidade de Londres durante décadas e também é autor de diversos outros livros sobre história da arte, como Arte e Ilusão – um estudo da psicologia da representação pictórica.

Como vocês já podem ter lido na resenha de Arte e Ilusão, acho o estilo de escrita de Gombrich muito empolgantes, beirando a genialidade. Então decidi escrever vários posts sobre a obra, para ser mais minucioso. Na verdade, estou lendo a versão em inglês, The Story of Art, pelo simples e prosaico motivo: uma promoção me permitiu comprar o livro por metade do preço da versão em português. Mas, na medida do possível, tentarei conferir nomes de títulos e termos.

Neste primeiro post, depois dessas primeiras considerações sobre o livro como um todo, vamos a alguns pontos principais do Prefácio e da Introdução:

Prefácio
No prefácio, Gombrich fala sobre algumas regras que impôs a si próprio na produção de A História da Arte que mostram uma postura correta sobre a arte. Buscando produzir um livro que seja um primeiro contato com a história da arte (pintura, escultura e arquitetura, no caso), não concorda com uma linguagem extremamente didática que subestima o leitor e a evita.

Uma das regras “positivas” que Gombrich declara é tomar a arte historicamente não como uma evolução, como se as obras contemporâneas fossem melhores do que as do passado. O autor busca uma análise das obras a partir do que os artistas intencionam. Os objetivos dos artistas estão inscritos em um contexto específico, e buscando determinadas metas. Segundo Gombrich, cada ganho ou progresso em uma direção significa uma perda em outra, e esse progresso é subjetivo.

Esta edição, a décima-sexta, também inclui prefácios da 12ª, 13ª, 14ª e 15ª edições. Gombrich escreve sobre as adições de capítulos sobre arte contemporânea e novas ilustrações, assim como os anexos do livro, que incluem linha-do-tempo, mapas e bibliografia comentada.

Introdução – sobre arte e artistas
“Não existe uma coisa chamada Arte. Só existem artistas.” Gombrich começa a introdução criticando uma noção de Arte com A maíusculo, que é aquele tipo de postura que toma a arte como uma atividade esnobe ou fetiche. Para Gombrich, não existe um jeito errado de se gostar de uma obra de arte. Fazer com que o espectador lembre de alguém ou de algo querido, pela semelhança da representação é algo tão válido quanto outros motivos.

Estas primeiras discussões a seguir podem parecer ultrapassadas para quem lê o IPF, mas dois pontos precisam ser lembrados: A História da Arte é uma introdução; e foi publicado pela primeira vez em 1950. Então, Gombrich diz que não acredita que o “parecer com o real” deve ser o principal modo de valoração da arte. Toda arte, inclusive esta que busca uma semelhança com o real também é convencional. Para provar seu ponto, Gombrich usa dois ótimos exemplos. O primeiro é sobre a representação de cavalos em corrida. Durante séculos, pinturas mostraram os cavalos congelados na ação com quatro patas no ar. Com o desenvolvimento da fotografia, entretanto, provou-se que tal coisa não ocorre na realidade, entretanto durante algum tempo muitros ainda olhavam para pinturas esperando ver os cavalos representados daquele outro modo.

O segundo exemplo que Gombrich se utiliza e que merece a ilustração aqui é  o processo de produção da obra de Caravaggio chamada “São Mateus e o Anjo”. Abaixo, duas versões da mesma obra, ambas de 1602. Feita por encomenda para o altar de uma igreja em Roma, a versão da esquerda foi a primeira realizada. Foi rejeitada pela Igreja, por representar São Mateus de uma forma humanizada. Nesta ação representada abaixo, o santo começa a escrever milagrosamente, guiado por um santo. Nada mais apropriado do que mostrar o homem simples que, tocado pela mão divina, ainda tem dificuldades de postura e manuseio dos objetos de escrita. Entretanto, a Igreja achou que tal representação mundana de Mateus e do anjo não era apropriada e preferiu a versão mais ascética.


Em seguida, Gombrich continua a escrever sobre a arte, comparando os processos pelo qual as pinturas são produzidas a ações do cotidiano, como a “simples” disposição de um arranjo de flores, por exemplo. No fundo, ambas atividades tratam de balancear formas e cores em busca de uma harmonia. Nas duas também é difícil dizer que harmonia é esta, mas, quando é alcançada, sabe-se que a obra está pronta.

Antes de finalizar a introdução reafirmando suas posições contra a Arte esnobe de A maíusculo, Gombrich escreve sobre a busca de regras, leis e métodos na arte. Dá o exemplo da criação de uma pintura de Rafael, mostrando os rascunhos que o pintor produziu para testar a configuração entre os personagens representados e declara que não é um manual que vai conter todos os passos para se produzir uma obra: ninguém nunca para de aprender sobre arte.

– Leia a segunda parte da resenha de A História da Arte

– Acesse o The Gombrich Archive [inglês]
– Artigo sobre Gombrich na Wikipédia
– Artigo sobre Gombrich na Wikipedia [inglês]
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