Design e Comunicação Visual na Bahia: Técnicas de Sinalização, de Sônia Castro

Lançado em 2004, Design e Comunicação Visual na Bahia: Técnicas de Sinalização foi escrito por Sônia Castro, uma das responsáveis pela implantação do primeiro curso de design na Bahia. Na primeira folheda atenta, contudo, a edição da EDUFBA decepciona: impressão ruim e tipografia confusa. A seção de abertura do livro é o basicão de qualquer livro de história do design. Antecedentes, Arts & Crafts, Art Nouveau, União Soviética, Bauhaus etc…

A segunda parte é bem interessante. Mais histórica, digamos assim, fala da indústria gráfica da Bahia nos tempos da colônia, passa pela ditadura militar e chega à década de 90 e novas tecnologias. Chega a listar nomes e pequeno histórico (e alguns trabalhos, às vezes) de dezenas e dezenas de designers baianos. A terceira parte, por fim, trata de sinalização. Para tanto, começa com identidade corporativa, símbolos, história da escrita para chegar a sinalização contemporânea propriamente dita, incluindo especificações técnicas.

É um livro um tanto quanto desarmônico, mas tem seus méritos no segundo e terceiro capítulos, a depender do leitor. Tive sorte porque design na Bahia me interessa, além de nunca ter lido nada específico sobre sinalização. Relativamente barato, vale a pena. Está a venda na Livraria Cultura.

Personal Views

Personal Views é um projeto realizado pela ESAD – Escola Superior de Arte e Design Matosinhos, de Portugal. São, atualmente, nada menos que 45 vídeos de gravações de conferências de grandes nomes do design mundial, entre profissionais, pesquisadores, escritores e estúdios, falando sobre suas definições de design e práticas contemporâneas.

Entre os conferencistas, temos: William Owen, autor de Modern Magazine Design; Neville Brody, primeiro diretor de arte da The Face, e responsável pelo redesign de 2006 da Times; e Rick Poynor, fundador da Eye e co-autor do manifesto First Things First de 2000. E muitos outros em horas e mais horas de vídeos. Totalmente indispensável.

A Função Social do Design: realidades e utopias

O texto a seguir foi postado originalmente no diseñoiberamericano.com. O site “es un proyecto de gestión del conocimiento en diseño cuyo objetivo es el de propiciar la interacción entre las personas de los países iberoamericanos desde una perspectiva amplia y participativa, mediante el lenguaje del diseño, creando espacios para que el conocimiento circule, fomentando la reflexión, el análisis y el impulso a los procesos de creación, formación e innovación.”
Abaixo temos uma tradução, autorizada, feita por mim, do texto da video-conferência oferecida por Norberto Chaves no evento “Diseño em Sociedad” que foi realizado no final do ano passado na Universidade do Valle de Cali, Colômbia. O original pode ser acessado diretamente aqui.

A Função Social do Design: realidades e utopias, por Norberto Chaves

Premissas

1. A frequência com que se apresenta o debate sobre ‘a função social do design” tem feito que esta frase adquira um caráter de verdadeira categoria ideológica da disciplina.
2. O mero formular desta problemática leva ímplicita uma tomada de posição. Quem as formulam, só por fazê-lo, a reivindicam: atribuem de antemão para a discplina uma missão humanitária: a frase contêm, latente, uma afirmativa: “o design tem uma função social”.
3. E a reiteração desta reivindicação leva, também implícita, outra afirmação: o reconhecimento que o Design, na verdade, não cumpre esse compromisso supostamente inerente ao seu próprio conceito.
4. Quando se supera toda tomada de posição a priori acerca desta problemática e a analisa com objetividade, veremos que a resposta não apresenta dificuldade alguma, não implica nenhum desafio intelectual.
5. O interessante da dita insistência não é tanto a resposta que se possa dar ao tema, mas as origens do dilema, seu caráter de uma patologia profissional.

Proposta

Para abordar o tema da “função social do design” resulta indispensável fazer duas declarações de partida:
a) Definir se por “função social” nos referimos à incidência geral do design na sociedade ou se nos referimos a um determinado tipo de incidência: a animada por fins solidários ou humanitários.
b) Definir se, ao abordar este tema, consideraremos o design tal e como se manifesta na sociedade real, ou se tentaremos fazer uma proposta alternativa, ou seja, formular um “dever ser” do design.

1. O design só tem função social
Se nos referimos à função social em sentido amplo e ao design em sua realidade atual, esta prática em todas suas manifestações tem uma indiscutível função social: tudo o que o design produz é dirigido à sociedade e incide poderosamente sobre ela, para o bem em alguns casos e para o mal em outros.

2. O design tem escassa função social
Se continuamos a nos referir ao design como uma prática real e atual, mas por “função social” nos restringimos á sua acepção humanista, temos que reconhecer que esta função só se cumpre marginalmente. O design só pode cumprir uma função humanitária ali onde existam atores socio-econômicos (“clientes”) que assumam um compromisso social real, não cínico.

Estes atores são raros. Ou carecem de fundos (o que é o mesmo). A economia e o mercado neoliberal – contexto real e predominante de la práctica do design – possuem um caráter abertamente antisocial e, por tanto, dificultam aquela função.

Somente um setor muito minoritário de designers conseguirá trabalho no campo efetivamente social e, ainda assim, com remunerações muito baixas, em regimes de voluntariado.

Em uma economia de mercado não se pode falar de “função social” como característica essencial do design. Neste modelo de sociedade a “função social do design” não passa de ser um desideratum, uma pura manifestação de desejos, quando não uma fantasia compensatória de culpa.

A função social, antisocial ou neutra de qualquer profissão não a determina, e sim o sistema social em que se inscreve. Não está implícita na disciplina (que pode tê-la ou não tê-la): a atribui de fora. E não é o designer quem pode realizá-la, e sim o cliente real, o que contrata e paga o serviço e o põe em uso. Só há função social onde o cliente tenha uma missão social.

Em um modelo de sociedade estruturalmente injusta como a vigente, a função social do design e de qualquer profissão está bloqueada pelos interesses prioritários do mercado. Esquecido este “detalhe”, toda referência à “função social” cai em contradição.

3. O design poderia ter uma função social
Se nos mantemos dentro daquela acepção humanista de “função social”; mas, a contrapelo da realidade nos animamos a propor que o design assuma essa função de um modo sistemático, não anedótico, temos que ingressar no terreno da proposta alternativa. Conseqüentemente, devemos assumir o compromisso intelectual e ético de denunciar as razões pelas quais dita função é atualmente marginal e assinalar as condições que teriam de dar-se para que se cumpra plenamente.

Não há dúvida que, para que os designers possam trabalhar séria e continuamente a serviço das necessidades da sociedade, e não do mero mercado, é indispensável que prosperem os projetos política e economicamente transformadores, ou seja: os populares. O designer preocupado com sua função social deve, enquanto sujeito político, apoiar sem reservas todos os movimentos que defendam as causas sociais e não esperar, candidamente, do sistema imperante uma função alheia a sua natureza e objetivos.

Corolário

A apresentação permanente e insistente desta problemática e sua situação de irresoluta não é produto de sua complexidade, mas sintoma de um “mal-estar na cultura do design”, de certa insatisfação do profissional que pretende canalizar seu compromisso social através de uma profissão que resiste a acompanhá-lo.

Essa problemática tarda em resolver-se pois parte de uma contradição: exigir compromisso social a uma profissão solidamente articulada com o mercado e a sociedade de consumo. Se trata de uma contradição própria da classe média: os privilégios de que gozam sobre as classes operárias não os deixam ver – nem querem ver – seu caráter de classe explorada. E o caráter alienado de seu trabalho.

O profissional quer “pôr seu trabalho ao serviço de uma função social” apesar de não poder fazê-lo sozinho. Quer salvar a sociedade através do design sem reconhecer que esta profissão existe graças a um modelo socio-econômico que a configurou como tal. E que
majoritariamente a pôs, direta ou indiretamente, a serviço do mercado de consumo.

Grid Systems in Graphic Design, de Josef Müller-Brockmann

Just as in nature systems of order govern the growth and structure of animate and inanimate matter, so human activity itself has, since the earliest times, been distinguished by the quest for order. Even the most ancient peoples created ornaments with mathematical forms of great beauty. The desire to bring order to the bewildering confusion of appearences reflects a depp human need. Do mesmo jeito que os sistemas naturais de ordem governam o crescimento e a estrutura de matéria animada e inanimada, a atividade humana tem sido, desde tempos primordiais, caracterizada pela busca de ordem. Mesmo os povos ancestrais criaram ornamentos com formas matemáticas de grande beleza. O desejo de trazer ordem à confusão selvagem das aparências reflete uma profunda necessidade humana.
O livro Grid Systems in Graphic Design prega o uso da grelha como princípio básico do projeto de design. Na página 10 do livro, Muller-Brockmann declara “o uso do sistema de grelha implica a intenção de sistematizar, de buscar a clareza, a intenção de penetrar ao essencial, de concentrar, a intenção de cultivar objetividade ao invés de subjetividade, a intenção de racionalizar os processos criativos e técnicos de produção, a intenção de integrar elementos de cor, forma e material, a intenção de alcançar donínio arquitetural sobre
a superfície e o espaço […]”

Grid Systems in Graphic Design foi lançado em 1961. É um grande exemplar do que é chamado de design moderno, pregando a racionalidade nos projetos, a importância da matemática e das relações espaciais entre os elementos de um produto. Foi lançado em português em 1982, esgotado e nunca mais reeditado.

Josef Müller-Brockmann (1914-60) foi um design gráfico e professor suíço. Estudou arquitetura, design e história da arte na Universidade de Zurich. Também é autor de The Graphic Artist and his Design Problems. O cartaz ao lado é um de seus clássicos.

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